Exame radiográfico: Princípios de Interpretação

Por Eduardo Casonatto

Quais os possíveis diagnósticos radiográficos divididos por região anatômica do animal?

Exame radiográfico: Princípios de Interpretação

O exame radiográfico é uma das ferramentas mais acessíveis ao médico veterinário. Fornece informações valiosas para o diagnóstico e o acompanhamento das principais afecções que acometem os animais de companhia. A eficácia do exame depende da calibração do equipamento, quer seja CR (radiologia computadorizada) ou DR ( radiologia digital direta), do perfeito posicionamento do paciente e da experiência do profissional que analisa as imagens.

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Ao solicitar o exame radiográfico, o clínico deve informar a suspeita clínica, delegando ao radiologista a escolha do melhor posicionamento.

Para a realização de alguns estudos, como crânio, coluna cervical e pelve, sedação ou anestesia são necessárias para garantir a qualidade técnica das radiografias. Pacientes com dor, agressivos ou não cooperativos também podem requerer contenção farmacológica.

Durante a realização do exame, os contendores (tutores ou membros da equipe médica) deverão estar paramentados com acessórios de proteção plumbíferos, pois estarão expostos à radiação ionizante. O paciente, por sua vez, deverá receber a menor dose de radiação possível. Portanto, pelo princípio da justificação médica, serão realizadas apenas radiografias necessárias para a confirmação da suspeita clínica.

Estudos radiográficos do sistema musculoesquelético conseguem demonstrar de maneira objetiva condições traumáticas como fraturas e luxações, doença articular degenerativa e malformações, tanto no esqueleto axial quanto no apendicular.

O processo de cicatrização das fraturas, bem como suas possíveis complicações, pode ser acompanhado com estudos seriados. Ruptura ligamentar pode ser sugerida quando ocorre avulsão de ossos acessórios ou esquírolas, bem como subluxação ou luxação da articulação sob estudo.

Dentre as malformações passíveis de diagnóstico radiográfico, podemos destacar hidrocefalia, displasia do occipital, hemivértebra, vértebras em bloco, vértebra de transição, displasia de cotovelo, displasia coxofemoral e luxação congênita de patela.

Protrusão ou extrusão do disco intervertebral pode ser diagnosticada através de radiografia, mas tomografia computadorizada ou ressonância magnética são necessárias para detalhamento lesional e planejamento cirúrgico. Não é possível diferenciar radiograficamente neoplasia óssea de osteomielite (métodos histopatológicos são utilizados para tal finalidade), mas a evolução de ambas as condições pode ser acompanhada através de estudos seriados.

A radiografia do sistema cardiorrespiratório possibilita o diagnóstico e o acompanhamento de diversas patologias, dentre as quais podemos destacar: colapso traqueal, pneumonia, edema pulmonar cardiogênico, contusão e hemorragia pulmonar, efusãopleural e pneumotórax.

Alterações do padrão pulmonar podem ocorrer de forma rápida, como na pneumonia e no edema, mas também de maneira lenta, como na bronquite crônica e na fibrose intersticial.

A presença de formações nodulares em imagens radiográficas dos pulmões pode estar associada a granulomatose eosinofílica, pneumonia fúngica ou metástase; nesse caso, exames laboratoriais como lavado traqueobrônquico, por exemplo, podem ajudar no diagnóstico diferencial.

Quando ocorre ruptura do diafragma, vísceras abdominais são visibilizadas na cavidade torácica, promovendo desvio mediastinal e atelectasia pulmonar.

A avaliação radiográfica do sistema digestório pode demonstrar presença de corpos estranhos radiopacos, dilatação esofágica (megaesôfago), dilatação e torção gástricas, obstrução intestinal e obstipação.

Estudos contrastados como esofagograma ou trânsito gastrointestinal podem ser necessários para evidenciar megaesôfago segmentar, íleo obstrutivo ou corpos estranhos não radiopacos.

No tocante ao sistema geniturinário, o exame radiográfico é particularmente útil para a demonstração de urólitos radiopacos, nefromegalia, prostatomegalia e fetos. Aumento uterino pode ser evidenciado, mas a ultrassonografia é o método de escolha para a avaliação dos órgãos reprodutivos femininos. O exame contrastado (urografia excretora ou uretrocistografia) pode ser necessário para o diagnóstico de ruptura ou obstrução das vias urinárias.

Relativamente ao sistema hematopoiético, alteração do tamanho hepático (hepatomegalia ou microhepatia), esplenomegalia e linfonodomegalia podem ser demonstradas.

Condições outras como processos herniários (paracostal, inguinal e perineal), enfisema subcutâneo, calcificação de tecidos moles, ascite, peritonite e pneumoperitônio são também diagnosticadas radiograficamente.

Em suma, o exame radiográfico é um método diagnóstico acessível, rápido e determinante para o êxito do tratamento.

Torção gástrica - Projeção LD - Foto: Arquivo pessoal
Ruptura ligamento cruzado cranial - Poodle - Foto: Arquivo pessoal
Osteodistrofia juvenil-Felino Foto: Arquivo pessoal
Nefrolitiase e litiase vesical-Bichon frise - Foto: Arquivo Pessoal
Metástase pulmonar-canina-SRD-tórax-LD - Foto: Arquivo Pessoal
Megaesofago - Canino - Foto: Arquivo Pessoal
Hidrocefalia-Shih tzu-M-2 meses - Foto: Arquivo Pessoal
Hernia diafragmatica-Felino - Foto: Arquivo pessoal
Gestação Pug - Foto: Arquivo pessoal
Fecaloma-Bull terrier-6 anos - Foto: Arquivo Pessoal
Efusão pleural-Felino - Foto: Arquivo Pessoal
Displasia do occipital - Foto: Arquivo pessoal
Displasia coxofemoral grave-Pastor alemão Foto: Arquivo Pessoal
Corpo estranho - Pug - Foto: Arquivo Pessoal
Cardiomegalia generalizada-ICCE-Canino - Foto: Arquivo pessoal
Broncopneumonia-Canino-11 anos - Foto: Arquivo pessoal

Eduardo Casonatto

Graduado pela Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da UNESP com Residência em Clínica Médica de Pequenos Animais, no Hospital Veterinário Governador Laudo Natel – UNESP, atua com radiologia desde 1997, com mais de noventa mil exames realizados, tanto na modalidade presencial quanto à distância (telerradiologia). Credenciado pela Sociedade Brasileira de Cães Pastores Alemães (SBCPA) para laudo de displasia coxofemoral e de cotovelos.

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