Revisão de literatura: alimentação natural no tratamento contra obesidade em cães

Por Beatriz Corrêa Simões¹, Heytor Borges²

LITERATURE REVIEW: NATURAL DIET IN THE TREATMENT OF OBESITY IN DOGS

Resumo

Os pets oferecem diversos benefícios aos humanos, como combater à solidão, estímulo à atividade física e fortalecimento dos laços familiares. Cuidar da saúde desses animais é crucial, dada sua importância na família. Avanços na Medicina Veterinária destacam obesidade e sobrepeso como problemas que afetam a qualidade de vida dos pets. A chave para o emagrecimento é criar um déficit calórico diário, reduzindo a ingestão de calorias abaixo do gasto energético. Dietas naturais caseiras têm vantagens como variedade, aceitação e qualidade dos ingredientes, podendo ser ajustadas às necessidades individuais. A crescente obesidade em animais direciona para novas abordagens de tratamento. A nutrição desempenha papel fundamental na saúde animal, incentivando pesquisas em dietas caseiras não só para obesidade, mas também para outras doenças. Este estudo tem como objetivo comparar a alimentação natural e a ração convencional na prevenção e tratamento de obesidade em cães.

Palavras – chave: Alimento natural, Escore Corporal, Saúde animal.

ABSTRACT:

Pets offer many benefits to humans, such as combating loneliness, encouraging physical activity, and strengthening family bonds. Taking care of these animals’ health is crucial, given their importance within the family. Advances in Veterinary Medicine highlight obesity and overweight as issues that affect pets’ quality of life. The key to weight loss is to establish a daily caloric deficit by reducing calorie intake below energy expenditure. Homemade natural diets have advantages like variety, acceptance, and ingredient quality, which can be tailored to individual needs. The growing obesity in animals directs towards new treatment approaches. Nutrition plays a pivotal role in animal health, encouraging research into homemade diets not only for obesity but also for other diseases. This study aims to compare natural feeding with conventional pet food in the prevention and treatment of obesity in dogs.

Keywords: Natural food, Body Condition Score, Animal Health.

1.Discente do curso de Medicina Veterinária, Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, SP, Brasil

2. Médico-veterinário, docente, Heytor Borges, Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, SP, Brasil

INTRODUÇÃO

Os pequenos animais, conhecidos como pets, trazem diversos benefícios ligados à convivência humana, como a socialização, diminuição da solidão, combate à depressão, promotores de felicidade, alívio de estresse, redução da pressão arterial, elevação de níveis de imunoglobulina A, incentivo a prática de atividades físicas, senso de responsabilidade e promove a união familiar (ROSA, 2021). Assim, faz-se necessário que os mesmos recebam os devidos cuidados com sua saúde, uma vez que os pets já são considerados como membros do círculo familiar e possuem valor inestimável para seus proprietários, que com o passar do tempo se conscientizaram que, também, se trata de uma vida (ROSA, 2021). Dentre as doenças que podem acometer os animais e comprometer a duração de sua vida, pode-se destacar a obesidade. A obesidade é um fator agravante para demais doenças, podendo ocasionar em novas patologias, e que podem levar o animal a óbito (FEITOSA et al., 2015)

A obesidade e sobrepeso podem levar a várias outras doenças secundárias importantes como Diabetes Mellitus, problemas locomotores e articulares, problemas respiratórias, insuficiência cardíaca congestiva, déficit cardíaco, maior incidência de neoplasias, lesões de pele, menor eficiência reprodutiva, aumento dos riscos e da recuperação anestésicos e cirúrgicos, alteração na cinética dos medicamentos, hérnia inguinal, pancreatite, queda na resistência física, alterações endócrinas, hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia, alterações no sistema digestório, baixa resistência a agentes infecciosos, interferência nos procedimentos diagnósticos devido à grande quantidade de gordura corporal e nos órgãos, além do animal ficar em constante estado de inflamação (German, 2006).

Com os avanços na Medicina Veterinária, a obesidade e o sobrepeso não são mais vistos somente como fatores estéticos, sendo considerados doenças que diminuem a qualidade e a expectativa de vida dos animais. Essas enfermidades geram preocupações aos médicos veterinários, pois acometem de 34 a 59% da população de cães (LINDER & MUELLER, 2014).

Considerando a importância dessa enfermidade para os animais, é responsabilidade do médico veterinário buscar maneiras de promover a perda de peso. A chave para o sucesso na perda de peso está em garantir um déficit calórico diário, ou seja, reduzir o número de calorias consumidas para ficar abaixo do gasto energético do animal, por meio de dietas com menor quantidade de energia do que o necessário para manter o peso corporal. Isso criará um balanço energético negativo, levando à mobilização das reservas de energia corporal por meio do catabolismo de gorduras endógenas. Utilizar dietas naturais caseiras traz diversos benefícios para os pacientes, como maior variedade na alimentação, maior palatabilidade e aceitabilidade, ingredientes mais frescos e de melhor qualidade. Cães com apetite mais aguçado costumam preferir esse tipo de alimento. Além disso, essas dietas podem ser adaptadas para atender objetivos específicos, como dietas hipocalóricas, hipercalóricas e hipoalergênicas. No entanto, é importante observar que há variações nos níveis de proteína, minerais, vitaminas e gorduras, e a digestibilidade pode variar, portanto, a formulação deve ser adaptada para cada paciente individualmente.

O objetivo deste estudo é comparar os benefícios do uso de alimentação natural e da ração convencional em relação à prevenção e manutenção da vida de cães com doenças crônicas. A motivação para a realização desta pesquisa é a crescente incidência de sobrepeso e obesidade em animais e a necessidade de encontrar novas abordagens para o tratamento dessa enfermidade, uma vez que a nutrição tem um impacto direto na saúde e qualidade de vida dos animais. Portanto, é importante que os médicos veterinários continuem estudando o uso de alimentação caseira não apenas para essa enfermidade, mas também para outras doenças em que esse tipo de alimentação pode ser benéfico.

REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Obesidade Animal

Caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corpórea, a obesidade é uma doença multifatorial que acomete entre 20 a 40% da população canina, gerando disfunções fisiológicas no animal que incluem alterações cardiovasculares, imunológicas, osteoarticulares, digestivas e endócrinas (FEITOSA et al., 2015).

Segundo Gatti (2002) as causas da obesidade podem ser separadas em duas classes: as de origem orgânica ou metabólica, de pouca prevalência, e as alterações de comportamento alimentar, de maior prevalência.

Alguns fatores como idade, sexo, presença de anormalidades hormonais, lesões hipotalâmicas, predisposição genética, nível de atividade voluntária, influências externas no consumo de alimentos, composição da dieta, palatabilidade e estilo de vida são responsáveis pelo aumento de peso do animal (Saad, 2004). Segundo Dehasse et al. (2002) quase sempre negligenciada pelo médico veterinário, a obesidade ocorre também como uma enfermidade comportamental, sendo os fatores responsáveis; a ansiedade, depressão, problemas de desenvolvimento, fracasso no estabelecimento de hábitos nutricionais normais e deficiência na aquisição de saciedade.

A obesidade é mais comum em fêmeas do que em machos, e, em cães castrados do que em não castrados de ambos os sexos. Algumas raças de cães tendem a ser mais obesas, incluindo Labradores, Dachshunds e Beagles (Fraser, 2001). Autores como Houpt(1979) e Case et al. (1997) atribuem a elevação do peso ao incremento da ingestão alimentar e da diminuição da atividade voluntária. No cão, os riscos respiratórios e cardiovasculares, claudicações, diabetes melittus, anestesias, cirurgia, problemas de cicatrização, falhas imunológicas, estando relacionados ao sobrepeso (BATISTELA, 2005).

Para que a obesidade seja detectada, pode-se lançar mão de estratégias como a mensuração do Peso Corporal Relativo, que se dá pela razão entre o peso atual do animal e o peso ótimo calculado, pelo índice de massa corporal, dado pela relação entre o peso corporal e estatura em metros ao quadrado e pela avaliação do escore corporal (RODRIGUES, 2011). O tratamento deve ser feito por meio de restrições calóricas da dieta do animal (NELSON; COUTO, 2015).

Durante muitos anos petiscos foram comercializados na forma de biscoitos assados, porém com o passar do tempo foram surgindo variações nos formatos, tamanhos e sabores. Já que estes “agrados” muitas vezes são adquiridos por impulso ou por pura vaidade, tutores parecem escolher o produto de acordo com o sabor e aparência (CASE et al., 2011). Entretanto, a oferta indiscriminada de petiscos pode levar a um quadro de obesidade nos cães, uma vez que apresentam elevado teor calórico por serem palatabilizados com gorduras e açúcares. Por esse motivo, médicos veterinários muitas vezes criticam a administração desse tipo de alimento, pois tutores muitas vezes não sabem a quantidade ideal a ser ofertada, ou sabem, mas acabam excedendo a quantidade a “pedidos” do seu animal de estimação. Para evitar esses excessos, recomenda-se que petiscos representem até 10% da energia metabolizável consumida diariamente pelo cão, substituindo-se parte da ração (ACKERMAN, 1999; MOTT, 2001).

Tabela 1 – Pontuação do escore corporal . Fonte: BATISTELA (2005)

A avaliação física é realizada através da avaliação do Escore de Condição Corporal (ECC) e do Índice de Massa Muscular (IMM), sendo de extrema importância em casos em que o animal apresenta catabolismo proteico, como em quase todas as doenças, e em casos de pacientes idosos, devido ao processo de sarcopenia. A condição corporal reflete anormalidades dos sistemas corporais do animal, e um exame físico detalhado ajuda a definir o estado nutricional do animal e identificar doenças que podem estar relacionadas à nutrição. Também são analisadas as condições da pele e pelagem, observando a qualidade e anormalidades relacionadas à nutrição, como pelo seco ou facilmente depilável, pele fina ou descamativa, e também uma possível resistência reduzida à venopunção devido a perda da densidade normal de colágeno da pele (HAND et al., 2010; WSAVA, 2011; LAFLAMME, 1997).

A realização de exames laboratoriais oferece um maior respaldo em relação ao escore corporal do animal. Entre os exames específicos, pode-se incluir um hemograma completo, urinálise, perfil bioquímico, cultura fecal e dosagem de nutrientes específicos como vitaminas, minerais e hormônios. Dosagens séricas de albumina, linfócitos, proteína total e volume celular servem como indicadores do estado nutricional do animal. Exames adicionais podem ser requisitados conforme necessários, como diagnóstico por imagem e endoscopias (GINER et al., 1996, HAND et al., 2010).

Sumarizando, a avaliação nutricional é um aspecto importante do tratamento médico excelente e uma boa comunicação com o tutor é fundamental para alcançar os resultados desejados. Os tutores devem ser informados sobre os alimentos específicos e as vantagens e desvantagens, riscos e preocupações, além de receberem todas as recomendações necessárias para a realização do manejo nutricional elaborado para seu animal de estimação. Dito isso, para a realização de um atendimento nutricional completo e de qualidade, Médicos Veterinários devem possuir conhecimento e habilidades em conceitos de nutrição e aplicá-los em suas consultas veterinárias de rotina a fim de melhorar a qualidade de vida de todos os seus pacientes (WSAVA, 2011).

2.2 Alimentação Natural para Cães

Nos últimos anos, muitos tutores de animais de estimação abandonaram as dietas comerciais convencionais em busca de escolhas mais “naturais” e “caseiras”. Isso foi parcialmente impulsionado por um movimento paralelo no mercado de alimentos humanos para produtos naturais e orgânicos (SCHLESINGER & JOFFE, 2011).

De acordo com a Association of American Feed Control Offcials (AAFCO), um alimento natural é “um alimento ou ingrediente derivado exclusivamente de vegetais, fontes animais ou minerais, em estado não processado ou sujeitas a condições físicas de processamento tais como processamento térmico, purificação, extração, hidrólise, enzimólise ou fermentação, mas que não tenha sido produzido ou sujeitos a um processo quimicamente sintético e não contenha aditivos ou constituintes de processamento quimicamente sintéticos, exceto em quantidades como pode ocorrer inevitavelmente em boas práticas de fabricação” (AAFCO, 2013).

Há um interesse crescente de donos de cães e gatos em alimentar seus animais de estimação com dietas caseiras (VENDRAMINI et al., 2020). Dieta caseira é uma classificação de alimentos naturais que como o próprio nome já diz são preparadas refeições caseiras pelo tutor do animal, que deve seguir uma orientação profissional para formulação ideal (GOUVÊA, 2019).

Em seus estudos, Saad e França (2013), mencionaram que a alimentação natural, quando bem manejada, apresenta níveis adequados de cálcio, fósforo, potássio, sódio, probióticos, enzimas e são livres de processos que interfiram no equilíbrio natural do alimento, transmitindo a imagem saudável e atende às expectativas dos proprietários quanto à qualidade de vida de seus animais.

Embora existam inúmeras dietas disponíveis na internet e de fácil acesso, é importante ressaltar que essas dietas podem ser problemáticas para a saúde do animal, mesmo que sejam completas e balanceadas e tenham sido formuladas por um profissional. Isso ocorre porque elas não levam em conta as necessidades individuais de cada animal, o que pode levar a danos severos à sua saúde. Por esse motivo, é fundamental que os tutores estejam atentos e busquem sempre a recomendação profissional adequada para garantir uma dieta personalizada e segura para o seu animal de estimação.

2.3 Comércio de Alimentação Processada

O Brasil é o segundo país no quesito faturamento anual no setor de alimentação para cães, ficando atrás somente dos Estados Unidos. No ano de 2018, a indústria de produtos para animais de estimação faturou R$ 20,3 bilhões (ABINPET, 2022).

Durante a Primeira Guerra Mundial surgiram alimentos enlatados para alimentar esses animais, sendo comumente utilizada a carne de cavalo como matéria prima, sendo que esse tipo de alimento possuía grande durabilidade, permitindo produção em escala e exportação (KULICK, 2009).

Com o advento da Segunda Guerra Mundial, o alumínio, antes utilizado na embalagem dos alimentos para pets, passou a ser utilizado como material de artefatos importantes durante a guerra, dando origem às rações secas, sendo que no ano de 1946, esse tipo de alimento correspondia a 85% do mercado. Em 1950, foi criado o processo de extrusão, permitindo expansão do alimento a altas temperaturas e permitindo alta durabilidade, fomentando ainda mais o segmento (KULICK, 2009).

No período pós guerra as relações entre humanos e animais foram ainda mais estreitadas, promovendo à indústria um processo de intensificação e especialização da cadeia, visando atender as exigências do mercado.

Dessa maneira, novos conceitos de nutrição adequada fizeram surgir no mercado mundial uma tendência em desenvolver alimentos que atendam não somente as necessidades nutricionais, mas também adequar aos hábitos e preferencias alimentares dos animais de companhia, visando buscar longevidade e bem-estar de cães e gatos. Estas dietas possuem uma visão mais integrativa e biologicamente apropriadas, oferecendo aos tutores novas alternativas de alimentação para seus animais que visam uma nutrição ótima (SAAD, 2013).

Assim, Carciofi e Jeremias (2010), mencionam que atualmente a busca por alimentação natural vem sendo evidenciada, já que os tutores passaram a mudar seu olhar sobre a alimentação dos pets, trazendo a percepção de que assim como para os humanos, os alimentos naturais se apresentam mais saudáveis do que os industrializados, configurando-se como importante aliada da prevenção de enfermidades e manutenção de vida de animais portadores de algumas doenças, promovendo longevidade.

Saad & França (2010) afirmam que novos nichos estão crescendo no mercado mundial de nutrição de cães e gatos, e com isso estão surgindo novos produtos que atendam as necessidades nutricionais dos animais de companhia ao mesmo tempo que apresentem uma característica mais “natural”, com a utilização de alimentos frescos e orgânicos, cozidos ou crus (chamada de BARF – Biologically Appropriate Raw Food), alimentos livres de grãos (grain free), dietas a base de proteínas (protein-focused), ingredientes “superpremium” e “ultrapremium”, dentre inúmeras outras variedades. Groot & Schreuder (2009) também mencionam que a procura por produtos do setor pet food, associada com uma tendência a humanização na indústria pet, levam a um aumento da procura por alimentos diferenciados para animais de estimação, e que o número de fabricantes de alimentos iniciando nesse mercado e o perfil de proprietários que possuem interesse nesses tipos de produtos estão aumentando rapidamente.

DISCUSSÃO

Os animais de estimação convivem com os seres humanos a milhares de anos e proporciona aos tutores muitos benefícios psicológico, fisiológicos e social (Lima & Luna, 2012), estudos mostram que pessoas que convivem de forma saudável com os animais tem menor índice de depressão e estresse, ainda melhora a qualidade de vida de pessoas com deficiência, crianças e idosos (Babá et al., 2015).

A segurança e a saúde dos animais de companhia vêm se tornando muito discutido, já que esses animais fazem parte da família e do orçamento mensal, os tutores querem que seu pet tenha maior longevidade, que esteja saudável e que se sinta feliz. Nesse cenário o assunto mais questionável é a nutrição e a alimentação adequada, sendo um dos principais motivos pelo qual os tutores prefiram adquirir uma dieta natural para seus animais, afim de que eles tenham uma vida mais aproximada da sua natureza (Carciofi & Jeremias, 2010; Groot & Shreuder, 2009).

A preocupação com a saúde física é um assunto que vem crescendo e com isso a nutrição humana ganhou força nas últimas décadas, deixando de considerar apenas o “sabor” da refeição e focando cada vez mais na saúde humana. Como os seres humanos, animais precisam de uma alimentação balanceada para terem uma vida saudável, por isso necessitam de uma dieta nutricionalmente completa que contenham proteína, lipídeos, vitaminas, carboidratos, mineiras e água. Com isso, esta preocupação com a nutrição se estendeu aos animais de estimação e proprietários passaram a escolher os alimentos que oferecessem mais vantagens para seus pets, como dietas nutricionalmente balanceadas e com alta palatabilidade, alta qualidade da matéria prima e ausência de aditivos químicos (BORGES, 2003; CAPPELLI, MANICA e HASHIMOTO, 2016).

Mas afinal, qual a diferença entre a alimentação natural para a alimentação convencional?

Foi constatado que a alimentação natural apresenta um custo mais elevado em relação às rações. No entanto, essa diferença de preço é justificada pelo fato de que a alimentação natural é uma opção diferenciada oferecida pelas empresas em função da qualidade dos ingredientes utilizados e do modo de preparo. Por outro lado, as rações são produzidas com subprodutos e alimentos de baixo custo para atender às necessidades nutricionais dos cães, além do uso de corantes e nutrientes de valor biológico reduzido.

Apesar da diferença de preço ser significativa, a implementação de um programa de alimentação natural com o objetivo de reduzir o peso de animais obesos pode levar a uma clara melhoria na composição corporal do animal, melhora na aparência da pelagem, redução na queda de pelos, aumento da frequência de evacuação e redução do volume das fezes, que apresentam um odor menos desagradável. Em comparação com a ração seca, a alimentação natural demonstra vantagens evidentes.

As dietas secas tem a garantia de conservação por possuir baixa umidade juntamente aos antioxidantes, acidificantes e antifúngicos sendo importante que sua embalagem seja adequada, para evitar entrada de luz, oxigênio e água, a fim de prolongar a sua vida de prateleira (Carciofi & Jeremias, 2010). As desvantagens dos alimentos secos é que não possuem boa palatabilidade, principalmente quando o teor de gordura é baixo ou quando possuem ingredientes com baixa digestibilidade (Case et al., 1997).

Em alguns casos, há dificuldade em seguir a receita perfeita dos tutores, dificuldade no processamento e desenvolvimento de um processo que atenda as exigências nutricionais devido ao alto custo da alimentação natural, sendo que nestes casos, é recomendado que seja realizado o uso de ração convencional (CARCINOFI, 2005).

Uma das razões do sucesso da dieta natural para perda de peso é seu baixo índice de carboidratos e alto índice de lipídios, em comparação com a ração convencional com baixo teor de gordura e alto teor de carboidratos. Estudos sugerem que uma dieta com baixo teor de carboidratos pode ser uma alternativa à dieta com baixo teor de gordura, pois promove maior perda de peso, justificando o maior gasto com a alimentação natural.

A alimentação natural para cães, é uma dieta composta por ingredientes frescos e naturais, que não contêm conservantes, corantes ou outros aditivos artificiais. Geralmente, a AN inclui uma variedade de alimentos, como carne, frutas, vegetais, ovos, grãos e sementes.

Por outro lado, a alimentação convencional para cães, ou alimentação comercial, geralmente é composta por ração seca ou úmida que é fabricada em massa e inclui ingredientes processados, como farinhas de carne, subprodutos animais, cereais, corantes e conservantes.

Borges (2009) elencou algumas das vantagens e desvantagens de dietas caseiras. Algumas das vantagens são: maior palatabilidade e aceitabilidade; ingredientes frescos e preparo de dietas para casos específicos como para animais que possuem algum tipo de alergia alimentar. O tempo despendido para preparo, variações nos nutrientes, ausência das informações sobre a digestibilidade do alimento, tempo de conservação menor se comparado com dietas comerciais, acúmulo de placas dentárias, são algumas das preocupações que o fornecimento de dietas preparadas em casa pode representar. Felix et al. (2009) ao comparar a digestibilidade de três diferentes alimentos balanceados para cães, verificou que a alimentação caseira apresentou os maiores coeficientes de digestibilidade em relação a um alimento super premium e um alimento do tipo econômico e além disso, os cães que foram alimentados com dieta caseira apresentaram a menor produção de fezes, apesar de mais úmidas

A principal diferença entre as duas opções é que a AN fornece uma dieta mais natural e variada, enquanto a alimentação convencional é projetada para fornecer nutrientes básicos de forma fácil e conveniente. A AN também pode ajudar a promover a saúde do cão a longo prazo, reduzir a probabilidade de alergias alimentares e melhorar a qualidade de vida geral do animal.

No entanto, é importante lembrar que a AN deve ser preparada corretamente e atender às necessidades nutricionais do cão. É recomendável consultar um veterinário ou nutricionista animal antes de fazer a transição para uma dieta AN, para garantir que o cão esteja recebendo todos os nutrientes necessários para uma vida saudável.

CONCLUSÃO

A alimentação natural para cães é uma opção eficaz no combate à obesidade, permitindo um melhor controle da qualidade e quantidade dos alimentos. Ela envolve o uso de ingredientes frescos, que são nutritivos e com baixo teor calórico, além de reduzir aditivos e conservantes presentes em alimentos comerciais que podem contribuir para o ganho de peso. No entanto, as rações secas são mais populares entre os tutores devido à praticidade e durabilidade. Embora muitos tutores acreditem que a alimentação natural seja mais saudável, alguns ainda enfrentam desafios em relação ao tempo de preparo e consultas nutricionais. Controlar as porções, evitar alimentos extras e fornecer atividade física regular também são fundamentais no gerenciamento da obesidade canina.

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Heytor Henrique Garcia Borges

Graduado em medicina veterinária e em nutrição (UMESP), especialista em farmacologia (UNINTER) e mestre em ciência animal (FMVZ/USP). Atualmente é coordenador técnico da Ilender do Brasil e docente das disciplinas de produção animal e tecnologia, higiene e inspeção de produtos de origem animal na UMESP.

Beatriz Corrêa Simões

Estudante de Medicina Veterinária na Universidade Metodista de São Paulo cursando o 10º semestre. Durante minha graduação, tive a oportunidade de realizar estágios em diversos locais, contribuindo para o meu desenvolvimento profissional. No início do segundo semestre, iniciei meus estágios na Clínica Veterinária Cão de Mel, onde acompanhei consultas e cirurgias. Posteriormente, atuei como auxiliar de internação no Hospital Veterinário Dr. Hato e atualmente, estou realizando estágio no Hospital Veterinário Dr. Vet. [email protected]