“A dermatologia varia entre 50 a 70% dos casos de clínica geral, por isso, é uma especialidade de extrema importância”, diz Dra. Ana Cláudia Balda

Formada em Medicina Veterinária pela FMVZ/USP em 1995, Dra. Ana Cláudia Balda é mestre e doutora pela FMVZ/USP; dermatologista titulada pela Associação Brasileira de Dermatologia Veterinária (ABDV) e pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) e professora de clínica médica de pequenos animais. Foi docente temporária do Departamento de Clínica Médica da FMVZ/USP de 2018 a 2022 e, atualmente, é diretora da escola de Medicina Veterinária da FMU, coordenadora da pós-graduação da Medicina Veterinária FMU e sócia-proprietária da Derme for Pets (clínica dermatológica em São Paulo-SP). A seguir, confira bate-papo que tivemos com a profissional sobre o segmento de Dermatologia Veterinária.

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Revista Dermato em Foco: Poderia compartilhar com a gente os pontos da sua carreira que fizeram a diferença para sua formação na Dermatologia?

Dra. Ana Cláudia Balda: Acho que encontrar profissionais que possam te guiar na carreira, alguém que te ensine, mas também te oriente profissionalmente, que compartilhe suas experiências, faz toda diferença. Na época não chamávamos assim, mas acho que eu tive dois “mentores” que foram a veterinária Mary Otsuka, que hoje é minha sócia, e o Prof. Carlos Eduardo Larsson, que também me guiou nos caminhos da educação, que é minha grande paixão.

Revista Dermato em Foco: Que dificuldades encontrou no início da sua carreira?

Dra. Ana: No começo precisamos ter paciência, pois o reconhecimento e a remuneração demoram para vir na medicina veterinária. Mas, em geral, com estudo e esforço o sucesso vem como consequência.

Revista Dermato em Foco: Quais as habilidades necessárias para ser um bom dermatologista veterinário?

Dra. Ana: O especialista deve ser comunicativo, detalhista e, principalmente, praticar a escuta ativa, pois os relatos e observações do tutor são valiosos e contribuem demais com nossos diagnósticos.

Revista Dermato em Foco: Para se tornar um veterinário especializado em Dermatologia é preciso adquirir qual certificação? Quais passos a seguir?

Dra. Ana: Sim, o título de especialista é outorgado pela Associação Brasileira de Dermatologia Veterinária (ABDV) e pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV). O profissional deve comprovar experiência no atendimento, são avaliados o número de casos colecionados durante os anos mais recentes de atividade profissional, juntamente com capacitação (cursos, congressos nacionais e internacionais), além de outras atividades que têm relação com experiência na área (residência, orientações de estagiários, pós-graduação na área) e uma prova voltada para a especialidade. Por enquanto temos nove especialistas (dermatologistas) no Brasil. Haverá outra avaliação no final de abril de 2023, na qual devem vir outros profissionais para aumentar esse número.

Revista Dermato em Foco: Dermatologia é a área que lidera os casos de atendimento em clínica médica. Como esse fato deve ser encarado pelos demais profissionais?

Dra. Ana Balda: A dermatologia varia entre 50 a 70% dos casos de clínica geral, por isso, é uma especialidade de extrema importância, pela casuística. Sendo assim, o clínico geral precisa conhecê-la, pois vai atender diversas doenças mais comuns que vai conseguir tratar. O especialista fica com o encaminhamento de doenças mais raras ou aquelas crônicas que, muitas vezes, demandam mais tempo de consulta e dedicação ao caso.

Revista Dermato em Foco: Quais os desafios da rotina de atendimento e da especialidade?

Dra. Ana: Hoje em dia, a maior parte dos nossos pacientes está no grupo das dermatites alérgicas, mas, felizmente, temos inúmeras ferramentas para melhorar a qualidade de vida deles. O tratamento, principalmente para controle do prurido, é muito individual e deve ser avaliado com tempo e atenção. Muitas vezes acabam sendo encaminhados para o especialista, que pode fazer uma consulta mais demorada e detalhada.

Revista Dermato em Foco: Quais serviços estão em alta na área de Dermato atualmente?

Dra. Ana: Fibrotoscopia e imunoterapia com alérgenos, que são procedimentos que nos auxiliam muito tanto para o diagnóstico quanto para o tratamento dos pacientes.

Revista Dermato em Foco: Que doenças ou condições são as mais comuns em sua rotina clínica de cães e gatos?

Dra. Ana: Sem dúvida são as dermatites alérgicas.

Revista Dermato em Foco: Que conselhos dá aos veterinários que estão buscando se especializar na área da Dermatologia Vet?

Dra. Ana: O estudo é imprescindível, ler muito os livros de referência, trabalhos recentes (pois a Ciência muda e devemos sempre nos basear em evidências científicas), cursos e congressos, além de estágios e vivência prática enquanto alunos. Depois de formados pensar em pós-graduação e especializações ou residência na área, que juntam a experiência teórica e prática.

Revista Dermato em Foco: Qual avanço presenciou na sua carreira que fez a diferença na rotina de atendimento e diagnóstico? O que temos de mais novo nesse segmento?

Dra. Ana: Acho que as medicações mais recentes para controle de prurido fizeram bastante diferença, pois há alguns anos só tínhamos os corticoides como medicação eficaz, porém, com efeitos colaterais a longo prazo. Em seguida, vieram ciclosporina, oclacitinib, lokivetmab que permitem bom controle do prurido de forma mais segura.

Revista Dermato em Foco: Poderia narrar algum caso complexo que tenha enfrentado no consultório ou em caráter de emergência?

Dra. Ana: Como dermatologista, conseguimos bom controle ou até cura em grande parte dos casos. Porém, alguns casos evoluem mal. Me lembro de uma Poodle que só ficava bem com cortisona, mas tinha muitos efeitos como hiperglicemia, infecções recorrentes de trato urinário e aí chegou a ciclosporina, que para esse caso foi um divisor de águas.

Revista Dermato em Foco: Gostaria de acrescentar algum comentário para encerrar a entrevista, deixar um recado para quem pretende entrar e especializar nessa área?

Dra. Ana: A dermatologia é uma área maravilhosa, mas como todas as outras precisa de esforço, estudo e dedicação. Por isso, cursos, estágios e atualização constante são importantes não só no início da carreira, mas é preciso ter a consciência de que isso deve ser constante enquanto atuarmos na profissão. Se você tiver a sorte de encontrar alguém generoso, seja um profissional ou um professor que possa conversar e te orientar profissionalmente, tenho certeza de que essa mentoria fará muita diferença. Eu tive uma sorte enorme na minha vida, que foi cruzar com a Mary Otsuka no meu caminho profissional, hoje tendo ela como minha sócia, e com meu professor de graduação e orientador de mestrado e doutorado Prof. Dr. Carlos Eduardo Larsson, que além de me ensinar tanto na parte técnica quanto científica, me aconselhou inúmeras vezes sobre situações e decisões na carreira.