5 dicas para adestrar o filhote de forma positiva

Receber um novo cão em casa é algo que deve ser planejado para que o pet seja muito mais feliz e equilibrado

Dentre os métodos de adestramento, o método positivo tem sido cada vez mais usado pela maioria dos educadores caninos no mundo todo. Trata-se de um método com embasamento científico, com estudos que comprovam sua eficácia, e também se preocupa com o bem-estar dos animais. No adestramento positivo é levado em consideração a emoção do cão, porque um cão feliz e disposto aprende com muito mais facilidade. Não usamos nenhum aversivo físico ou psicológico e a educação é embasada em reforços com uso de recompensas positivas, ou seja, durante o aprendizado, o cão será premiado com algo de que gosta, podendo ser comida, brincadeiras ou outros atrativos para ele.

Quem deu início ao conceito de reforço positivo para cães usado atualmente foi o russo Ivan Pavlov, médico que estudava, entre outros temas, processos digestivos de animais e ficou famoso por trabalhos relacionados ao condicionamento clássico. Um experimento de Pavlov que teve grande destaque foi a descoberta de que cães podiam ser condicionados a associar momentos como a hora da refeição a um som ou comando. Para isso, Pavlov submeteu cães ao som de um sino antes de lhes servir a comida. Quando isso se tornou recorrente, os cães começaram a associar o som ao alimento até mesmo antes da comida ser oferecida a eles. Somente ao ouvir o som, eles já salivavam, tendo, assim, um comportamento condicionado pelo homem. Desse modo, o reforço positivo está associado à escola de pensamento chamada de behaviorismo que teve início no século XIX, se tornando dominante na psicologia entre os anos 1920 até meados de 1950.

Já o psicólogo estadunidense Burrhus Frederic Skinner, em 1950, aprofundou o conceito de condicionamento operante com a chamada Caixa de Skinner, em que submetia animais, como pombos e ratos famintos, em uma caixa com vários estímulos, porém somente um desses estímulos, quando acionado, liberava comida. Logo esses animais estavam condicionados a um comportamento operante que sanava sua fome.   

Além dessas, várias outras pesquisas foram feitas com grupos distintos de cães e outros animais, e, diante de fatos, hoje o adestramento positivo se fortalece cada vez mais.

Tendo isso em mente, quando recebemos um filhote em casa, devemos estar dispostos a utilizar tais conhecimentos em sua educação. Lembre-se que receber um novo cão em casa é algo que deve ser planejado, porque irá garantir um dia a dia muito melhor para todos e um cão muito mais feliz e equilibrado. Confira alguns pontos essenciais para começar a educação do seu pet com o pé direito.

1. Do que ele precisa?

Antes de tudo é preciso estar atento às necessidades do filhote. Além de uma alimentação apropriada para a sua fase de vida, será importante todo o acolhimento da família para que ele se sinta seguro, estímulos físicos e mentais realizados sempre de forma positiva, supervisão e uma boa dose de paciência, já que os filhotes não possuem a maturidade de um cão adulto (falaremos com mais detalhes nos próximos tópicos).

Outras necessidades também podem variar de acordo com a raça ou porte, já que alguns cães, de acordo com sua genética, gostam mais de caçar, outros de roer, outros de companhia etc. Portanto, é sempre importante pesquisar sobre as necessidades da raça – caso ele seja de raça –, ou buscar mais informações sobre os antecedentes do seu filhote. Converse com os responsáveis dos pais do seu filhote sobre como eles são, se possuem algum comportamento acentuado – como latir muito –, ou se já ocorreu incidência de coprofagia (ato de comer fezes) ou alguma necessidade especifica de saúde, pois muitos filhotes tendem a reproduzir os comportamentos e as necessidades dos pais. Isso não é uma regra, apenas um direcionamento. De qualquer forma, é sempre bom saber mais sobre como os pais dos nossos cães vivem e se comportam, pois essa pesquisa traz informações valiosas que ajudarão muito no planejamento com o filhote.

2. Fase de aprendizado

Seu filhote chegou e está na fase de aprender errando: de usar a boca para pegar tudo que vê pela frente, de chamar sua atenção e de aprender o local correto para fazer as necessidades. Tudo isso é um mundo novo para ele e ele precisa ser direcionado. Por exemplo, caso ele comece a morder sua mão ou um objeto indesejado, mude a atenção dele, fazendo usar a boca para morder um brinquedo. Mostre para ele que morder um brinquedo é muito mais interessante que outra coisa, faça festa, incentive.

É sempre importante lembrar que os cães fazem por puro instinto coisas que não são legais dentro de um ambiente urbano (casas, apartamentos e até mesmo em nossos quintais), mas que, na natureza, seria normal. Nós trouxemos os cães para perto de nós e hoje eles são nossos melhores amigos, então, vamos contribuir para que eles possam se adaptar e desfrutar de um ambiente agradável ao nosso lado?

3. Manejo ambiental

A regra mais importante para receber um filhote é o manejo ambiental, ou seja, preparar o ambiente para que o animal tenha um espaço adaptado para ele. Para fazer isso, devemos levar em consideração o tamanho do cão: não o tamanho que ficará enquanto adulto, mas o tamanho daquele filhote. Se o seu filhote é de porte grande o espaço deve ser proporcional, ou seja, ele precisará ter mais espaço para dormir, brincar e fazer as necessidades, mas sem exageros. Quanto maior a restrição neste primeiro momento, mais fácil e perceptível fica para ele onde fazer cada coisa. Se ele tem uma mandíbula mais forte, precisará de brinquedos mais resistentes, como também uma coleira mais firme e por aí vai.

Assim, garanta que ele tenha sempre água fresca à vontade para beber, um local de descanso apropriado e uma caminha ou um colchonete para que ele possa dormir suas 18 horas diárias – em média. É importante que o local sanitário destinado para que ele possa fazer suas necessidades seja do lado oposto à caminha.

Além desses itens básicos, podemos enriquecer o ambiente com brinquedos funcionais (o ideal é ter brinquedos com tamanhos e texturas diferentes). A ideia é que, ao invés de querer morder a quina de um móvel ou o seu chinelo, por exemplo, ele tenha um brinquedo que seja atrativo o suficiente para que ele não se interesse por outras coisas.

4. Estabeleça uma rotina

Feito o manejo do ambiente de forma adequada, seu filhote deverá ter uma rotina estabelecida. Os cães gostam e precisam de previsibilidade. Isso ajudará o seu filhote a ter autocontrole e estabilidade emocional – como saber a hora certa de se alimentar, momentos do dia para interagir com a família para brincar e conhecer coisas novas. Durante o período do protocolo vacinal, quando o cão ainda não está imune a algumas doenças, os médicos-veterinários recomendam que o filhote não tenha contato externo e é muito importante ter esse cuidado. Entretanto, você precisa apresentar o mundo para seu cão. Os quatro primeiros meses do cão são os momentos mais importantes para sua memória e tudo que acontecer com ele ficará mais facilmente guardado por toda sua vida. Leve seu filhote para passear de carro e/ou no colo – enquanto ele não tiver todas as vacinas – e apresente o máximo de estímulos que puder. Isso com certeza fará muita diferença no futuro.

5. Não perca tempo

O melhor momento para educar seu cão será assim que ele chegar em sua casa. Respeitando o espaço ambiental dele você estará garantindo que ele acerte mais do que erre. Todo comportamento reforçado é aumentado, então, não perca tempo: se perceber que o seu filhote está mordendo sua mão, redirecione essa mordida para um brinquedo e incentive. Se ele fizer as necessidades no local errado, ignore, limpe sem que ele veja, aguarde ele acertar e parabenize fazendo festa e oferendo um petisco bem gostoso. Todo comportamento do seu filhote que for reforçado terá mais chances de se repetir, então tente ignorar os erros e, se puder, redirecione para o acerto e sempre reconheça quando ele fizer algo bom. Aos poucos, seu filhote vai aprendendo a se comportar da forma correta e também vai ganhando mais espaço e liberdade.

Atenção à quantidade de petiscos

Os petiscos quando usados como reforço positivo para educação e treinamentos, exigem atenção do tutor com a quantidade e forma como são utilizados. “Entre os problemas que podem surgir com o uso excessivo dos petiscos estão o sobrepeso e até mesmo a obesidade. Por isso, devem ser oferecidos petiscos de alta qualidade, específicos para os pets, e em pequenas porções, para não exceder a quantidade ideal de calorias diárias”, aponta o médico-veterinário Flavio Silva, mestre em nutrição de cães e gatos e supervisor de capacitação técnico-científica em empresa de ração animal.

Vale lembrar que os petiscos não substituem o alimento, que é formulado para fornecer a quantidade adequada de nutrientes essenciais para a saúde dos pets. “Os petiscos são um complemento e devem representar no máximo 10% das calorias diárias indicadas para a idade e o porte do animal”, ressalta o médico-veterinário. Assim, a melhor forma de utilizar petiscos no adestramento é revezando essas recompensas com carinhos e elogios.


Por: Luciana Portugal Souto

Formada em publicidade, já trabalhou com consultoria de marketing para pet shops, mas, atualmente, é representante de alimento de alta qualidade para cães e faz treinamentos positivos para cães de forma presencial e consultorias online. Há 3 anos ajuda a melhorar as relações entre tutores e seus cães através do adestramento positivo. Facebook (GraduaCão) e Instagram (@gradua.cao_)