Oxigenioterapia na Unidade de Terapia Intensiva: cuidados em seu uso

Por Lucas de Angelis Côrtes

Oxigenioterapia na Unidade de Terapia Intensiva: cuidados em seu uso

Ministrada de forma correta, a oxigenioterapia auxilia na recuperação do paciente grave

Oxigenioterapia: potencial de aumentar a sobrevida do paciente - Foto aquivo pessoal

A oxigenioterapia na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) comumente faz parte do protocolo médico-veterinário, e, quando empregada adequadamente, tem potencial de aumentar a sobrevida do paciente. Contudo, como todo medicamento, existem indicações claras para seu uso e o método adequado de entrega. Doses e monitorização inadequada podem causar efeitos adversos.

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Os tecidos dependem de oxigênio, e a entrega do mesmo depende de adequada ventilação, troca gasosa e perfusão. Devido a pequena reserva de oxigênio nos pulmões, a falha de um destes sistemas leva a hipóxia tecidual em um período médio de 4 minutos, que pode ser classificada como hipoxemia arterial com pO2 < 100mmHg, ou falha no sistema de transporte de oxigênio pela hemoglobina, sem que haja hipoxemia arterial. Quedas abruptas de pO2 podem levar a vasodilatação periférica com consequente hipotensão.

Pacientes que apresentem sinais clínicos como alteração do estado mental, dispneia, cianose, taquipneia e arritmia, eventualmente se beneficiam do emprego da oxigenioterapia.

Uso da oxigenioterapia

SaO2 e PaO2 são os principais marcadores para iniciar, monitorar e ajustar o tratamento de oxigenioterapia, porém seus valores podem estar inalterados em caso de hipóxia tecidual secundária a anemia, baixo débito cardíaco e incapacidade dos tecidos de utilizarem oxigênio. Nestas situações deve-se optar pela mensuração da PvO2 através de um cateter de artéria pulmonar, que é o método mais fidedigno para mensuração da oxigenação tecidual nestes casos.

Em pacientes cronicamente hipoxêmicos, pode ocorrer policitemia e alteração na curva de dissociação da hemoglobina com aumento da extração de oxigênio para garantir a entrega adequada de oxigênio aos tecidos. Altas doses de fração inspirada de oxigênio em pacientes portadores de doença obstrutiva crônica que apresentem insuficiência respiratória hipercápnica podem inibir o drive respiratório, aumentando a incompatibilidade entre ventilação e perfusão, causando ainda mais acúmulo de dióxido de carbono e levando a acidose respiratória, aumentando a mortalidade.

Métodos

No que se refere à variação de métodos para administração de oxigênio, podemos classificar em sistemas destinados a liberar concentrações baixas, moderadas ou altas do gás, sendo estas concentrações dependentes do pico de fluxo inspiratório do paciente e do fluxo de oxigênio ofertado. Desta forma, existem sistemas que fornecem apenas uma parte do gás inspirado, produzindo uma FiO2 variável. Dai a necessidade de se eleger um sistema adequado.

Sistema de baixo fluxo

A cânula nasal e as máscaras faciais são consideradas um método suplementar de entrega de oxigênio, ofertando baixo fluxo do gás a 100%. Durante a inspiração, o oxigênio é diluído com o ar ambiente, e o grau de diluição é dependente do pico de fluxo inspiratório do paciente e do fluxo de oxigênio enviado pelo sistema, o que leva a valores variáveis de FiO2.

Cachorro em tratamento na UTI - Foto Arquivo pessoal

Sistema de alto fluxo

Os sistemas de alto fluxo oferecem, através de uma cânula nasal específica, a entrega de uma determinada concentração de oxigênio em fluxos iguais ou superiores ao fluxo inspiratório máximo do paciente, assegurando uma FiO2 conhecida, além de fornecer ar aquecido e umidificado, diminuindo então a irritabilidade das mucosas das vias aéreas anteriores, reduzindo a intolerância ao método e mantendo a integridade da função mucociliar e proteção natural das vias aéreas anteriores.

Além da umidificação e aquecimento do ar, outra indicação para o uso da CNAF (cânula nasal de alto fluxo) é a lavagem de CO2 do espaço morto, ou seja, das vias aéreas anteriores entre os ciclos respiratórios. Isso acontece de forma rápida e eficiente através do fornecimento de gás fresco que insufla as narinas e libera o CO2 no final da expiração, reduzindo o conteúdo de CO2 da próxima inspiração e preenchendo a cavidade nasofaríngea com gás fresco. Por esta razão é importante manter um sistema aberto no paciente, bem como as pontas das cânulas nunca devem obstruir mais de 50% do diâmetro das narinas. Isso permite a saída do fluxo de gás ao redor da cânula. Desta forma o paciente respira maior quantidade de gás oxigenado, reduzindo o trabalho respiratório e aumentando a ventilação alveolar.

Sistemas de alto fluxo oferecem, através de uma cânula nasal específica, a entrega de uma concentração de oxigênio em fluxos iguais ou superiores ao fluxo inspiratório máximo do pet- Foto: Arquivo Pessoal

 

Ventilação mecânica

A ventilação mecânica, ou suporte ventilatório, consiste em um método de tratamento para pacientes com insuficiência respiratória aguda ou crônica refratários aos métodos anteriormente citados, ou que possuam contraindicação dos mesmos.

A ventilação ocorre através de aparelhos, que, intermitentemente insuflam as vias respiratórias com Volume Corrente e FiO2 pré-determinado pelo médico-veterinário. O movimento do gás para dentro dos pulmões ocorre devido à geração de uma gradiente de pressão entre as vias aéreas.

As indicações da ventilação mecânica são: correção da hipoxemia ou hipercapnia, evitar a fadiga muscular, diminuir o desconforto respiratório, reanimação pós-parada cardiorrespiratória, hipoventilação e apneia, falência mecânica do aparelho respiratório, e por fim permitir a aplicação terapêutica. 

Referências bibliográficas:

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De Carvalbo, Carlos Roberto Ribeiro Toufen, Carlos Franca, Suelene Aires. Ventilação mecânica: Princípios, análise gráfica e modalidades ventilatórias. Jornal Brasileiro de Pneumologia 2007.

Bello, Giuseppe De Santis, Paolo Antonelli, Massimo. Non-invasive ventilation in cardiogenic pulmonary edema. Annals of Translational Medicine 2018.

Yuste, Maria Eugenia Moreno, Olga Narbona, Susana Acosta, Fernando Peñas, Luis Colmenero, Manuel. Efficacy and safety of high-flow nasal cannula oxygen therapy in moderate acute hypercapnic respiratory failure. Revista Brasileira de Terapia Intensiva 2019.

Lucas de Angelis Côrtes

Pós-graduação Lato Senso em Pneumologia - FG. Mestre pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP). Diretor do serviço de internação do Hospital Veterinário Animal Care. Diretor do serviço de UTI do Hospital Veterinário PetCare.Responsável dos serviços de Pneumologia dos hospitais PetCare e Animal Care.

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