Moxabustão: recurso milenar em prol da reabilitação animal

Moxabustão: recurso milenar em prol da reabilitação animal

Por Arthur Paes Barretto, médico-veterinário acupunturista (CRMV-SP 6871)

Conheça mais sobre essa renomada técnica


Paciente canino em sessão de acupuntura. Além da aplicação de agulha seca, também optou-se pela utilização da moxabustão com o thermie – https://youtu.be/bV4msUElkzA. Na medicina veterinária também é comum o uso do thermie. Basicamente, trata-se de um aplicador de moxabustão que possui revestimento de metal no qual o bastão é inserido. Ele permite a transferência térmica sem contato direto do paciente com a brasa. É uma técnica mais segura do que a moxabustão suspensa – Crédito: Arthur Paes Barretto / Integrativa Vet Brasil

Quando se fala em medicina chinesa, a acupuntura é a técnica mais popular no ocidente. Porém, essa medicina milenar também inclui a fitoterapia, a moxabustão, a massagem e práticas de meditação como o Qi Gong e o Tai Chi Chuan 1,2.

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Após 25 anos de pesquisas em renomadas instituições do mundo, a OMS publicou o documento Acupuncture: Review and analysis of reports on controlled clinical trials, no qual expõe os resultados destas pesquisas. Neste documento foi analisada a eficácia da acupuntura – assim como das técnicas de moxabustão, ventosa, sangria, eletro-acupuntura, laser-acupuntura, magneto-acupuntura, massagem shiatsu/tuina e acupressura (pressão digital nos pontos) – em comparação com o tratamento convencional para 147 doenças, sintomas e condições de saúde 3.

Segundo a Federação Mundial de Sociedades de Acupuntura e Moxabustão (WFAS), mais especificamente em seu manual de Manipulações padronizadas de moxabustão: “Moxabustão é uma terapia que trata e previne doenças utilizando principalmente lã de moxa. A combustão da lã de moxa permite a transmissão de calor para os pontos de acupuntura e outras partes do corpo com várias mudanças patológicas. É uma terapia externa para o tratamento e/ou a prevenção de doenças e para promover a saúde do corpo” 4.

A moxabustão baseia-se nos mesmos princípios e conhecimentos dos canais energéticos utilizados na acupuntura, os meridianos. Trata-se de técnica milenar que faz parte da medicina chinesa. No Brasil, é comum que a prática da moxabustão seja vista de forma preconceituosa em função do odor característico proveniente da sua queima, que tem como base a Artemisia vulgaris 5.  Em 2009, Goldstein já alertava para atitutes preconceituosas sobre a técnica de moxabustão 6.

Os trabalhos modernos de pesquisa envolvendo os mecanismos de ação da moxabustão levam em conta a comparação dos efeitos térmicos produzidos pela moxabustão direta e indireta, os efeitos de radiação infravermelha e os farmacológicos, gerados por meio da combustão da lã de moxa e seus produtos 7.

A moxabustão pode ser aplicada a qualquer ponto usado para adicionar energia (Qi) ou Yang ao sistema. Também pode ser usado para melhorar a ação de pontos, locais ou distantes, usados para revigorar a circulação de energia (Qi) e de sangue (Xue) 8.

A técnica mais popular de utilização da moxabustão na medicina vetérinária é a suspensa, técnica indireta, que é feita com bastões de moxabustão. Ela pode ser feita com apenas um bastão. Porém, buscando-se um estímulo mais adequado e mais potente no paciente, podem ser utilizados dois bastões simultâneos.

Essa técnica com dois bastões é de uso frequente no hospital afiliado da Universidade de Medicina Chinesa de Jiangxi 9. A figura 1 ilustra a técnica com dois bastões sendo aplicada na espécie canina.

Uma recomendação importante é que ao submeter o paciente à aplicação de moxabustão, ela seja feita em áreas abertas e ventiladas. Principalmente, para prevenir que, pela queima da moxabustão, ocorra inalação em excesso da fumaça pelo profissional.

Figura 1 – moxabustão suspensa sendo aplicada na região do quadril de paciente da espécie canina. Optou-se pela técnica com dois bastões buscando-se uma ação mais potente. – Crédito: Arthur Paes Barretto / Integrativa Vet Brasil

Referências:
1-Lin, JH ; Kaphle, K ; Wu, L. S. ; Yang, N. Y. ; Lu G. ; Yu, C. ; Yamada, H. ; Rogers, P. A. Sustainable veterinary medicine for the new era. Revue Scientifique Et Technique, v. 22, n. 3, p. 949-964, 2003. Disponível em: <https://goo.gl/UnvRGj>. Acesso em: 18/03/2018.
2-DONG, H. ; ZHANG, X. An overview fo tradional Chinese medicine. In: Chaudhury, R. R. ; Rafei, U. M. Traditional Medicine in Asia. World Health Organization. Regional Office for South-East Asia. New Delhi, 2001. p. 17-29. ISBN 92 9022 2247. Disponível em: <https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/206025/B0104.pdf;sequence=1> Acesso em 17/04/2020
3-World Health Organization (WHO). Acupuncture: review and analysis of reports on controlled clinical trials. Geneva; 2003. <https://chiro.org/acupuncture/FULL/Acupuncture_WHO_2003.pdf> Acesso em: 17/04/2020
4-Silva Filho, R. C. Moxabustão chinesa – a arte do fogo. 1. ed. São Paulo, Editora Brasileira de Medicina Chinesa, 2015. p. 2
5-BUCCOMINIO, G. Artemisia vulgaris L. Forum Acta Plantarum. Disponível em: <http://goo.gl/tPMG4w>. Acesso em 04 de março de 2018.
6-GOLDSTEIN, R. S. Integrating Complementary Medicine into Veterinary Practice. 1. ed. Singapore,  John Wiley & Sons, 2008, p. 77.
7-Deng, H. ; Shen, X. The Mechanism of Moxibustion: Ancient Theory and Modern Research. Evidence-Based Complementary and Alternative Medicine, v. 2013. DOI: 10.1155/2013/379291.
8-MARSDEN, S. P. Acupuncture in veterinary emergency. In: 27th International Congress on Veterinary Acupuncture. Ottawa, Ontario, Canada. 2001. Disponível em: <https://goo.gl/kqzbHr>. Acesso em: 04 de março de 2018.
9 -Silva Filho, R. C. Moxabustão com bastão de moxa. In: Moxabustão chinesa – a arte do fogo 1. ed. São Paulo, Editora Brasileira de Medicina Chinesa, 2015, p.83-94.

Arthur de vasconcelos Barreto

Arthur de Vasconcelos Paes Barretto

Médico-veterinário (CRMV-SP 6871) atuante no atendimento de pequenos animais através de técnicas de medicina veterinária integrativa (acupuntura, fitoterapia, termografia e ozonioterapia).
Especialização em acupuntura veterinária e fitoterapia chinesa pelo Instituto Bioethicus. Graduado em medicina veterinária pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo.

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