PESQUISA CIENTÍFICA NA ÁREA VETERINÁRIA: UM PASSO IMPORTANTE PARA A CARREIRA

Confira a opinião de professores e estudantes que se empenham em realizar e incentivar a pesquisa no meio veterinário

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Participar de projetos de pesquisa, iniciação cientifica, mestrado, doutorado, enfim, de inúmeras frentes que a pesquisa acadêmica permite que um médico-veterinário atue, é fundamental para quem pretende ter uma carreira de sucesso. “Toda pesquisa e artigos científicos publicados fazem com que haja um diferencial para um processo seletivo docente, concursos e ainda contratações. Quanto antes o estudante entender isso, mais rápido ele é contratado e inserido no mercado de trabalho”, aponta Eryck José Pinareli Rodrigues de Souza, de Campinas-SP, que é Orientador Pedagógico e Professor da UniFAJ, além de avaliador do Prêmio Científico do Congresso Vet em Foco. “Quanto melhor for a dedicação do estudante em produzir artigos, trabalhos e ainda inovar, melhor para ele, para a instituição e, consequentemente, para o público final”, acrescenta Erick.

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Ter a pesquisa incluída no currículo de um veterinário, indica o interesse desse profissional em descobertas científicas diz Carlos Eduardo Fonseca Alves, professor titular da UNIP

Carlos Eduardo Fonseca Alves, de Bauru-SP, professor titular da Universidade Paulista (Unip), diz que a pesquisa auxilia no desenvolvimento crítico do aluno de graduação, fazendo que o mesmo se destaque. “Esse aluno apresentará um currículo diferenciado, com maiores chances de ser bem-sucedido em processos de seleção de residência médica, e é considerado um fator essencial para a realização de mestrado e doutorado”, afirma.
O veterinário também lembra que em países como os Estados Unidos e na Europa, é muito comum o veterinário da prática clínica realizar pesquisas científicas e publicações. “O Brasil ainda está evoluindo, com poucos veterinários que atuam na rotina clínica apresentando interesse em pesquisa. Mas para o currículo de um veterinário, ter a pesquisa incluída em seu currículo indica o seu interesse em descobertas científicas, e mostra que se trata de um profissional diferenciado. Ele tem mais oportunidade de atuar no exterior e hoje, em muitas empresas, ter no currículo a pesquisa pode direcionar para cargos de P&D dentro de empresas. Assim, o mercado vet cada vez mais exige veterinários com interesse em pesquisa”, ressalta. E para um veterinário que ainda está na graduação, a pesquisa é uma boa forma de destaque, continua Carlos Eduardo. “Esses alunos serão vistos como interessados e diferenciados. O desenvolvimento da pesquisa vai abrir portas para estágios, melhoria do currículo para diferentes seleções como trainee, estágio curricular remunerado. Para o aluno de graduação, realizar pesquisa faz com que esses alunos tenham destaque entre seus colegas, e com certeza direciona para indicações dos professores quando necessário”,detalha.
O Prof. Silvio Piotto, diretor do IBVET, lembra o quanto a pesquisa pode alavancar uma carreira de um veterinário iniciante. “Como professor e coordenador de residência que eu já fui, o que mais escutava dos professores é como essa geração é desatenta, difícil, desinteressada… então, quando chega um aluno ou residente com vontade de escrever, participar, fazer trabalho, isso é um diferencial da média, e você passa a ter oportunidade que os outros não têm. Parece que é pouco, mas não é, é o tamanho que você pode fazer na sua graduação ou na sua fase de residência. A mensagem que você passa é: nossa, essa pessoa é interessada, tem vontade de fazer algo. Mostra a que veio nesta carreira e vai delinear seu futuro profissional”.

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Quanto melhor for a dedicação do estudante em produzir artigos, trabalhos e, ainda, inovar, melhor para ele, para a instituição e, consequentemente, para o público final diz Eryck José Pinareli Rodrigues de Souza, Orientador Pedagógico e Professor da UniFAJ

INICIATIVAS

Eryck aponta que muitas são as iniciativas de incentivo à pesquisa veterinária no Brasil ofertadas tanto por instituições de ensino quanto por empresas relacionadas às várias áreas da Medicina Veterinária. “Temos a Fapesp, Pibc, bolsas privadas, prêmios de congressos, projetos de iniciação científica das universidades e parcerias com empresas. Na UniFAJ, temos projetos de iniciação científica custeados pela instituição, além de empresas parceiras que financiam alguns trabalhos científicos”, acrescenta.
Carlos Eduardo também afirma que, no Brasil, temos muitas oportunidades para realização de pesquisa, mas o incentivo ainda é muito baixo. “Provavelmente associado a fatores sociais e culturais, no Brasil a função de pesquisador como cargo de trabalho ainda é pouco reconhecida e as pessoas não têm uma noção completa de como a pesquisa científica é importante. Com o passar dos anos, diferentes iniciativas foram surgindo para mudar esse cenário, como incentivo das fundações estaduais (como a Fapesp), programa de iniciação científica dentro da universidade e, inclusive, no ensino médio. Hoje existe um incentivo muito maior para programas de iniciação científica para alunos do ensino médio, que auxiliam em despertar o interesse científico desses alunos. Muitas empresas da área de veterinária também têm estimulado premiações científicas, o que ajuda a despertar o interesse na pesquisa”, aponta Carlos Eduardo, que ainda acrescenta: “existem empresas particulares e agentes financiadores públicos que atuam no incentivo de programas voltados para a pesquisa dentro da graduação. A universidade em que atuo possui um programa institucional de iniciação científica, que oferece oportunidade de desenvolvimento de pesquisa científica com suporte técnico e financeiro da universidade, o programa de bolsas Santander. Pelo programa Santander, os alunos podem ganhar bolsas de iniciação científica para desenvolverem projetos de pesquisa, bolsas para ir ao exterior desenvolver parte de projetos de pesquisa, bem como bolsas da Fapesp, fundação estadual que financia pesquisa no estado de São Paulo”.
Já Silvio, que também realiza os Congressos Vet em Foco em parceria com o Grupo Top.Co., aponta que o objetivo do Prêmio Científico que realizam no evento, é incentivar a pesquisa nas universidades. “Esse prêmio tem duas vertentes inovadoras, a primeira é que o prêmio é em dinheiro, algo que não é muito comum nas conferências e congressos. Pensamos isso pelo mérito, para criar essa cultura que é tão comum fora do Brasil, de premiar os trabalhos que merecem com remuneração em dinheiro. Outro diferencial é a divisão por categorias, pois é muito difícil um trabalho de estudante competir com trabalhos avançados, como de doutorado por exemplo. Então dividimos em categorias para propiciar uma melhor equidade na questão avaliativa, dando mais chances para todos. Além disso, ele é realizado em uma feira de negócios, junto do congresso, então, expor o trabalho neste meio é uma experiência única. Somente por estar lá, será valiado, já é um grande crescimento profissional”, detalha Silvio.

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No Prêmio Científico de 2024 vamos premiar também os orientadores que fizerem parte dos projetos de seus alunos

TEMAS DE PESQUISA

Sobre as áreas de pesquisa na Medicina Veterinária, Eryck acredita que as de alimentação sem dúvida desenvolvem as maiores pesquisas. “Já quanto a união entre cadeia produtiva, meio ambiente e sociedade, pesquisar e equilibrar esses três pilares ainda é defasado”, opina. Eryck também destaca que o mercado veterinário precisa, cada vez mais, de pesquisas que tenham como foco a manutenção da qualidade de vida dos animais, bem como da saúde pública. “O veterinário precisa lembrar que ele é parte importante do trabalho de saúde única realizada nos municípios e assim sendo deve, cada vez mais, desenvolver trabalhos que norteiem todas as áreas de atuação do médico veterinário, seja cuidando dos animais ou da humani-dade”, explica.
Já Carlos Eduardo aponta que, no Brasil, as áreas relacionadas à medicina integrativa são muito procuradas pelos alunos, que têm bastante interesse em atuar nas áreas de ozonioterapia, uso de cannabis na medicina e fitoterápicos com viscum album. “São as áreas do conhecimento que os alunos mais me procuram para realizar pesquisa. Ao menos tempo, é uma área difícil de realizar pesquisa, por ser tudo muito novo e em fase de regulamentação. Na veterinária, ainda precisa de muita pesquisa base, como na área de histologia, histopatologia e entendimento do mecanismo de doenças. E é a área mais deficiente, com menos alunos interessados”, acrescenta.

PRÊMIO CIENTÍFICO VET EM FOCO

Com sua 3ª edição sendo realizada nos dias 23, 24 e 25 de abril de 2024, o Prêmio Científico do Congresso Vet em Foco já está com suas inscrições abertas e traz novidades. “Em 2024 vamos premiar também os orientadores que fizerem parte dos projetos de seus alunos. Decidimos implementar esse prêmio ao orientador sabendo da importância do orientador nos trabalhos, sendo determinante para a qualidade do resultado final”, aponta Silvio. “Faz muita diferença numa prova de avaliação curricular como mestrado, não só a participação de Congressos, mas Prêmios e publicações. Mestrandos, doutorandos e residentes, têm um conhecimento que se acoplam perfeitamente bem no Prêmio Vet em Foco. Ter seus trabalhos publicados são ganhos que levarão para a vida. Façam sua escrita benfeita, peçam ajuda aos orientadores e outras pessoas e participem!”, acrescenta Silvio.

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Nicolli Carriel, Primeiro lugar do Prêmio Científico Vet em Foco 2023, categoria Iniciantes, em que recebeu 2.000 reais

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Jéssica Alves (acima) e Luana dos Santos Perroni Mariotti (abaixo)  – As estudantes empataram no segundo lugar no Prêmio Científico Vet em Foco 2023, categoria Iniciantes.

Nicolli Carriel, estudante de Medicina Veterinária na Universidade de Sorocaba (UNISO), ficou em 1º lugar na categoria Iniciantes do Prêmio Científico, e avalia a experiência como muito positiva. “Receber o prêmio foi só a cereja do bolo”, ressalta. Nicolli venceu com um trabalho que investigava a presença de metais pesados em brinquedos para pets, tema que surgiu a partir de uma aula dada por sua então orientadora, Denise Grotto, que atua no departamento de Toxologiada UNISO e é docente no curso de Veterinária. “Percebi que não tinha nada publicado ainda sobre o tema e que não existe uma certificação que ateste que aquele produto é livre de metais pesados. A casuística de intoxicação na clínica é alta e isso pode vir de comedouros e brinquedos inadequados”, explica.
Já as alunas Jéssica Alves, da Anhembi Morumbi, de São Paulo-SP, e Luana Mariotti, da UniMAX, em Indaiatuba-SP, empataram em segundo lugar na categoria Inicinates do Prêmio. “Escolhi o tema com minha orientadora, a Aline Zoppa, pois queria algo que impactasse. Então conseguimos 1.300 cães com neoplasia para fazer o estudo retrospectivo e a faculdade contribuiu com bolsa de estudos para essa parte do trabalho. Estava com muito medo no começo, de ir falar com a professora para orientar o trabalho. Mas minha dica para todos é: perca o medo e dê o primeiro passo para ir atrás do tema, do orientador, converse com as pessoas que já fizeram pesquisa. Quem é premiado ou remunerado tem vantagens na iniciação cientifica, no networking e muda o curso da carreira”, aponta Jéssica.
“Escolhi meu tema (Uso de tecnologias para a saúde animal) para o Prêmio a partir de uma experiência que tive quando passei um mês em Pernambuco fazendo um trabalho com peixes-boi. E continuo fazendo projetos com minha orientadora, Maria Fernanda. Ela me molda desde o início do trabalho, sua ajuda é essencial. Minha dica é sempre estar de coração aberto para todas as áreas. Não temos noção do quanto a pesquisa é importante para um graduando. Desde os seminários que fazemos no início até chegar nos projetos. Fazer networking, estar em contato com pessoas que te inspiram também é muito importante”, aponta Luana.

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Micaella Gandolfi, 1º lugar na categoria Trabalho Científico (A)

Micaella Gandolfi , foi 1º lugar na categoria Trabalho Científico (A) com o trabalho “Osteossarcoma intraocular em Minha um cão”, é oftalmologista veterinária com título de especialista conferido pelo CRMV. “A importância de participar de congresso é sempre se atualizar e contribuir com a área de pesquisa, publicando relato de casos da rotina que não são comuns para ajudar outros oftalmologista a terem melhores diagnósticos”, afirma.

Por Samia Malas