Novas Abordagens para Controle de Ectoparasitas

Por Dra. Laura Carolina Barbosa

Novas Abordagens para Controle de Ectoparasitas

A indicação do produto correto é de suma importância para prevenção e controle. Veja as diferenças entre eles.

A puliciose e a ixodidiose são problemas na saúde de cães e gatos e o seu controle apresenta um desafio e ônus econômico para os tutores e médicos veterinários.

A puliciose ou pulíase é causada pela pulga e a Ctenocephalides ssp. é a de maior importância médico-veterinária; dentre as espécies do parasita a Ctenocephalides felis felis é a mais comum, com prevalência superior a 92% em cães e 97% em gatos. As pulgas parasitam animais em praticamente todas as áreas do planeta Terra com exceções a altitudes superiores a 1.500 metros e umidades extremamente baixas como em desertos. Seu ciclo de vida, envolvendo ovo, larva, pupa, casulo e adulto se completa entre 3-4 semanas.  Além das perdas sanguíneas e das lesões de pele, as pulgas também são hospedeiros intermediários da tênia Dypilidium caninum e podem ser vetores de vários agentes infecciosos como Rickettsia typhi (Rickettsia mooseri), Rickettsia felis e Bartonella henselae.

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A Ixididiose é o nome dado à infestação por carrapatos,e sua maior prevalência é na espécie canina. A ocorrência das espécies de carrapatos varia nas diferentes localidades e são decorrente das características  epidemiológicas  particulares de cada região. No Brasil os carrapatos mais comuns são da espécie Rhipicephalus sanguineus  e  Amblyomma ssp. O ciclo de vida do carrapato possui 4 estágios evolutivos: ovo, larva, ninfa e adulto, nas espécies citadas todas as fases de vida livre realizam-se no ambiente. Os carrapatos podem causar morbidade por irritação direta de sua picada – o que ocasiona uma hipersensibilidade – ou podem atuar como vetores para várias doenças bacterianas, virais, rickettsiais ou protozoárias.

Atualmente uma ampla variedade de ectoparasiticidas e formas de apresentações estão disponíveis no mercado e o médico veterinário é o profissional qualificado para explicar a inter-relação hospedeiro-parasita e indicar o controle mais apropriado para cada caso. Portanto, é de extrema importância que os médicos veterinários se familiarizem com as novidades desse mercado e incentivem a educação do cliente pela sua equipe.

Agentes antiparasitários
-Inibidores da Colinesterase: dois grupos de inibidores estão disponíveis, os carbamatos e organofosforados. Essas substâncias agem inibindo a acetilcolinesterase. A ligação dos organofosforados à acetilcolinesterase é mais persistente, se não permanente, enquanto a interação com os carbamatos é reversível. Os carbamatos e organofosforados já foram as principais substâncias usadas para o controle de insetos, porém com o surgimento de produtos mais seguros, seu uso em animais de estimação vem diminuindo, principalmente pelo fato de que seu uso continuado pode levar a toxicidade. Atualmente são usados principalmente para o controle ambiental. Dentre os carbamatos estão o carbaril e o propoxur e entre os organofosforados clorofenvinfós, clorpirinfós, coumafós, diazinom, diclorvós, fentiom, fosmete, foxim e triclorfom. As principais apresentações dos inibidores de colinesterase são coleiras, sprays, pós e shampoos.

– Fenilpirazois: pertencem a esse grupo o fipronil e piriprol. Estes compostos possuem atividade contra pulgas, carrapatos, ácaros e piolhos. O fipronil (Fiprolex, Effipro e Front Line) é o composto mais conhecido. Sua ação é lipofílica e acumula-se nas glândulas sebáceas, sendo eliminada de forma lenta e recobrindo toda pele e pêlo do animal. Possui pouca solubilidade em água o que prolonga seu efeito residual em cães e gatos. O fipronil não possui ação repelente, porém seu efeito é tópico, ou seja o parasita não precisa picar o animal  para entrar em contato com o ativo. As principais apresentações do fipronil são spray e spot on.

– Reguladores do crescimento dos artrópodes: são divididos em dois grupos: os análogos do hormônio juvenil e os inibidores da síntese de quitina.

Os representantes dos análogos do hormônio juvenil são Metopreno, Fenoxicarb e Piriproxifeno. O hormônio juvenil controla os estágios iniciais do metabolismo,morfogênese e reprodução dos insetos. A maturação final e a formação da pupa e da larva da pulga só são possíveis na presença apropriada ou na ausência do hormônio juvenil, para aquele estágio do crescimento da larva. Quando esses compostos são aplicados nas larvas da pulga ou em seu ambiente, as larvas são impedidas de completar a metamorfose. Esses compostos também têm atividade ovocida ou embriocida contra ovos de pulgas quando aplicados topicamente em cães. Os análogos do hormônio juvenil não atuam diretamente sobre a pulga adulta, porém a absorção do composto pela pulga afeta a viabilidade do desenvolvimento de seus óvulos. Os análogos do hormônio juvenil possuem ação contra uma gama de insetos, incluindo larvas de mosquitos.

Os inibidores da formação de quitina, como o próprio nome diz, inibem a formação da quitina que é um componente importante para a formação do exoesqueleto dos insetos.  Os artrópodes afetados são incapazes de produzir a ecdise e morrem por desidratação. O luferunon (Program) é seu principal representante, é administrado via oral em cães e gatos, portanto as pulgas que se alimentam de animais tratados são impedidas de produzirem ovos ou larvas viáveis.

Os análogos do hormônio juvenil e inibidores da formação da quitina afetam muitas espécies de insetos que sofrem metamorfose completa, porém possuem pouca ou nenhuma atividade contra carrapatos ou ácaros que sofrem metamorfose incompleta.

– Neonicotinóides: três compostos desta categoria estão disponíveis para uso veterinário, são eles o dinotefurano, imidaclopride e nitenpirame. O imidaclopride (Advantage) é aplicado como um produto tópico específico e é usado principalmente para controlar pulgas em cães e gatos, também possui atividade contra piolhos. Sua atividade residual é potente, porém é facilmente solúvel em água. Deve ser utilizado a cada 3-4 semanas. As apresentações disponíveis estão sob a forma de pipeta, com o imidaclopride isoladamente; associação com a permetrina (Advantage Max 3), indicado apenas para cães e para o controle de pulgas, carrapatos, piolhos e mosquitos; associação com moxidectina (Advocate), para tratamento de pulgas, piolhos, ácaros, vermes intestinais e dilofilariose e sob a forma de coleira associado a flumetrina (Seresto) que atuam contra pulga, carrapato, piolho e mosquito.

Nitenpiram (Capstar) é administrado via oral e age principalmente contra pulgas em cães e gatos. É absorvido rapidamente, com concentrações sanguíneas máximas atingidas em 1 a 2 horas. A morte das pulgas se inicia dentro de 20 a 30 minutos após a administração, com 100% de mortalidade dentro de 3 a 4 horas. O composto é rapidamente eliminado, com mais de 90% excretado na urina dentro de 24 horas em cães e 72 horas em gatos.

O dinotefurano é uma formulação tópica para cães e gatos. A formulação para gatos é combinada com o regulador de crescimento de artrópodes (Vectra gatos) e é usada principalmente para controlar pulgas. A formulação para cães além do regulador de crescimento dos artrópodes contém permetrina (Vectra 3D) e é usada para controle de pulgas, carrapatos e mosquitos.

– Piretrinas e piretroides: são sintéticos derivados do piretrum, uma mescla de alcalóides do crisântemo. São moléculas lipofílicas rapidamente absorvidas e que possuem baixo efeito residual sobre o animal. Embora o início de atividade seja rápida, sem exposição suficiente, os insetos paralisados também podem se recuperar rapidamente. Algumas substâncias são usadas para potencializar os efeitos das piretrinas e piretroides são elas: butóxido de piperonil e N-octil biciclohepteno dicarboximida.

Os piretroides são classificados como tipo I (piretrina I, aletrina, tetrametrina, permetrina, resmetrina e fenotrina) sendo utilizados como inseticidas, em ambientes domésticos sob a forma de spray e tipo II (cipermetrina, deltametrina, cifenotrina, fenvalerato, flumetrina e cialotrina) que são indicados como ectoparasitas para uso animal. Essa distinção é importante, pois em caso de exposição tóxica, os sintomas observados entre os dois grupos diferem devido aos diferentes mecanismos de ação.

– Lactulonas macrocíclicas: três lactonas macrocíclicas são usadas para o controle de parasitas internos e externos em cães e gatos, são elas a selamectina e aprinomectina, que são avermectinas semissintéticas e moxidectina uma milbemicina semissintética. São aplicadas topicamente, rapidamente absorvidas pela pele e distribuídas pelo sangue. As lactulonas macrocíclicas têm atividade contra uma variedade de parasitas internos e externos.

A Selamectina (Revolution) atua na prevenção contra a dilifilariose e pulgas (ação adulticida e em ovos), Sarcoptes scabiei, Otodectes cynotis, Ancylostoma tubaeforme, Toxocara cati e Toxocara canis. Após sua aplicação a selamectina é encontrada nas glândulas sebáceas, folículo piloso e camada basal do epitélio.

– Isoxazolinas: é uma nova classe de compostos que possuem atividades inseticidas e acaricidas potentes. Fazem parte dessa classe o afoxolaner, fluralaner, lotilaner e sarolaner. Esses compostos foram os primeiros produtos contra pulgas e carrapatos orais.

Afoxolaner (Nexgard) deve ser administrado via oral com uma periodicidade mensal e se mostrou bastante efetivo contra ectoparasitas em cães. Estudos mostram a sua efetividade, contra pulgas, carrapatos e ácaros. O fabricante do produto indica uso com cautela em animais com históricos de convulsão.

Fluralaner (Bravecto) é indicado para controle de pulgas, carrapatos e ácaros, existem duas formas de apresentação desse composto: via oral e transepidermica. Seu efeito antiparasitário é de até 12 semanas. Alguns autores observaram que pode haver uma diminuição da efetividade do fluralaner no decorrer dos dias após a administração, dessa forma relatam que as isoxazolinas de uso mensal sejam de eficiência superior quando comparadas com as isoxazolinas de longa duração.

Lotilaner (Credeli) é indicado no controle de pulgas e carrapatos, sob a forma de comprimido, embora não exista indicação acaricida na bula, há trabalhos que relatam sucesso desse composto no tratamento de demodicidose. Dentre as isoxazolinas é considerada a de ação mais rápida e a de menor toxicidade. Ele deve ser administrado mensalmente em cães a partir de 1,3kg de peso e dois meses de idade. Deve ser administrado logo após a alimentação para favorecer a melhor absorção do composto.

O Sarolaner (Simparic) possui administração sob a forma de comprimido e deve ser feito mensalmente no animal. É a única isoxazolina que possui indicação em bula no Brasil, além da ação contra pulgas e carrapatos, também contra enfermidades como escabiose, demodicidose e otocaríase canina. Uma vantagem é que pode ser usada a partir de 1,3kg de peso corpóreo.

– Spinosad: (Confortis) são oriundos de isolamento a partir de culturas de espécies de Actinomicetos como Saccharopolypora spinosa. O spinosad é uma mistura das espinosinas A e D e tem sido utilizada como comprimidos palatáveis para cães. As espinosinas são mais eficientes como inseticidas, embora possuam um pequeno efeito acaricida. O espinosad tem um efeito contra ectoparasitas que tem início 30 minutos após a ingestão e pode proteger o animal até 30 dias contra novas infestações.

Na prática

Atualmente temos vários tipos de produtos para controle de ectoparasitas, são eles spot on, comprimidos, sprays, shampoos e coleiras. A indicação do produto correto deve levar em conta o histórico individual de cada animal, assim como o ambiente e estilo de vida do mesmo. Temos que ter em mente que a eficácia de compostos específicos pode variar em relação às espécies-alvo e a resistência a inseticidas pode se desenvolver em locais específicos, especialmente com o uso incorreto, prolongado ou repetido dos compostos.

Os produtos devem ser avaliados com base na sua velocidade de ação imediata e efeito residual. Um composto com início rápido de ação, associado a um bom efeito residual é extremamente importante, por exemplo, no controle da dermatite a picada de ectoparasitas ou para reduzir as chances de o carrapato transmitir um patógeno.

A maioria dos parasiticidas modernos fornece um controle efetivo contra a maioria dos parasitas, sendo eles pulga, carrapato ou ácaros, porém isso não anula a importância da compreensão do ciclo de vida dos parasitas, juntamente com o modo de ação de cada molécula. Frequentemente, as falhas delegadas ao produto são resultado de reinfestação maciça do ambiente e uso incorreto do produto.

A conscientização do tutor sobre o ciclo de vida do parasita, manejo ambiental e medidas preventivas para evitar reinfestação são pontos fundamentais para o sucesso de qualquer tratamento.

Referências

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MACHADO, M.A.; CAMPOS, D.R.; LOPES, N.L.; BASTOS, I.P.B.; BOTELHO, C.B.;  CORREIA, T.R. ET al. Efficacy of ofloxolaner in the tratament of otodectic mange in naturally infested cats. Veterinary Parasitology, v.256, n.30, p. 29-31, 2018.

MARUYAMA, S. Pulíase. In: LARSSON, C.E; LUCAS, R. Tratado de Medicina Interna: dermatologia veterinária.2.ed . São Caetano do Sul: Interbooks, 2020. cap.30, p. 481-494.

SIX, R.H.; LIEBENBERG, J.; HONSBERGER, N.A.; MAHABIR, S.P. Comparative speed of kill of sarolaner (Simparica™) and fluralaner (Bravecto™) against induced infestation of Ctenocephalides felis on dogs. Parasites e Vectors, v.9, n.92, p.2-7, 2016. 

SNYDER, D.E.; MEYER, J.; ZIMMERMMAN, AG.; QIAO, M.;GISSENDANNER, S.J.; CRUTHER, L.R. et al. Preliminary studies on the effectivenes of the novel pulide, spinosad, for the tratment and controlo f fleas on dogs. Veterinary Parasitology, v.150, p. 345-351, 2007.

Wold Small Animal Veterinary Association WoldCongress Proceedings, 2006, California. Proceeding [New Approaches to commum canine ectoparasites]. California: University of California, 2006.

Laura Carolina Barbosa

Formada pela UENP (Universidade Estadual do Norte do Paraná), em 2010. Atua desde então na área de clínica médica de pequenos animais. Possui mestrado na Unesp, campus Botucatu (2013-2015) na área de afecções clínicas de pequenos animais com ênfase em dermatologia. Desde 2015 atende como dermatóloga volante em São Paulo, Campinas e região.