Ação do ômega 3 e de antioxidantes sobre a glicemia em cães portadores de diabetes mellitus

Por Pillar Gomide do Valle1, Júlio César Cambraia Veado2

1Professora Dra. Faculdade de Medicina Veterinária Padre Arnaldo Janssen 2Professor Dr. Escola de Veterinária UFMG

ACTION OF OMEGA 3 AND ANTIOXIDANTS ON GLUCOSE IN DOGS WITH DIABETES MELLITUS

Resumo

Observa-se hoje um aumento da incidência de diabetes mellitus, justificado pela maior longevidade dos animais de companhia, do maior número de animais sedentários e obesos e, também, pelo aumento do número de diagnósticos. Para avaliar a contribuição da associação de ômega-3, vitamina E, selenito de sódio, gluconato de cobre, gluconato de zinco, sulfato de condroitina e glucosamina (Gerioox®), 20 cães portadores de diabetes mellitus, com peso de até 10kg, receberam ½ comprimido de Gerioox® de 12 em 12 horas, durante quatro meses. Os animais foram divididos em dois grupos (G1 e G2). O G1 não tinha restrição alimentar e o G2, a partir de T0 foi submetido à dieta industrializada específica para cães diabéticos. As avaliações físicas, o hemograma, bioquímica sérica (albumina, ureia, creatinina e fosfatase alcalina), proteínas glicosiladas (frutosamina e hemoglobina glicosilada), glicose sérica e urinálise foram realizados antes do início do experimento (T0) e após 30 (T1), 90 (T2) e 120 dias (T3). Houve melhora nos valores da glicemia, correlacionados aos valores de frutosamina e de hemoglobina glicada, que permitiu redução das doses diárias de insulina em quatro animais do G1 e cinco do G2. O Gerioox® revelou ser um importante coadjuvante no tratamento da diabetes mellitus de cães, melhorando a condição glicêmica e permitindo a redução da dose de insulina de alguns animais deste estudo.

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Palavras-chave: Ácidos graxos polinsaturados, canino, diabetes.

Abstract

The increase in the incidence of diabetes mellitus occurred due to the greater longevity of small animals, the greater number of sedentary and obese animals and also the increase in the number of diagnoses. To evaluate the contribution of the association of omega-3, vitamin E, sodium selenite, copper gluconate, zinc gluconate, chondroitin sulfate and glucosamine (Gerioox®), 20 dogs with diabetes mellitus, weighing up to 10 kg, received ½ Gerioox® tablet every 12 hours, for four months. The animals were divided into two groups (G1 and G2). The G1 had no dietary restriction and G2, from T0, received a specific industrialized diet for diabetic dogs. Physical evaluation, blood count, serum biochemistry (albumin, urea, creatinine and alkaline phosphatase), glycosylated proteins (fructosamine and glycosylated hemoglobin), serum glucose and urinalysis were performed before the beginning of the experiment (T0) and after 30 (T1), 90 (T2) and 120 days (T3). There was an improvement in blood glucose values, correlated with fructosamine and glycated hemoglobin values, which allowed a reduction in insulin doses in four animals from G1 and five from G2. Gerioox® proved to be an important adjuvant in the treatment of diabetes mellitus in dogs, improving the glycemic condition and allowing a reduction in the insulin dose of some animals in this study.

Keywords: Polyunsaturated fatty acids, canine, diabetes.

Introdução

Diabetes Mellitus (DM) é uma desordem hormonal de caráter crônico comum em cão, caracterizada por concentração sérica aumentada de glicose (HOSKINS, 1999; NELSON, 2004; RUCINSKY, 2010). A maior incidência ocorre em cadelas com mais de sete anos de idade (GUPTILL et al., 2003).  Quase sempre requer tratamento por toda a vida, podendo ser fatal, se não for diagnosticada e tratada adequadamente (NELSON, 2004).

A DM é decorrente de uma deficiência relativa ou absoluta de insulina, tendo como fatores correlacionados a obesidade, sedentarismo e estresse (HOSKINS, 1999; NELSON, 2004). Após o diagnóstico, recomenda-se identificar doenças que possam causar intolerância à glicose, tais como pancreatite, obesidade, hiperadrenocorticismo, infecções, doenças intercorrentes (insuficiência renal, doença cardíaca), hiperlipidemia, amiloidose nas ilhotas pancreáticas, predisposição genética, bem como, condições de diestro e de uso de fármacos como glicocorticoides (ELIE; HOENING, 1995; DUNN, 1998; PÖPPL; GONZÁLEZ, 2005).

Assim que o diagnóstico tenha sido estabelecido, é importante que o tratamento seja instituído o mais rápido possível. Os objetivos do tratamento incluem o controle dos sinais clínicos, a manutenção do apetite e peso corporal, a percepção do proprietário em relação às alterações glicêmicas e o impedimento de complicações associadas à doença, como cetose, hipoglicemia, desenvolvimento de catarata e doença renal crônica (GUPTILL et al., 2003; NELSON, 2004; RUCINSKY, 2010).

A terapia inicial depende de cada tipo de apresentação da DM. A finalidade terapêutica é restabelecer a homeostase normal do metabolismo de proteínas, lipídios e carboidratos. A insulina, em aplicações diárias, é utilizada para o controle desta enfermidade em cães e, atualmente, a insulina NPH (Neutral Protamine Hagedorn) é a forma mais utilizada. O protocolo terapêutico envolve também manejo dietético adequado e exercícios (PLUMB, 2002; FARIA, 2007).

A alimentação de cães diabéticos visa suprir a quantidade necessária de calorias para manter uma condição corpórea adequada, tendo-se em conta que estes animais apresentam deficiência na metabolização de nutrientes absorvidos no trato gastrointestinal e perda de glicose pela urina. Característica importante destas dietas é que devem ser ricas em fibras e proteínas (GUPTILL et al., 2003; NELSON, 2004; RUCINSKY, 2010).

Apesar de muito bem estabelecido o diagnóstico e tratamento, os veterinários têm dificuldade em aumentar a expectativa de vida destes animais. O tempo médio de sobrevivência em cães diabéticos é de aproximadamente três anos, a partir do momento do diagnóstico; embora seja difícil prever, uma vez que os cães acometidos têm, normalmente, 8 anos ou mais de idade, quando diagnosticados. O prognóstico depende da capacidade do animal de responder à insulina, da presença de outras afecções simultâneas, do aparecimento de complicações da diabetes e ainda, da disposição do proprietário em seguir o tratamento (ELIE; HOENING, 1995; NELSON, 2004; RUCINSKY, 2010).

Caterina et al. (2007) observaram, em humanos, que alimentos com ômega-3 (peixes) e leucina (soja e laticínios) ajudam o organismo de pacientes com diabetes tipo 1 a produzir mais insulina. Segundo a autora, esses alimentos conseguem barrar a condição por cerca de dois anos em jovens recém-diagnosticados. Apesar do benefício, esses alimentos não eliminam a necessidade de reposição de insulina por meio de injeções, diminuindo, entretanto, a quantidade do hormônio que é preciso repor; ajudam a controlar a glicose e a prevenir possíveis complicações da doença, aumentando a expectativa de vida.

Segundo a Associação Brasileira de Medicina Complementar, antioxidantes como o ômega 3, zinco e cobre auxiliam no controle da glicemia em pacientes humanos (JÚNIOR, 2011).

Farsi et al. (2014) observaram que a suplementação com ácido graxo ômega-3 em pacientes humanos portadores de diabetes mellitus do tipo 2, melhorou a sensibilidade destes indivíduos à insulina.

O zinco pode modular a transcrição do receptor de insulina por meio das proteínas que se ligam ao zinco. Estudos in vitro apontam que a insulina pode se ligar com o zinco, melhorando a solubilidade deste hormônio nas células beta do pâncreas, e, ainda, pode aumentar a capacidade de ligação da insulina ao seu receptor. Os sítios de ligação dessas proteínas são necessários para ativar a expressão do receptor de insulina, conforme já demonstrado por Araki e cols. (1991).

A associação de Omega 3, cobre, zinco, vitamina E, selênio, glucosamina e sulfato de condroitina (Gerioox®) foi avaliada no controle glicêmico de cães, devido a existência de fortes indícios de que esta associação pudesse interferir na condição do diabetes do paciente, inclusive na dosagem de insulina recomendada, além da possibilidade de melhorar a qualidade e expectativa de vida destes pacientes (GERIOOX®, 2005).

Este trabalho tem como objetivo demonstrar os resultados do efeito da associação de Omega 3, cobre, zinco, vitamina E, selênio, glucosamina e sulfato de condroitina (Gerioox®) em cães portadores de diabetes mellitus, alimentados com e sem dieta específica para a doença, correlacionando este efeito ao estado clínico geral, comportamento da glicemia e interferência com a necessidade de insulina exógena.

Materiais e Métodos

Foram selecionados 20 cães de diferentes raças e sexos, com peso até 10 quilogramas, provenientes de criadouros, abrigos e de proprietários particulares de Belo Horizonte (BH) e Região Metropolitana, portadores de Diabetes Mellitus, com valores de glicose sérica superior a 110mg dl-1, com perfil clínico e laboratorial compatíveis com a doença, submetidos ou não a insulinoterapia. Para admissão nesse experimento realizou-se exames sorológicos (ELISA e RIFI) para descartar presença de animais portadores de leishmaniose. Além disso, todos os animais eram vacinados e desverminados. 

Os animais foram divididos em dois grupos, de forma aleatória, sendo um grupo (G1) com 10 animais, que receberam dieta sem restrição e inespecífica (industrializada para manutenção ou caseira), e o segundo grupo (G2) com 10 animais tratados com dieta industrializada indicada para cães portadores de diabetes . Todos os animais foram tratados para diabetes1, com ou sem aplicações de insulina, de acordo com as necessidades individuais. Para o início do estudo, foram examinados pelos parâmetros clássicos e de medida de frequência cardíaca, respiratória e temperatura retal, e exames laboratoriais: hemograma, glicose, ureia, creatinina, albumina  e fosfatase alcalina séricas, dosagem das proteínas glicosiladas (frutosamina sérica e hemoglobina glicada – Hb A1C) e urinálise. Durante 30 dias, os animais de ambos os grupos, receberam somente a dieta especificada para cada grupo. Após estes 30 dias, foram novamente avaliados e passaram a receber Gerioox®2, na dose de meio comprimido de 12 em 12 horas.

As avaliações foram realizadas antes de iniciado o estudo, após 30, 90 e 120 dias, dividindo-se assim os tempos de estudo em T0 (início), T1 (30 dias de dieta), T2 (60 dias de dieta e 30 dias de Gerioox®) e T3 (120 dias de dieta e 90 dias de Gerioox®). A coleta de sangue foi realizada por venopunção da jugular, após jejum alimentar de 8 horas. O sangue foi acondicionado em tubos à vácuo com e sem EDTA. A coleta da urina foi realizada por cateterismo vesical, respeitando os cuidados de assepsia de coleta e de conservação da amostra. Todos os frascos foram identificados, logo após a sua obtenção das amostras e, imediatamente refrigeradas, até serem enviadas em gelo ao laboratório, no prazo máximo de 12 horas. O exame de Hemoglobina Glicada foi realizado apenas nos animais do G2, visto que não havia interesse em comparar este resultado com os resultados dos animais do G1. Deixa-se claro que o G2 é o grupo cuja conduta de tratamento é a ideal e a recomendada. Todos os exames laboratoriais foram realizados em laboratório veterinário particular3

O exame de glicemia foi realizado a cada 15 dias e em cada tempo estudado, em um único aparelho glicosímetro portátil (Optium Xceed).

Alimentação

Os animais do G1 receberam alimentação variada, de livre escolha dos responsáveis por estes animais, incluindo dietas industrializadas de manutenção e caseiras, e oferecidas ad libitum. Já os animais do G2, foram alimentados com dieta específica para cães diabéticos.  Para os animais do G2, as dietas foram ajustadas no momento de admissão do animal ao estudo, visando o melhor balanceamento energético, estabilidade glicêmica, bem como os melhores teores de minerais, vitaminas e proteínas. A introdução da dieta para o G2 foi realizada de forma gradual e esta transição alimentar ocorreu no período de uma semana.

A quantidade de alimento a ser fornecida aos animais do G2 foi estimada para cães com peso médio de 2 a 10 kg, pelo cálculo de requerimento energético de manutenção, através da seguinte fórmula:

REM = 140 x PV 0.75

REM = Requerimento energético de manutenção

PV = Peso vivo em quilograma

PV 0,75= Peso metabólico

Gerioox®

Trata-se de um composto desenvolvido como suplemento geriátrico, destinado a cães e gatos, com ações imunomoduladoras, antioxidantes e condroprotetoras, que atua melhorando as funções vitais do organismo, pela ação do ômega-3 em associação com antioxidantes, em diferentes órgãos do corpo.

Cada comprimido é composto de: Óleo com alto teor de ácidos graxos ômega-3 (linhaça, peixe, óleo de borragem ou óleo de rosa da primavera) (0,2 ml); D. Glucosamina (0,140g); Sulfato de Condroitina “A” (0,150g); Gluconato de Cobre (0,003g); Gluconato de Zinco (0,20g); Selenito de Sódio (0,005mg); Vitamina E (0,05g); Excipientes q.s.p. 1,800g (GERIOOX®, 2005). 

Resultados e Discussão

Observações clínicas

Conforme relato dos tutores dos cães deste estudo e, de acordo com as observações clínicas, houve expressiva melhora na condição geral dos pacientes, devido a efeito sistêmico determinado pelo uso do Gerioox®. O aumento do apetite foi um sinal comum aos animais do estudo, refletindo em uma maior vitalidade; os animais mostraram-se mais bem dispostos, mais ativos. Ao exame clínico esta melhora pôde ser percebida, devido ao melhor aspecto da pele e pelagem. Pelo fato de que os animais deste estudo apresentavam boas condições corporais, não houve alteração de seus escores corporais no tempo de avaliação.

Todos os animais aceitaram bem a medicação, não havendo sinais de intolerância, quer seja por vômito, diarreia ou outro sinal gastrointestinal. Os tutores não relataram ter tido dificuldade para administrar o medicamento aos animais. A indicação da administração de Gerioox® a cada 12 horas, subdividindo a dose indicada pelo fabricante (um comprimido para animais com até 10 quilos de peso vivo ao dia) deveu-se ao fato de que, a subdivisão da dose diária, deveria favorecer as possíveis oscilações de glicose que poderiam ocorrer ao longo do dia, além de acompanhar os horários de alimentação e de aplicação de insulina.

Glicose sérica e Proteínas Glicosiladas

A medida da concentração sérica da glicose, bem como a avaliação das proteínas glicosiladas: frutosamina sérica e hemoglobina glicada (Hb A1c), são capazes de determinar a concentração sérica de açúcar e as concentrações glicêmicas de um período recente ou mais tardio.  A frutosamina sérica, constituída por uma glicosilação de proteínas séricas de sobrevida curta, como a albumina, reflete alterações recentes, de duas a três semanas, na concentração sérica de glicose (REUSCH et al., 1993; LOSTE; MARCA, 2000). Por outro lado, a hemoglobina glicada, com meia vida de cerca de até 120 dias, reflete quantidade proporcional à concentração de glicose e ao tempo de exposição da proteína à glicose. Por este fato, o percentual de hemoglobina glicada na circulação, demonstra a gravidade do estado glicêmico de um período longo, de 4 a 12 semanas (SACKS, 2003).

Concentrações das proteínas glicosiladas, que se situam dentro dos limites de referência, indicam controle diabético que vai de bom a excelente, enquanto concentrações discretamente aumentadas indicam controle razoável a bom e concentrações muito altas indicam controle glicêmico ruim. Os valores de referência de frutosamina em cães ficam entre 170 a 340 μmol l-1, enquanto os de glicohemoglobina entre 2,3 a 6,4% (REUSCH et al., 1993).

As concentrações séricas de glicose do G1 apresentaram um comportamento de redução ao longo do tempo estudado (Tabela 1 e 2).  A diferença principal entre os grupos está relacionada à dieta, condição importante para permitir uma concentração estável de açúcar no sangue, como pode ser visto no G2. Além disso, observa-se uma maior redução das concentrações séricas de glicose no G2, quando comparada ao G1, atribuída a dieta mais adequada e controlada para a doença neste grupo. A dieta, bem como o Gerioox®, imprimem um comportamento regular aos valores de glicose no G2.  Esta redução expressiva da glicose sérica entre T0 e T1 em G2 (35%) exigiu, a partir de T1, redução da dose de insulina em cinco dos dez animais estudados, fazendo com que houvesse uma diminuição menos expressiva entre T1 e T3 (12%) neste grupo, quando comparado ao G1.

Houve redução nos valores de frutosaminas séricas em todos os animais de ambos os grupos em todos os tempos, chegando a representar, na média dos grupos, uma redução de 12% no G1 (Tabela 1) e 30% no G2 (Tabela 2). Por se tratar de um marcador que representa uma condição anterior, seu comportamento difere do da glicose sérica, que oscila de acordo com as alterações do momento. Percebe-se, em relação à frutosamina sérica, uma redução constante, com cerca de 10% de redução em cada tempo em G2. A pouca redução dos valores de glicose, bem como a oscilação dos valores de frutosamina dos animais do G1, foram atribuídas as necessidades de redução das doses de insulina em cerca de 5 animais do grupo, em virtude da melhora apresentada com o tratamento. Este manejo da dose de insulina prejudicou e, dificultou a estabilidade dos valores dos resultados encontrados. Deve-se ressaltar que, mesmo que os valores mostrem-se elevados e com diminuição pouco expressiva, houve a grande vantagem de poder permitir diminuição das doses de insulina em muitos animais. Os valores de frutosaminas séricas demonstraram tendência à normalização para o intervalo de referência, em todos os animais de ambos os grupos, passando, na média do grupo de animais do G1, de 316 μmol  L-1 no T0, para 281 μmol L-1 no T3 e no G2 de 407 μmol  L-1  para 288 μmol  L-1  (Tabelas 1 e 2).

Tabela 1. Média, desvio padrão (DP) e coeficiente de variação (CV) de valores de glicose sérica (mg dL-1) e frutosamina sérica (μmol L-1), de cães portadores de diabetes mellitus, submetidos a dieta sem restrições escolhida pelo tutor, e Gerioox® na dose de meio comprimido de 12 em 12 horas, em diferentes tempos.

Tempo 0 – Início, Tempo 1 – após 30 dias de dieta, Tempo 2 – após 60 dias de dieta e 30 dias de GERIOOX®, Tempo 3 – após 120 dias de dieta e 90 dias de GERIOOX®.

Tabela 2. Média, desvio padrão (DP) e coeficiente de variação (CV) de valores de glicose sérica (mg dL-1) e frutosamina sérica (μmol L-1), de cães portadores de diabetes mellitus, submetidos a dieta industrializada específica para cães diabéticos e Gerioox® na dose de ½ comprimido de 12 em 12 horas, em diferentes tempos.

Tempo 0 – Início, Tempo 1 – após 30 dias de dieta, Tempo 2 – após 60 dias de dieta e 30 dias de GERIOOX®, Tempo 3 – após 120 dias de dieta e 90 dias de GERIOOX®

A hemoglobina glicada foi avaliada no grupo G2, havendo redução de seu percentual entre o T0 e T3 de 35%, passando de 10,4% para 6,7% (Tabela 2). Entre T0 e T1, somente com efeito da dieta, já se percebe uma redução importante (de 10,4% para 8,7%), chegando a 16% de redução na média do grupo. Entretanto, quando se observa o efeito da dieta somado ao Gerioox® e ao tempo (T1 a T3 – 120 dias de dieta e 90 dias de Gerioox®), o resultado de hemoglobina glicada passa de 8,7 % para 6,7%, representando uma redução de 23%, indicando que a associação de Gerioox® e do tempo, proporcionou um melhor controle da glicemia dos animais estudados (Tabela 2).

Em virtude de ter ocorrido redução de valores tanto da glicose sérica, da frutosamina sérica, de ambos os grupos e, também da hemoglobina glicada, observado no G2, foi proposto redução da dose de insulina administrada em quatro animais do G1 e cinco do G2.

Um dos animais do G2 apresentou em T0, 183mg/dl de glicose sérica, 443mmol/l de frutosamina sérica e 9,40% hemoglobina glicada.  Nesse animal o tratamento com insulina foi suspenso, sendo instituído apenas dieta e Gerioox®. Houve uma redução de 59% dos valores de glicose sérica, 37% de frutosamina sérica e 55% de hemoglobina glicada. Neste caso, pode-se observar que o desajuste dietético causava forte influência no descontrole glicêmico deste animal.

 

Hemograma e Bioquímica sérica

Alterações laboratoriais, comumente encontrados em cães e gatos diabéticos, são aumento de leucócitos e aumento de fosfatase alcalina (FA). O comportamento da FA nos animais estudados, tanto em G1 e G2, revela uma variação significativa de seus valores de animal para animal, sendo que um dos animais teve valores de cerca de 60U L -1 e outro de 2686 U L-1. Acredita-se que neste último animal ocorreu algum descontrole de glândula adrenal que, associado à diabetes mellitus, tenha alterado os valores de fosfatase alcalina desta forma expressiva. Não houve, durante o período estudado a autorização, nem a possibilidade da realização de outros exames e tratamento deste animal em específico, não sendo possível assim, confirmar esta suspeita. Um dos animais do estudo apresentou, no momento da última análise, um aumento importante de leucócitos, não tendo sido atribuído este aumento, a condição de diabetes mellitus. Na média dos grupos houve diminuição dos valores de leucócitos em sete animais do G1 e seis animais do G2. Embora tenha ocorrido esta redução, todos os animais, exceto o relatado acima, apresentavam a contagem de leucócitos dentro da faixa de normalidade para a espécie.

Os demais parâmetros analisados, hemograma, ureia, creatinina e albumina séricas e urinálise, não apresentaram alterações digna de nota. Nenhum dos animais apresentou aumento de ureia e/ou creatinina, compatível com sinais de injúria renal aguda ou doença renal crônica.

Conclusões

O período de 90 dias de estudos da associação, pareceu ter sido suficiente para avaliar os efeitos benéficos de Gerioox® e da dieta especial, em cães portadores de diabetes mellitus.

A dieta específica industrializada empregada na pesquisa, contribuiu para homogeneizar o grupo de animais estudados, diminuindo concentrações de alguns compostos, cujos excessos são indesejados, manter o escore corporal e o status nutricional, diminuindo a possibilidade de flutuações glicêmicas. Na comparação entre grupos, percebe-se que a dieta influenciou positivamente, apresentando melhores resultados no grupo de animais que receberam dieta industrializada específica para animais diabéticos.

A associação de dieta industrializada específica para cães diabéticos e Gerioox® revelou ser capaz de reduzir a glicemia, melhorando os valores de glicose sérica, frutosamina e hemoglobina glicada, permitindo, inclusive, redução da dose de insulina em alguns animais.

Ressalta-se aqui, entretanto, que os ajustes de dose de insulina, realizados ao longo do estudo, prejudicaram o entendimento da real redução dos valores de glicose, frutosamina e hemoglobina glicada, acarretando uma falsa sensação de resultados que mostraram valores elevados e com diminuição pouco expressiva.

A associação de ômega-3, vitamina E, selenito de sódio, gluconato de cobre, gluconato de zinco, sulfato de condroitina e glucosamina revelou ser um importante coadjuvante no tratamento da diabetes mellitus em cães.

As avaliações realizadas neste ensaio são as mesmas que qualquer clínico veterinário pode solicitar, e aquelas que se espera que modifiquem durante o período avaliado.

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Júlio César Cambraia Veado

Graduado em Medicina Veterinária pela Universidade Federal de Minas Gerais em 1984, possui mestrado pela mesma universidade e doutorado em Science de La Vie e de La Santé (Ciência da Vida e da Saúde), realizado na Universidade de Paris XII, em 1997. Atualmente é Professor Associado IV da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais. Atua principalmente nos seguintes temas: Nefrologia, hemodiálise, nutrição parenteral e enteral. Hoje faz parte do Conselho Fiscal do Colégio Brasileiro de Nefrologia e Urologia Veterinárias (CBNUV), mas já presidiu a associação em sua fundação.

Pillar Gomide do Valle

Doutora em Ciência Animal (Clínica e Cirurgia Veterinárias) na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mestre em Ciência Animal (Clínica e Cirurgia Veterinárias) pela UFMG. Especialização em Clínica Médica e Cirurgia de Felinos pela Universidade Paulista - Qualittas. Graduada em Medicina Veterinária pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Experiência na área de Medicina Veterinária, com ênfase em cardiologia, nefrologia e clínica geral de pequenos animais. Sócia Gestora da Clinica Veterinária Animatria. Coordenadora da Pós Graduação Especialização em Clínica Médica e Cirúrgica de Cães e Gatos da Faculdade Arnaldo e professora dos módulos de farmacologia e metodologia do trabalho científico. Membro integrante do Núcleo Docente Estruturante (NDE) e da Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) da Faculdade Arnaldo. Professora de Farmacologia, Clínica e Terapêutica de Cães e Gatos e Diagnóstico por Imagem da Faculdade Arnaldo. Professora de Diagnóstico por Imagem, Clínica de Cães e Gatos e Práticas Veterinárias de Pequenos Animais do Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH).

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