“Ame gatos verdadeiramente”, diz Prof. Dr. Gabriel Dias sobre atuação de vets na Medicina Felina

POR SAMIA MALAS

Prof. Dr. Carlos Gabriel Dias com gato da raça Sphynx

“Ame gatos verdadeiramente”, diz Prof. Dr. Gabriel Dias sobre atuação de vets na Medicina Felina

Referência na área de comportamento felino, o veterinário do Rio de Janeiro fala sobre os caminhos para se tornar um veterinário especializado no atendimento de gatos

Ele dá palestras pelo Brasil afora e já é bem conhecido no meio veterinário da Medicina Felina. O Prof. Dr. Carlos Gabriel Almeida Dias, do Rio de Janeiro, é proprietário da clínica The cat from Ipanema e um dos palestrantes do CAT Congress, realizado anualmente em São Paulo-SP. Além disso, é professor horista em Disciplinas de Clínica Médica na Universidade Castelo Branco (RJ) e graduado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro em 1996, com Mestrado e Doutorado obtidos no curso de Ciências Veterinárias pela Universidade Estadual do Ceará em 2006 e 2009, respectivamente.

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Revista Medicina Felina em foco: Há quantos anos atua no segmento de felinos?

Carlos Gabriel Almeida Dias: Eu sou formado há 24 anos, porém só alcancei a prática exclusiva para gatos há cerca de 15 anos. Há 24 anos os caminhos da especialização em felinos eram diferentes. Estagiei com referências da Medicina Interna Felina na graduação, sempre me dediquei preferencialmente aos gatos nas rotinas que trabalhei, minhas linhas de pesquisas no mestrado e doutorado tratam exclusivamente do comportamento do Felis silvestris catus e tenho uma clínica com atendimento exclusivo. Eu abraçei a especialização ao longo dos anos. Hoje, o aluno pode cadidatar-se à residência de Medicina Interna Felina, realizar especializações acadêmicas, bem como obter certificações através de cursos e associações internacionais.

RMF: A The cat from Ipanema já tem quantos anos? Que dificuldades enfrentou no início?

Gabriel: A clínica The cat from Ipanema é jovem. Temos 2 anos de vida e temos um espaço exatamente do jeito que imaginávamos. A leveza dos ambientes é combinada com orientações para o manejo catfriendly® da Associação Americana de Prática Felina (AAFP). As dificuldades foram relacionadas aos desafios do empreendedorismo em um país que enfrenta desafios políticos e uma máquina burocrática enferrujada. Contudo, a prática médica e o recebimento de pacientes e seus familiares humanos deixam o desafio mais prazeroso e estimulante.

A certificação da AAFP é um reconhecimento da associação americana de prática felina que o estabelecimento reuniu uma estrutura física e operacional compatível com atendimentos acolhedores e espécie específico para o paciente felino. O proprietário e responsável pelo setor de felinos deve ser associado à AAFP e deve enviar as documentações e portifólio do serviço para que seja avaliada a proposta de certificação.

RMF: Para ser um veterinário especializado em felinos, é preciso adquirir qual certificação? Como ela é obtida, quais os passos?

Gabriel: A certificação maior é aquela que acontece no coração. O desejo de atender o paciente felino e suas peculiaridades e encantamentos é o ponto de partida. Morar com um gato seria também uma sugestão pertinente. Academicamente, a trajetória conta com residência, pós-graduação, especializações e uma infinidade de ferramentas acadêmicas para educação continuada. Existe um reconhecimento através do tempo dedicado à prática que sempre deve ser levado em consideração. A associação Brasileira de Clínicos de Felinos, a ABFel, está em preparação e instrumentalização para realizar as avalições para conferir títulos de especialista em Medicina Interna Felina. As associações garantem um fortalecimento técnico e social para o desenvolvimento da prática médica. Assim, participar das associações é um caminho interessante para se aproximar da especialidade sonhada. Eu sou clínico sócio e um entusiasta da Prática. Tenho ajudado da melhor forma que posso a ABFel. Fazer parte da associação, seguir as mídias e participar dos eventos acadêmicos é o chamado para os colegas que desejam fortalecer a prática da Medicina Felina no Brasil.

As reuniões na Abfel ainda estão sendo realizadas para que as avaliações para recebimento do título sejam emitidas. Diante da importância de conferir ao Médico Veterináro uma certificação é necessario que reuniões sejam feitas para que todo processo seja iniciado sem equivocos ou falta de critérios.

RMF: Quais os desafios da rotina de atendimento cat friendly?

Gabriel: O desafio é transformar a clínica no universo espacial e operacional a fim de atender as demandas dos pacientes e sua família humana sem ameaças físicas e emocionais. Os gatos por não serem domésticos reagem de forma exuberante aos estímulos ambientais considerados ameaçadores. Como a interpretação de ameaça/perigo é individual e depende de uma construção única, o clínico deve desenvolver habilidades para adaptar os pacientes à sua abordagem clínica. Individualizar, mas mantendo um padrão de atendimento que acolha o paciente nas suas características espécie-específicas. Superfícies para espera elevadas e livres de ameaças visuais, feromônios/odores acolhedores, áreas reservadas e com iluminação adequada poderão ser as chaves mestras para manter gatos livres de estresse. Muitas vezes a abordagem está mais efetivamente relacionada a percepções mentais como retirar o jaleco para algum paciente em participar sentir-se menos ameaçado. Mais do que mudar ambientes e condutas, são as formas de pensamento e decisão que tem um impacto efetivo no atendimento catfriendly®

RMF: Como professor também, acredita que as universidades têm abordado mais a área de Medicina de Felinos? Por quê?

Gabriel: As Unidades Acadêmicas modificam-se em acordo com as demandas dos alunos e, cada vez mais, observamos um crescente aumento no interesse pelo paciente felino. Mais participações em congressos, cursos e pós-graduação mostram que o interesse pelos gatos vem aumentando a cada dia.

RMF: Que conselhos dá aos veterinários que estão buscando se especializar na área?

Gabriel: Ame gatos verdadeiramente. Esse é o item mais importante Afinal, o que se faz bem na ausência de amor genuíno? 

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