Ozonioterapia como tratamento integrativo para ferida de difícil cicatrização em felinos: relato de caso

Por: Andressa Araujo de Vasconcelos

RESUMO

O uso da ozonioterapia consiste na utilização de um gás chamado ozônio, resultante da quebra de moléculas de oxigênio através de geradores de ozônio medicinal, é um gás altamente oxidante, que ativa reações oxidantes no organismo. Na medicina veterinária pode ser utilizado de diversas formas tendo como benefícios ação bactericida, fungicida, viricida, formação de novos vasos diminuindo a inflamação tecidual. Uma de suas principais utilização é em fechamento de feridas abertas e contaminadas acelerando a cicatrização, sendo a ozonioterapia uma terapia vantajosa e de baixo custo que atua melhorando a qualidade de vida dos animais.

Palavras Chaves: Ozonioterapia, cicatrização, ozônio, feridas.
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1 INTRODUÇÃO

Em 1840, o gás ozônio foi descoberto pelo pesquisador alemão Dr. Christian Friedrich Schoenbein, que observou um odor característico quando o oxigênio era submetido a uma descarga elétrica. E, pela frequência sistemática com que isto ocorria,

o chamou de “ozein”, que em grego significa “aquilo que cheira”. Entre 1914 e 1918 o físico Dr. Werner Von Siemens desenvolveu o Gerador de Alta Frequência, aparelho que forma o gás ozônio em átomos de oxigênio por meio de descargas elétricas. Durante a 1ª Guerra Mundial, médicos alemães e ingleses utilizaram o ozônio para tratamento de feridas em soldados, conforme já publicado na revista THE LANCET, nos anos 1916 e 1917.

Desde o século XIX, a Ozonioterapia médica era usada na Alemanha, inicialmente para combater a ação de bactérias e germes na pele humana. Em 1935 Erwin Payr, importante cirurgião austríaco e professor em Leipzig, experienciou o tratamento com ozônio por seu dentista, e apresentou uma publicação de 290 páginas intitulada “O tratamento com ozônio na cirurgia”. Este foi o início da Ozonioterapia que conhecemos hoje. A ausência de materiais adequados e resistentes à oxidação – como plásticos para aplicação local de ozônio em feridas, ou insuflação retal do gás – tornava sua utilização complicada, razão pela qual foi esquecida durante um tempo. 

Em 1975 no Brasil, o médico Heinz Konrad iniciou a prática em sua clínica em São Paulo, e com ela trabalha até hoje. Em meados dos anos 90, Dr. Edison de Cezar Philippi (in memorian) introduziu a prática em Santa Catarina e difundiu a Ozonioterapia em inúmeros cursos e congressos. Em 1979 Hans H. Wolff dedicou sua vida à pesquisa e à aplicação do ozônio. Em 1979, um ano antes de sua morte, publicou seu livro “O Ozônio Medicinal” – no qual apresenta sua pesquisa e prática médica do uso do ozônio. Ele fundou a Sociedade Médica Alemã de Ozônio, posteriormente renomeada Sociedade Médica para Aplicação Preventiva e Terapêutica do Ozônio (SILVA; et al 2018).

O gás é formado a partir da quebra de moléculas de oxigênio, porém nem todas vão formar o ozônio, esse é um gás oxidante, que estimula um sistema antioxidante no organismo. (SILVA; et al 2018.) Possui diversas ações, como fungicida, bactericida, viricida, além de oxidante, também pode ser utilizado para melhorar oxigenação tecidual, para estimulação do sistema imune dentre outras funções (GONÇALVES.,et al 2020). Foi primeiramente utilizado para o tratamento de água, limpeza de alimento pelo seu alto potencial germicida, mas só a partir de 1950 que teve sua aplicabilidade medicinal. Para utilização medicinal ele é obtido através de um gerador, o qual é conectado a um cilindro de oxigênio, através de descargas elétricas os gases são misturados, sua6 8 concentração pode ser alterada de acordo com a aplicabilidade desejada (PENIDO,LIMA,FERREIRA, 2010) . Apesar de suas diversas formas de aplicação e estudos comprando sua efetividade, muito se coloca em prova ainda quando há tratamentos efetivos com uso de ozonioterapia. Na medicina veterinária já foram comprovados diversos benefícios, como em tratamento de infecções bacterianas, tratamento de feridas abertas com difícil cicatrização, como no caso de felinos com leucemia viral felina (felv) positivo, esses animais possuem a cicatrização mais lenta (GONÇALVES.,et al 2020), ( SILVA, 2017)

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 RELATO DE CASO

Durante os meses de maio a dezembro de 2021 foram atendidos felinos, macho e fêmea, sem raça definida, de aproximadamente 3 anos de idade,  em clínica particular em Santarém no Oeste do Estado do Pará, apresentando feridas de difícil cicatrização. Todos os animais atendidos já haviam passado por tratamento com antibiótico e anti-inflamatório realizado por outros profissionais da medicina veterinária na qual não obteve êxito na realização da cicatrização de feridas. 

Realizou-se então o planejamento de sessões de ozonioterapia para os felinos acometidos na qual estabelecia a utilização do gás ozônio 2 vezes na semana com aplicação da técnica de baggin conforme observado na figura 1, e utilização de água bidestilada ozonizada para limpeza e higienização da ferida seguida de aplicação de óleo ozonizado diariamente.

No dia 6 de maio foi realizado a primeira sessão de ozonioterapia nos pacientes, foi utilizado a técnica de baggin observado na figura 1, essa técnica foi escolhida pelo tamanho e localização da lesão, tendo assim melhor acesso a ferida. O animal era então envolto em sacola resistente ao gás ozônio e umedecida a lesão com água bidestilada ozonizada com objetivo de maior penetração do gás ozônio na ferida, era certificado também que a sacola estivesse isolada o suficiente para que o gás ozônio não escapasse da mesma evitando assim inalações acidentais.

Figura 1: Técnica de Baggin (Fonte: Arquivo pessoal 2021)

O animal permanecia cerca de 30 minutos dentro da sacola sendo 15 minutos com aparelho gerador de ozônio ligado e 15 minutos com aparelho desligado. Após a técnica de baggin foi realizado curativo e aplicação de óleo ozonizado para potencializar o efeito do tratamento, tendo também como objetivo ação cicatrizante e repelente da ferida. Em casa foi realizado curativo com soro fisiológico e aplicação de óleo ozonizado uma vez ao dia pra auxiliar no efeito antimicrobiano e cicatrizante do ozônio.

No dia 8 de maio foi realizada a segunda sessão de ozonioterapia na qual já se observava melhora no aspecto da ferida e sinais de cicatrização com ausência e secreção purulenta, houve também diminuição do edema e inflamação da região, a ferida estava mais seca continuaram-se então as sessões de baggin e aplicação de óleo ozonizado diariamente.

Entre os dias 11 e 21 de maio foram alternadas as sessões de baggin e cupping de ozônio, sendo observado que não era mais necessário mais sessões, pois o processo de cicatrização já estava quase completo, os pacientes responderam bem ao tratamento continuando apenas com curativos diários de óleo ozonizado uma vez ao dia até completa cicatrização. O processo de cicatrização das feridas durou em torno de 15 a 30 dias entre os pacientes.

No tratamento das feridas foram utilizadas também a técnica de cupping que consiste na utilização de um copo de vidro que resiste ao ozônio no qual é colocado em cima da lesão para posterior liberação do gás ozônio no local da ferida conforme demonstrado na figura 2. A utilização do óleo ozonizado figura 3, todos os dias na ferida, no qual é um óleo natural que transporta o ozônio, sendo obtida através de borbulhamento do gás, eficaz em casos de feridas de difícil cicatrização, queimaduras, úlceras, habronemose e pitiose em equinos.

Figura 2: Técnica de Cupping.

A evolução do tratamento ocorreu de forma satisfatória conforme demonstra as figuras 4, 5, 6 e 7..

Figura 3: Óleo Ozonizado
Figura 4: Evolução tratamento do felino submetido à terapia com ozônio em ferida cirúrgica. Fonte: Arquivo pessoal 2021.
Fígura 5: Evolução Tratamento de felino submetido a terapia com ozônio em ferida infeciosa decorrente de ataque de um canino. Fonte: Arquivo pessoal 2022.
Figura 6: Evolução tratamento de felino em ferida infecciosa com a terapia de ozônio. Fonte: Arquivo pessoal 2021.
Figura 7: Evolução Tratamento de felino em ferida traumática utilizando a terapia com ozônio.

2.2 DISCUSSÃO

A ozonioterapia como tratamento para cicatrização de feridas vem sendo muito utilizada na rotina de médicos veterinários, tendo seu primeiro relato de uso medicinal na primeira guerra mundial quando WOLF utilizou o gás para tratar soldados feridos na guerra (PENIDO, 2010), (HADDAD, 2006).

Quando em contato com a pele o gás ozônio aumenta a produção de ATP e também o transporte de oxigênio promovendo então maior produção de citocinas e interleucinas e a atividade das plaquetas, aumentando os fatores de crescimento celular, tendo como objetivo a reparação tecidual. (MARQUES; CAMPBELL, 2017).

Para que ocorra a cicatrização é necessário também que ocorra a neovascularização que é a formação de novos vasos tendo como objetivo diminuir o tempo de cicatrização, efeito esse que é demonstrado no relato de caso com a utilização do gás ozônio para cicatrização de feridas, além de possuir poder antimicrobiano agindo na célula da bactéria quebrando sua parede celular resultando na morte do microrganismo (Wascente, 2019).

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A utilização da ozonioterapia na medicina veterinária tem se tornado cada vez mais frequente em associação com outras técnicas integrativas  como laser, acupuntura e células tronco tem oferecido melhora na qualidade de vida dos pacientes.

A ozonioterapia é um método que não apresenta custo elevado e que auxilia na cicatrização de feridas contaminadas, aumentando o transporte de oxigênio nas lesões e consequentemente cicatrização de feridas resistentes a terapia convencional.

5. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

DE PAULA NASCENTE, Eduardo et al. Potencial antimicrobiano do ozônio: aplicações e perspectivas em medicina veterinária. PUBVET, v. 13, p. 130, 2019. KLOS, Tainá Bittencourt; COLDEBELLA, Felipe; JANDREY, Fabiana Covatti. Fisioterapia e reabilitação animal na medicina veterinária. PUBVET, v. 14, p. 148, 2020.

FREITAS, A.I.A. Eficiência da Ozonioterapia como protocolo de tratamento alternativo das diversas enfermidades na Medicina Veterinária (Revisão de literatura). PUBVET, Londrina, V. 5, N. 30, Ed. 177, Art. 1194, 2011. 

GONÇALVES, Jéssica Oliveira Santos; DE OLIVEIRA PAIVA, Priscila; DE OLIVEIRA, Lyana Brasil Gomes. Uso da ozonioterapia como auxiliar no tratamento de cão portador de leishmaniose: relato de caso. Pubvet, v. 14, p. 128, 2019. 

MARQUES, Kassyano César Souza. Terapia com ozônio e laser de baixa potência 13na cicatrização de segunda intenção de ferida cutânea em equinos. Trabalho de conclusão de curso de graduação – Universidade de Brasília/Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, 2015.

PENIDO, Bruno Rocha; DE AGUIAR LIMA, Camila; FERREIRA, Luiz Fernando Lucas. Aplicações da ozonioterapia na clínica veterinária. PUBVET, v. 4, p. Art. 974-979, 2010.

SILVA, Thais Cristina da; SHIOSI, Reinaldo Kazuiti; RAINERI NETO, Roque. Ozonioterapia: um tratamento clínico em ascensão na medicina veterinária revisão de literatura. R. cient. eletr. Med. Vet., 2018.

Andressa Araujo Vasconcelos

Bacharelado em Medicina Veterinária - Universidade da Amazônia UNAMA. CRMV/PA Nº05196. Cursando Ciências Agrárias Bacharelado Interdisciplinar- Produção Animal- Universidade Federal do Oeste do Pará; Atua em Santarém-PA, em clínicas parceiras e com atendimento em domicílio. Técnico em Radiologia Médica e diagnóstico por Imagem- Conselho Regional 14º Região CRTR Nº 05654T.

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