Saúde intestinal é a principal responsável pela imunidade dos pets

Por Samia Malas

Foto: feedoughiStock

Estudos atualizados têm demonstrado que o intestino deixou de ser um órgão responsável apenas pela absorção de nutrientes. Ele vem ganhando destaque também por seu papel na proteção do organismo, participando tanto da modulação da resposta imunológica quanto da proteção física contra agentes ou substâncias nocivas à saúde. Tal função (no sistema de defesa) está relacionada a: integridade da barreira intestinal e ao funcionamento do tecido linfoide, bem como de sua interação com a microbiota. Por isso, a saúde intestinal do pet é de extrema importância para saúde do animal como um todo e para a imunidade deles, não devendo ser negligenciada.

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E a alimentação é um dos principais fatores para manter a boa saúde deste órgão. Mariana Fragoso Rentas, médica-veterinária da Adimax e doutora em nutrição de cães e gatos, explica que ao longo de toda a extensão do intestino existe um tecido de defesa chamado tecido linfoide, associado ao intestino (GALT), constituído, principalmente, por nódulos linfáticos – denominados placas de Peyer –, responsáveis pela produção de células de defesa, como os linfócitos T e CD4. “Isso acontece porque o intestino tem a importante função de absorver os nutrientes oriundos da dieta e, ao mesmo tempo, precisa defender o organismo de eventuais antígenos que possam ter sido ingeridos juntamente ao alimento. Mais recentemente, vem sendo discutido na literatura, principalmente com os achados em humanos e ratos, a utilização de ingredientes que possam atuar diretamente influenciando a resposta inflamatória do animal a partir do GALT. As fibras e os prebióticos são ingredientes que podem de maneira indireta estimular o sistema imune através da modulação da microbiota intestinal do hospedeiro”, acrescenta.

Ainda segundo a veterinária, estudos demonstram que dietas contendo níveis mais altos de fibra e prebióticos aumentaram o número de células de defesa, assim como intensificam a resposta imunológica. “Isso ocorre porque esses ingredientes chegam ao intestino intactos e sofrem fermentação de grupos bacterianos específicos, os quais influenciam o ambiente intestinal e liberam metabólitos que modulam a resposta inflamatória, entre outras coisas”, afirma Mariana. Assim, se o animal consumir um alimento completo e balanceado já é o primeiro passo para manter a sua saúde. “Porém, quando falamos de modulação da microbiota intestinal e resposta imunológica, as fibras e os prebióticos são os ingredientes específicos da formulação para esse fim. Os prebióticos, por exemplo, são fibras que possuem alto grau de fermentabilidade, e dependendo da dosagem podem causar grandes mudanças na contagem (abundância relativa) de grupos bacterianos considerados benéficos da microbiota intestinal. Eles são considerados ingredientes funcionais, uma vez que o animal não tem necessidade de recebê-los via alimentação, porém quando ingeridos causam benefícios à saúde do animal. Alimentos de alta qualidade possuem ingredientes funcionais que influenciam positivamente na qualidade de vida e longevidade do animal. Portanto, um alimento contendo mix de fibras e prebióticos pode influenciar positivamente a microbiota intestinal e, por consequência, modular a resposta inflamatória do paciente”, ressalta Mariana.

Além do mecanismo citado acima, para os prebióticos, Mariana aponta que outros nutrientes estão envolvidos diretamente com o bom desempenho do sistema imunológico, como a qualidade e a quantidade das proteínas da dieta. “A proteína, assim como alguns aminoácidos, é um nutriente essencial, portanto, obrigatoriamente, tem que estar na quantidade adequada nos alimentos completos. Esses nutrientes possuem muitas funções no organismo animal, entre elas, faz parte da composição de citocinas e anticorpos que fazem parte do sistema imunológico do animal. Outro nutriente que influência a resposta é o zinco; estudos demonstram que animais que consomem menos zinco do que o recomendado, apresentam diminuição da fagocitose”, explica.

Cães x Gatos

Mariana destaca que, embora cães e gatos tenham em seu ambiente intestinal bactérias em comum, a sua microbiota de modo geral é diferente. “A utilização de ingredientes como prebióticos, acaba influenciando o crescimento de grupos bacterianos diferentes nessas espécies, e, portanto, mais estudos ainda estão sendo desenvolvidos para elucidar melhor o papel desses micro-organismos em cada uma dessas espécies”, elucida.

Papel do veterinário

Veterinários devem orientar e garantir que tutores escolham o melhor alimento aos seus pets. “Cães e gatos se beneficiam de um alimento que contenha boas fontes de fibras e prebióticos em sua composição. Os prebióticos colaboram para o equilíbrio da microbiota intestinal, pois promovem condições de vida desfavoráveis para as bactérias ruins e, ao mesmo tempo, favoráveis para as boas”, orienta Mariana. “Manter o equilíbrio entre as quantidades de micro-organismos bons e ruins auxilia na digestão dos alimentos, na absorção dos nutrientes e na manutenção da barreira intestinal. Desta forma, contribui para um intestino saudável e para a imunidade dos pets”, explica a veterinária.

Além dos prebióticos na alimentação, as fibras exercem um papel importante, contribuindo também para o trânsito intestinal, equilíbrio da microbiota e para fezes firmes, bem formadas e com menos odor.

Devido a importância da saúde deste órgão, Mariana orienta os veterinários a alertarem os tutores a ficarem bem atentos aos principais sinais de que algo não vai bem: “Sempre peça para que o tutor avalie a frequência, coloração, odor e consistências das fezes, estas são informações valiosas. Nos casos em que o tutor identificar fezes pastosas, amolecidas, totalmente líquidas ou muito ressecadas, a recomendação é que leve seu pet para uma avaliação. Também em caso de necessidade de troca do alimento habitual, o recomendado é consultar o profissional”, finaliza Mariana.

Mariana Fragoso Rentas

Médica-veterinária da Adimax e doutora em nutrição de cães e gatos.

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