“É fundamental a dedicação ao conhecimento e à prática da neurologia para conseguir exercer esta especialidade em sua plenitude”, diz Dr. Vitor Márcio Ribeiro

Por Arthur Paes Barretto, médico-veterinário acupunturista (CRMV-SP 6871)

“É fundamental a dedicação ao conhecimento e à prática da neurologia para conseguir exercer esta especialidade em sua plenitude”, diz Dr. Vitor Márcio Ribeiro

Em entrevista, o médico-veterinário fala sobre a área de neurologia veterinária no Brasil

Diretor Clínico do Santo Agostinho Hospital Veterinário, Presidente da Sociedade Mineira de Medicina Veterinária (SMMV), Vice-presidente do BRASILEISH – Grupo de estudo em leishmaniose animal, Conselheiro da ANCLIVEPA Minas Gerais e 2º Secretário da Associação Brasileira de Neurologia Veterinária (ABNV), Dr. Vitor Márcio Ribeiro tem experiência na área de Medicina Veterinária com ênfase em Doenças Parasitárias de Animais, clínica e cirurgia geral, neurologia clínica e cirúrgica. Ele atua principalmente nos seguintes temas: doenças infectocontagiosas de cães e gatos, leishmaniose animal, clínica e cirurgia geral, ortopédica e neurológica de cães e gatos.

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Há décadas é notória sua atuação em prol de conduta ética frente aos casos caninos de leishmaniose visceral. Inclusive, em junho de 2011, na fundação e condução do grupo de estudos sobre leishmaniose, o Brasileish. No ano seguinte, em 2012, em Curitiba-PR, durante o 33º Congresso Brasileiro da Anclivepa, também passa a compor diretoria de associação de classe. Desta vez, da Associação Brasileira de Neurologia Veterinária, a ABNV, da qual até hoje segue como membro da diretoria. Além dessas importantes contribuições, desde 1981 está à frente da direção do Santo Agostinho Hospital Veterinário e também ministra aulas no curso de graduação em medicina veterinária da PUC Minas. Tudo isso representa uma grande experiência clínico-cirúrgica. Baseando-se em toda essa experiência, visualiza o crescimento da neurologia veterinária como especialidade com bastante propriedade: “A inserção da especialidade de neurologia veterinária na rotina do atendimento clínico é uma realidade no contexto nacional. Temos colegas especializados que têm dedicado todo seu tempo profissional à prática da neurologia clínica ou cirúrgica. Temos uma demanda crescente, pois a complexidade do assunto faz com que se busque profissionais especializados. Tanto a neurologia clínica como a cirúrgica não permitem que a dedicação seja parcial. É fundamental a dedicação ao conhecimento e à prática da neurologia para conseguir exercer esta especialidade em sua plenitude. Também é importante estar cada vez mais próximo dos profissionais de referência na área, sendo o caminho mais curto, tornar-se associado da ABNV e participar de suas atividades”, diz.

Sobre o início da neurologia veterinária brasileira destacou que “As primeiras ‘sementes’ foram plantadas pelo Prof. Dr. Eduardo Alberto Tudury, que começou sua carreira acadêmica na Universidade Estadual de Londrina (PR) e que atualmente está na Universidade Federal Rural de Pernambuco. “Eu me lembro muito do tempo em que estávamos iniciando atividades na Anclivepa, do Prof. Tudury oferecer palestras na área de neurologia veterinária. Foi a primeira vez que tive contato com esse nível de conhecimento e, pela influência dele, segui buscando dentro da minha atividade profissional o enriquecimento do conhecimento nesta área da medicina veterinária. Exemplos dessa época são os artigos científicos ‘Observações clínicas e laboratoriais em cães com cinomose nervosa’, publicado em 1997, que tem o Dr. Tudury como primeiro autor e que também conta com a participação da dra. Mônica Vicky Bahr Arias, sócia-fundadora da ABNV e integrante da diretoria, e ‘Fármacos utilizados no tratamento das afecções neurológicas de cães e gatos’, publicado em 2010 e que traz tanto o Dr. Eduardo Tudury quanto o Dr. Ronaldo Casimiro da Costa (presidente da ABNV) como co-autores. Hoje, na rotina clínico-cirúrgica a qual me dedico, vejo que a especialidade se faz presente. Em função da complexidade que envolve o tema, o profissional especializado, além de ser procurado pelos tutores, também é procurado pelos próprios clínicos, com o objetivo de que os diagnósticos sejam conclusivos e os tratamento precisos e eficazes”, revela.

Especialista em neurologia veterinária

Atualmente, a busca pela especialização em neurologia veterinária tem como principal caminho os cursos de pós-graduação na especialidade. Também são de grande contribuição a participação nos simpósios internacionais promovidos pela ABNV e os estudos pelos livros de referência. Mesmo assim, ainda não é possível utilizar profissionalmente o título de especialista em neurologia veterinária, pois a especialidade ainda não foi homologada pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV). Na prática, o profissional que deseja utilizar alguma titulação correspondente teria as opções de buscar a titulação de especialista em clínica ou em cirurgia. “Em função disso, um objetivo muito importante da ABNV é homologar a associação para concessão do título de especialista. Inicialmente, seus objetivos estão focados em integrar os profissionais e promover eventos para divulgar e estimular o crescimento da especialidade no Brasil. Ainda não há um projeto concreto para obter a homologação, mas permitir ao profissional especializado o recebimento da merecida titulação pelo seu conhecimento é o futuro que almejamos para a especialidade”, destaca Dr. Ribeiro.

Sobre o aprendizado em neurologia veterinária Dr. Ribeiro compartilha tendências crescentes. “Vejo uma busca cada vez maior de neurologistas clínicos e neurocirurgiões recebendo convites para compartilharem seu conhecimento em semanas acadêmicas e eventos similares. Cursos avançados de curta duração assim como os de longa duração (pós-graduação) também se fazem presentes no cenário atual. Além disso, com a crescente especialização profissional, também é fato concreto a oportunidade de alguns profissionais estarem projetando-se internacionalmente em outros centros avançados. Atualmente, brasileiros já se fazem presentes, por exemplo, em eventos internacionais como o Brain Camp, o Neurolatinvet e outros congressos internacionais. O Brain Camp costuma ser realizado a cada dois anos, intercalando sua realização entre os Estados Unidos da América (EUA) e a Europa. Os dois últimos ocorreram na Itália (2018) e EUA (2016). Este ano o Brain Camp estava programado para ocorrer na Flórida, no início do mês de agosto, mas foi cancelado em decorrência da pandemia do Covid-19. Também é notória a participação de brasileiros publicando em periódicos internacionais de renome, como o artigo ‘Neurologic and Magnetic Resonance Imaging Features of German Shepherd Dogs With Cervical Spondylomyelopathy: 10 Cases (2006-2018)’, de autoria de Marilia de A. Bonelli e Ronaldo Casimiro da Costa e publicado em 2019 no Journal of the American Veterinary Medical Association”.

Um ponto importante que envolve a especialização é a fonte de informações para o constante estudo. “A literatura internacional em neurologia veterinária é bastante ampla, mas no Brasil, em 2016, a publicação do livro Neurologia canina e felina – guia prático, de Curtis Wells Dewey e Ronaldo Casimiro da Costa, trouxe bastante popularidade e promoção do conhecimento em neurologia veterinária”, complementa Dr. Ribeiro.

Neurologia clínica e neurocirurgias

Muitos que iniciam o estudo da neurologia veterinária vislumbram o aprendizado em neurocirurgias. Outros, nem tanto. Preferem dedicar-se exclusivamente à neurologia clínica. Confira a seguir as declarações do Dr. Ribeiro sobre essas opções: “Há espaço tanto para a neurologia clínica quanto para a neurocirurgia. Eventualmente, o mesmo profissional pode dominar tanto uma quanto a outra. Porém, é importante destacar que grande parte das afecções neurológicas de cães e gatos não são cirúrgicas, são de condução clínica, envolvendo tratamento específico e acompanhamento. Portanto, o neurologista clínico tem amplo espaço para exercer a especialidade”.

Limitações e tendências

“A principal barreira limitante para a conclusão de diagnósticos, tratamentos e acompanhamento de casos envolvendo comprometimento neurológico é o conhecimento. Ele depende totalmente da dedicação de cada indivíduo em estudar. A avaliação e a interpretação de cada caso clínico é a principal ferramenta que podemos ter. Evidentemente, contar com exames laboratoriais e de imagem ajudam muito a conclusão de diagnósticos e conduta clínica. Porém, tudo isso precisa ser amparado pelo conhecimento. Hoje, contando o acesso aos trabalhos científicos e a habilidade na língua inglesa, que é idioma universal na ciência, reúne-se condições favoráveis para a interpretação e execução de criteriosos exames clínicos. Ao conduzir seu estudo clínico desta maneira, certamente estará avançando e destacando-se. Os exames laboratoriais são muito importantes na busca das interpretações das possibilidades diagnósticas. Os exames de imagem, que são cada vez mais presentes, nos ajudam a concluir diagnósticos de estruturas anormais ou anormalidades que podem acontecer temporariamente em algum tecido ou algum órgão que possa causar acometimento do sistema neurológico de forma definitiva ou temporária. Assim como na medicina humana, as limitações sempre existirão. A superação das limitações está associada à dedicação. Estamos caminhando para termos os equipamentos de diagnóstico mais avançados, mas sempre haverá novos. Na área de neurocirurgia temos muito desafios. Principalmente, assim como na medicina humana, os casos que envolvem as cirurgias intracranianas são um grande desafio. Além disso, ainda temos que evoluir no que diz respeito ao manejo de animais com afecções crônicas, onde a manutenção da vida exige cuidados semelhantes aos praticados na medicina humana. Também há muito o que discutir a neurologia do ponto de vista da saúde única, da medicina translacional e da zoo ubiquidade, pois o conhecimento produzido tanto na medicina quanto na medicina veterinária pode ser útil para ambas.”

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