Cicatrização de ferida por queimadura de colchão térmico em cão através de fototerapia e ozonioterapia

Por Mirele Cristina Fuhr e Fernanda Serafim

As feridas constituem um percentual grande de lesões na casuística clínica e a fisioterapia tem se mostrado útil no tratamento nessas lesões cutâneas com algumas técnicas que aceleram o processo de reparo tecidual 1,2. Existem vários fatores que podem causar as feridas, como: infecções, neoplasias, queimaduras, mordeduras, incisões cirúrgicas, deiscência de suturas, entre outras. Nessa assertiva, manter a integridade da pele é fundamental para que ocorra a manutenção da homeostase hidroeletrolítica, flexibilidade, lubrificação da superfície e proteção, já que trata-se de um órgão que limita o meio interno e o meio externo1.

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Quando se trata de queimaduras, podemos estar lidando com fogo, almofadas de aquecimento, secadores de cabelo, água fervente, vapor, óleo de cozinha aquecido, sistemas de exaustão, canos quentes, ferros de marcação e radiação solar são as fontes comuns de queimaduras térmicas em animais domésticos2. As queimaduras podem ser classificadas em primeiro, segundo ou terceiro grau e o tratamento das mesmas, neste tipo de lesão, promove a diminuição das sequelas deixadas pela ferida, analgesia e melhora da qualidade de vida do paciente1.

A terapia com fotobioestimulação é constituída pela aplicação de LED’s (light emitting diode) com emissão não homogênea dos feixes lumínicos e capacidade de estimulação celular com comprimento de onda entre 600 e 1200nm, cujo comprimento específico citado influencia para uma adequada resposta no tratamento, pois o seu efeito na célula estimula a multiplicação celular, tem efeito bactericida e circulatório.3. E existe o LASER (Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation), com feixes paralelos de luz e com a capacidade de aumentar o nível de ATP, estimular fibroblastos, taxa de mitose e atividade macrofágica, tornando-se muito importante para a recuperação de uma ferida, pois estimula a neovascularização, granulação, epitelização e aumento da síntese de colágeno1,3.

O reparo do tecido lesionado torna-se eficaz após a remoção do tecido necrótico e pode ser mais lento dependendo de certas carências do corpo, como por exemplo, diabete melito e uso de corticoide, pois pode influenciar diminuição de aporte sanguíneo e inibir a formação de colágeno, respectivamente. Outras complicações que podem existir e levam a uma cicatrização tecidual mais lenta é movimentação excessiva do tecido, presença de corpos estranhos e deficiência nutricional.3

Uma outra técnica que se mostra muito eficaz é a ozonioterapia, uma terapia alternativa onde ocorre uma transformação de oxigênio (O2) em ozônio (O3). Com capacidade oxidante e melhora a oxigenação sanguínea, atua como analgésico e anti-inflamatório, estimulando o crescimento do tecido de granulação e reparação tecidual com efeito bactericida, antimicrobiano e fungicida4.

A aplicação do mesmo pode ser realizada por diversas vias: óleo ozonizado, água ozonizada e “bag” como exemplo tópico, autohemoterapia menor e maior, como ozonização intracorpórea e também a via oral, uretral, subcutânea, intra-articular, intramamária e insuflação retal. Contraindica-se apenas a via inalatória, pois possui efeitos tóxicos para a traqueia e brônquios5.

Relato de Caso

O paciente havia sido encaminhado para fisioterapia após procedimento cirúrgico com o quadro de queimadura por colchão térmico. Antes do inicio do tratamento fora realizado o desbridamento das feridas e encaminhado para a fisioterapia.

No primeiro dia de sessão o paciente chegou com muita algia e com duas lesões menores na região cervical, com apenas um ponto de necrose e uma lesão grande na região lombar, com locais necróticos e secreção purulenta (figura 1). Iniciado então, o tratamento com fototerapia pulsada, com o equipamento da marca VetHealth® modelo Photum, contendo placas de LED´s de 904nm e 625nm de comprimento de onda, com os seguintes parâmetros: Frequência de 5000Hz, intensidade 4, tempo de aplicação 10 minutos e dose de 3 Joules/cm². Aplicado também o uso de laser, com o equipamento da marca IBRAMED® de 904nm, 70w de potência com protocolo de 3 Joules/cm², pontualmente aplicado ao redor dos bordos da ferida.

Este tratamento foi realizado em todas as sessões, duas vezes na semana e uma vez na semana realizava-se a aplicação de ozonioterapia em Bagging com O²-O³ (53 µg/ml) por 20 minutos, com o equipamento da marca Ozone & Life® 1.5 RM. Em casa a tutora realizava limpeza da ferida, inicialmente duas vezes no dia e, conforme melhora, uma vez ao dia. Utilizava solução fisiológica, aplicação de óleo ozonizado em toda a extensão da ferida e película de Mepitel® nas lesões avermelhadas. Nos pontos onde ainda havia necrose era aplicado a pomada de Dersani® com o óleo ozonizado e, em seguida, protegida com gaze e atadura. 

Na terceira sessão a ferida da região cervical estava 90% cicatrizada e em torno de 40% na região lombar com tecido de granulação presente. A paciente já não apresentava qualquer desconforto na manipulação, estava comendo bem e ativa.

Na sexta sessão a ferida da cervical estava 98% cicatrizada e 60% na região lombar, com aproximação significativa dos bordos em toda a extensão, ausência de fibrose e necrose, livre de contaminação bacteriana e aspecto saudável da musculatura.

Na 8ª sessão a região cervical estava 100% fechada e 70% de cicatrização de lombar, com bordos sempre regulares. Na 10ª sessão a ferida da região lombar apresentava 85% de cicatrização, na 13ª sessão 90% de cicatrização e na 14ª sessão, e última, 100% cicatrizado.

Nessa assertiva, o tratamento durou dois meses com duas sessões por semana e, na 14ª sessão, o paciente obteve a alta. Neste período o animal estava em plena saúde, alimentando-se muito bem, com a pele hidratada.

Figura 1: Evolução da cicatrização de ferida por queimadura de colchão térmico, sendo (1) a primeira sessão, (2 e 3) a terceira sessão, (4) a sexta sessão, (5) a nona e décima sessão e (6) a décima quarta e, última, sessão.

Conclusão

Foi notável a melhora da ferida quando iniciado o tratamento com fototerapia e ozonioterapia. A cicatrização manteve-se evoluindo à cada semana de uma maneira homogênea, sem diminuir a velocidade em nenhum momento. Obteve-se excelente resultado curativo, com fácil aplicação e ótima reparação tecidual.

Conclui-se que, com a escolha correta dos parâmetros de cada aparelho, o uso de terapias adjuvantes aceleram a cicatrização tecidual quando comparada com pacientes que fazem uso de pomadas cicatrizantes e limpeza de pele como única forma de tratamento.

Bibliografia

1- Amaral BP, Muller DCM, Rakoski AS, Basso PC. Manejo das queimaduras em pequenos animais. Medvep – Revista Científica de Medicina Veterinária – Pequenos Animais e Animais de Estimação; 2016; 14(44): 94-100.

2- Rocha MP, Rocha ES, Souza JPC. Fisioterapia em queimados: Uma pesquisa bibliográfica acerca dos principais recursos fisioterapêuticos e seus benefícios. Revista Tema; 2009; 9(13).

3- Hummel J, Vicente G, Formenton Maira, Cadini M. Fototerapia. In: Hummel J, Vicente G, organizators. Tratado de Fisioterapia e Fisiatria de Pequenos Animais. São Paulo: Payá; 2019. p. 65-71.

4- Marchesini BF, Ribeiro SB. Efeito da ozonioterapia na cicatrização de feridas. Fisioterapia Brasil; 2020; 21(3): 281-288.

5- Borges TL, Marangoni YG, Joaquim JGF, Rossetto VJV, Nitta TY. Ozonioterapia no tratamento de cães com dermatite bacteriana: Relato de dois casos. Revista Científica de Medicina Veterinária; 2019; 26(32).

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Mirele Cristina Fuhr

Médica Veterinária formada pela Ulbra-Canoas em 2016/2
Especializada em Fisioterapia e Acupuntura pela Franqueadora Mundo à Parte em 2017.
Curso de ozonioterapia pela Franqueadora Mundo à Parte em 2018.
Curso de Implante de ouro/Wet e Dry Needling pela Franqueadora Mundo à Parte em 2019.
Pós-graduanda em Neurologia Veterinária pelo Qualittas / 2019-2020
Sócia da empresa Mundo à Parte – Fisioterapia e Reabilitação Veterinária.

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Fernanda Serafim

Estudante de medicina veterinária Ulbra-Canoas
Estágio voluntário durante um ano no hospital veterinário Ulbra
Curso de urgência e emergência da UFAPE – em andamento
Estagiando na empresa Mundo à Parte – Novo Hamburgo.

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