Tratamento conservativo da displasia coxo femural

Por Miriam Caramico

Palavras-chave: displasia, articulação coxofemoral, doenças articulares, doença articular degenerativa

Introdução

A displasia coxo-femoral (DCF) é uma doença ortopédica de grande incidência, porém complexa com múltiplos genes e fatores ambientais que influenciam a suscetibilidade a esta patologia. É caracterizada pela incongruência  articular da articulação coxo femoral, resultando em osteoartrose e dor. A articulação apresenta-se normal no nascimento e acredita-se que durante o desenvolvimento a velocidade de crescimento do sistema esquelético é maior que do sistema muscular o que resulta em cargas excessivas na cabeça femoral forçando o acetábulo dorsal e lateralmente alterando sua conformação e consequente remodelamento irregular das margens acetabulares, cabeça femoral e colo femoral gerando incongruência das superfícies articulares e osteoartrose secundária.

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A displasia coxo femoral pode levar a osteoartrite secundária dolorosa e a deficiência e seus sintomas podem causar  até alterações  de comportamento do cão. O gerenciamento médico e cirúrgico pode ajudar aliviar a dor, mas não pode tratar as condições músculo esquelética O que só conseguimos com o tratamento fisioterápico.

Os sinais clinicamente mais  encontrados são  dor, claudicação unilateral ou bilateral progressiva e crônica, marcha rígida, atrofia muscular e relutância durante a realização de exercícios. O diagnóstico deve ser baseado no  histórico, sinais clínicos, exame ortopédico, fisiátrico  e radiográfico. Muitos animais com displasia não apresentam alterações clínicas durante meses ou ano, iniciando os sinais apenas quando a DAD ocorre. Os sinais fisioterápicos são; contratura pectínea, hipotrofia dos glúteos, quadríceps e bíceps femoral, hiperflexão do carpo, dor espinhal sacral e toraco-lombar, dor da cápsula muscular e articular, inflamação, retração da Cápsula Articular e aumento da pressão intra-articular.

A dor nesta patologia pode ter várias causas. Microfraturas ósseas ocorrem na cabeça do fêmur e acetábulo durante a remodelagem do crescimento nos animais jovens, pode ter origem na contratura dos músculos adutores, principalmente o pectínio  e em animais com DAD (Doença Articular Degenerativa) coxofemoral a dor pode ocorrer devido a sinovite, inflamação da cápsula articular, aumento pressão intra articular e isquemia do osso subcondral exposto.

A escolha de tratamento vai depender da idade do paciente, grau da displasia  e presença ou não de afecções concomitantes,  com o intuito de  diminuir a dor, melhorar a função do membro afetado e garantir qualidade de vida ao paciente.

Conforme podemos ver na tabela abaixo,  nenhuma das técnicas cirúrgicas consegue solucionar as alterações causadas pela displasia coxo femoral, só conseguimos tratar todos os sintomas realizando a fisioterapia (reabilitação) e suplementando com nutracêuticos como o condroitin, UCII, Ômega 3  Porque nenhuma técnica cirúrgica corrige alterações musculares, tendineas e ligamentares.

Relato de caso

Paciente: Canino, Golden Retriever, Macho, castrado, 11 meses.

Histórico: resistência a passeios, não caminha mais do que 5 minutos, há 4 meses fica mais deitado do que brincando, possui dificuldade para se sentar e se levantar, caminha com os membros pélvicos juntos.

Exame físico: exame de ortolani positivo bilateral , dor em extensão de membros pélvicos, atrofia em musculatura glútea, quadríceps e bíceps femoral, hiperflexão do carpo, dor espinhal sacral e toraco-lombar, retração da cápsula articular. Intolerância a se sentar e levantar. Goniometria : flexão 48º extensão 158º ( normal flexão 50º extensão 162º).

Tratamento

Devido a idade do paciente, o tutor, o médico ortopedista e a fisiatra, optaram por tratamento conservativo.

Foi instituído então como tratamento inicial 20 sessões de fisioterapia com laser classe III, 830 nm, eletroterapia (NMES para fortalecimento), hidro esteira, campo magnético, acupuntura, ozonioterapia, e introduzido antiinflamatórios não-esteroidais (seletivos COX 2)  sulfato de condroitina que é  importantíssimo para promover a melhora na hidratação da cartilagem e viscosidade adequada do líquido sinovial, em patologias degenerativas como a displasia coxo femoral, controlando assim os sinais de osteoatrose.

Após a quarta sessão o paciente já apresentava melhora na contratura da musculatura de pectinio, diminuição da pressão articular e caminhava com menos sinais de dor.

O tratamento fisiátrico foi estendido por seis meses, até que conseguimos a recuperação da massa muscular avaliada por perimetria, melhora da amplitude articular, avaliada pela goniometria, e controle total da dor. Foi mantido sulfato de condroitna  por tempo indeterminado, para controle da doença articular degenerativa.

Em sua última avaliação o paciente estava com 2 anos, sem sinais de dor, sem dificuldade para se sentar ou levantar, foi então verificado que o tratamento conservativo foi suficiente para retorno a função deste paciente, com qualidade de vida.

Utilização de imagens autorizadas pelo tutor

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Rocha F.P.C. et al. 2008. Displasia coxofemoral em cães. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária. 4 (11):1-7.

 

Mirian

Miriam Caramico

Graduada em Medicina Veterinária pela Universidade Octávio Bastos (UNIFEOB). Pós-graduada em ortopedia e fisioterapia UNIP.
Pós-graduada em clínica médica de pequenos animais UMES.
Curso da Canine Rehabilitation Certificate Program (CCRP) pela Universidade do Tennessee.
Responsável técnica pelo Centro de Fisioterapia e Reabilitação Animal Fisio Care Pet- Unidade Zona Leste.
Coordenadora dos cursos de formação em Fisiatria da Fisio Care Pet.
Diretora do setor de educação da Fisio Care Pet.
Coautora do livro Fisiatria em pequenos animais.
Mestre em anatomia pela FMVZ USP.
Diretora social da ANFIVET.
Palestrante em Simpósios e Congressos no Brasil, Equador, Chile, Colômbia e Argentina.

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