A fisioterapia como adjuvante no tratamento da osteopatia craniomandibular em Buldog Inglês

Por: Renata Santos da Silva e Mirele Cristina Fuhr

A osteopatia é um distúrbio caracterizado pela sua proliferação óssea de fundo não neoplásico. Encontrada em ossos da cabeça como mandíbula, ramo mandibular, articulação temporo mandibular, occiptal, bula timpânica e eventualmente em ossos longos. Cães jovens das raças Terrier costumam ter, geneticamente, maior pré disposição e sem predileção de gênero¹. Outras raças, também podem ser acometidas, nestas a ocorrência está associada a infecções bacterianas (Escherichia coli) ou virais (vírus da Cinomose canina)2,5.

Os sinais clínicos mais comuns são dor contínua na região da articulação temporomandibular, tumefação mandibular, diminuição do interesse em se alimentar, salivação excessiva e febre6. Os sinais clínicos associados ao estudo radiográfico e histopatológico são fundamentais para realizar o diagnóstico5.

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O tratamento clínico tem por objetivo o controle da dor através do uso de antiinflamatórios não esteroidal e analgésicos¹. Em alguns casos o uso de corticoides tem sido usado apesar de não apresentar resultados conclusivos.  Em pacientes onde o quadro se demonstra de maneira mais crítica, a fluidoterapia e o suporte nutricional se vê necessário. Cirurgias para a remoção do excesso de osso, não foram satisfatórias². Contudo se torna importante a realização do controle de fatores bioquímicos tais como, concentração de sódio, potássio, cálcio total, cálcio ionizado e fósforo para acompanhamento do estado geral do animal, que poderá descompensar de acordo com a progressão da doença5. O tratamento costuma ser prolongado, por meses ou até o cão atingir a maturidade sexual, a partir deste momento é possível ocorrer a resolução espontânea da proliferação óssea. A castração também pode ser realizada como tentativa de apressar o processo de melhora do animal6. Por fim, há relatos onde as terapias clínicas não demonstram uma evolução capaz de proporcionar qualidade de vida ao paciente, tornando assim a eutanásia necessária7.

Este relato tem por objetivo evidenciar o uso da fisioterapia veterinária como auxiliar no controle da dor e da progressão da osteopatia craniomandibular de cão da raça buldog inglês, através da aplicação de agentes físicos da fotobiomodulação e magnetoterapia.

A terapia com fotobiomodulação é constituída pela aplicação de LED´s (ligthemittingdiode) com emissão não homogênea dos feixes lumínicos e capacidade de estimulação celular com comprimento de onda entre 600 e 1200nm, cujo comprimento específico citado influencia para uma adequada resposta no tratamento pela liberação de óxido nítrico nos tecidos, favorecendo assim a ação de agentes anti-inflamatórios³.

A terapia com campos eletromagnéticos pulsados é constituída por sistema de corrente elétrica que passa por uma espiral de cobre gerando um pólo norte e um pólo sul, produzindo o efeito piezoelétrico. A resposta gerada pelo organismo varia conforme os parâmetros utilizados e se mantém entre 150 a 200 Gauss ou 450 a 500 Gauss. Suas principais ações são: tecidos ósseos e colágeno, melhorar a solubilidade de substâncias, normalizar o potencial da membrana celular e proliferação mitótica de tecidos lesionados. Seus principais benefícios incluem alívio de dor4.

Relato de Caso

Cão da raça buldog inglês, sete meses de idade, encaminhado para avaliação fisioterápica para auxiliar em analgesia e acompanhamento da musculatura mastigatória, devido acometimento por Osteopatia Craniomandibular (OCM).

Suporte medicamentoso ajustado por veterinária clínica que acompanhava o paciente através de gabapentina 10mg/kg a cada  8 horas, amantadina 5mg/kg a cada 24 horas, cloridrato de tramadol 5mg/kg a cada 6 horas, magnésio quelado 1mg/kg a cada 24 horas e antibiótico amoxicilina + clavulanato de potássio 12mg/kg a cada 12 horas. Havia um histórico de discoespondilite em C3-C4 aos quatro meses de idade. Radiografia de crânio mostrou proliferação óssea em mandíbula esquerda e espessamento do côndilo do processo articular da mandíbula bilateral (figura 1). Biópsia de mandíbula evidenciou trabéculas ósseas com discreto espessamento, osteonecrose multifocal. Células inflamatórias e ausência de bactérias.

Figura 1: Radiografias de crânio em projeções laterolateral (decúbito lateral direito) e dorsoventral demonstram: Importante proliferação óssea em corpo da mandíbula, mais evidente do lado esquerdo e espessamento do côndilo do processo articular da mandíbula bilateral

Tutores relataram que apresentava dificuldade para abrir a boca, inapetência, sialorreia e prostração. Iniciado então, o tratamento com fototerapia contínua, com equipamento da marca VetHealth® modelo Photum, contendo placas de LED´s de 904nm e 625nm de comprimento de onda com os seguintes parâmetros: Frequência 5000Hz, intensidade 9, tempo de aplicação 10 minutos e 10 Joules/cm2, pontualmente aplicada em articulações temporomandibular e mandíbula esquerda (figura 2), associado o tratamento com a magnetoterapia, com o equipamento da marca VetHealth® modelo Magnum, contendo bobinas de polo norte e polo sul: Frequência 15Hz, intensidade 9, tempo de aplicação 30 minutos, pontualmente aplicadas nos mesmo locais da fotobiomodulação.

Esse tratamento foi aplicado em todas as sessões, duas vezes por semana, durante nove meses, seguido de mais um mês com uma sessão por semana. Logo nas primeiras duas semanas os tutores relataram que estava demonstrando mais conforto, já não se mostrava inquieto, a sialorreia já não era algo frequente e estava conseguindo se alimentar diariamente com ração amolecida. Durante o período de tratamento foi realizado o processo de redução do suporte medicamentoso de forma gradual pela veterinária clínica em conjunto ao parecer fisioterápico de acordo com a evolução do animal. A partir da 34ª sessão, havia voltado a se alimentar apenas de ração seca de forma espontânea, demonstrando interesse pelo alimento, assim como já manifestava interesse por brinquedos.

No último mês o paciente em questão já estava sem suporte medicamentoso, isso então ocorreu na 74ª sessão de fisioterapia, dado sequência então ao suporte de analgesia exclusivamente através da fisioterapia, seguindo com duas sessões semanais. A partir da sessão de número setenta e sete, foi realizado o espaçamento das sessões, mantendo uma frequência de uma sessão por semana até a sessão de número oitenta e dois, onde foi efetuada alta. Neste momento já com total reabilitação do quadro o animal estava em plena saúde, alimentando-se muito bem e sem sinais ou sintomas de dor.

Figura 2: Acervo pessoal. Aplicação de fotobiomodulação com placa de LED´s em articulação temporomandibular e mandíbula esquerda.

Conclusão

Foi observada a melhora a partir do momento em que foi iniciado o tratamento com a fotobiomodulaçao e magnetoterapia. A redução e posteriormente a ausência de dor a cada semana se manteve de maneira contínua, visto o acúmulo de sessões. Obteve-se o resultado de estabilização do progresso da doença e, por fim, curativo Conclui-se que, com a escolha correta dos parâmetros de cada aparelho, adjuvante as terapias estabilizam a enfermidade quando comparada com pacientes que fazem o uso de analgésicos como única forma de tratamento. 

Bibliografia

1-Xavier EG, Merlin P, Pereira GQ. Osteopatia craniomandibular em cão: relato de caso. Revista Acta Veterinaria Brasilica; 2013; 7: 99-100.

2-Huchkowsky SL. Craniomandibular osteopathy in a bullmastiff. Can Vet J. 2002; 43(11): 883-885.

3-Hummel J, Vicente G, Formenton Maira, Cadini M. Fototerapia. Tratado de Fisioterapia e Fisiatria de Pequenos Animais. São Paulo: Payá; 2019. p. 65-71.

4-Hummel J, Vicente G. Magnetoterapia. Tratado de Fisioterapia e Fisiatria de Pequenos Animais. São Paulo: Payá; 2019. p. 54 – 61.

5-VARALLO, G. R. et al. CRANIOMANDIBULAR OSTEOPATHY IN ENGLISH BULLDOG CASE REPORT. Ars Veterinaria, Jaboticabal, v. 28, n. 4, p. 218-221, out. 2012.

6-COELHO, Nathalia das Graças Dorneles et al. Osteopatia craniomandibular canina: revisão. Pubvet, [S.L.], v. 12, n. 7, p. 1-8, jul. 2018. Editora MV Valero. http://dx.doi.org/10.31533/pubvet.v12n7a132.1-8.

7-Macedo, Aline Schafrum et al. Craniomandibular Osteopathy in a West Highland White Terrier. Acta Scientiae Veterinariae. Porto Alegre RS: Univ Fed Rio Grande Do Sul, v. 43, 4 p., 2015. Disponível em: <http://hdl.handle.net/11449/158601>.

Autora: Renata Santos da Silva

Médica Veterinária formada pela Uniritter Porto Alegre em 2018/2
Especializada em Fisioterapia e Acupuntura pela Franqueadora Mundo à Parte em 2019.

Co-autora: Mirele Cristina Fuhr

Médica Veterinária formada pela Ulbra-Canoas em 2016/2
Especializada em Fisioterapia e Acupuntura pela Franqueadora Mundo à Parte em 2017.
Curso de ozonioterapia pela Franqueadora Mundo à Parte em 2018.
Curso de Implante de ouro/Wet e Dry Needling pela Franqueadora Mundo à Parte em 2019.
Pós-graduanda em Neurologia Veterinária pelo Qualittas / 2019-2020
Sócia da empresa Mundo à Parte – Fisioterapia e Reabilitação Veterinária.

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