Suplementação para cães e gatos: um mercado em expansão

Indústria tem investido em soluções para situações em que é preciso reforço extra para suprir as demandas nutricionais dos pets

Assim como acontece com os humanos, alguns cães e gatos também podem precisar de suplementação alimentar para suprir alguma carência nutricional ou mesmo em situações que demandam um manejo específico, tais como senilidade, doenças, gestação e lactação, entre outras. Pode haver, ainda, sinais menos evidentes para nós, leigos, de que a suplementação se faz necessária – queda na disposição do animal, emagrecimento muito rápido ou mesmo queda excessiva de pelos podem indicar que é hora de marcar uma consulta com o veterinário. Isso porque, suplementos não devem ser administrados indiscriminadamente e sem prescrição médica. Mesmo que tenhamos muitas opções desses produtos à venda nos pet shops, é fundamental que o pet faça uma avaliação e realize exames para se certificar de que essa suplementação é realmente necessária e, se de fato for, qual tipo de suplemento é o mais indicado. Ou seja, suplementos não devem ser indicados no balcão da sua loja. “Alguns nutrientes, quando fornecidos em excesso, podem causar intoxicações em cães e gatos. Além disso, podem desbalancear dietas e trazer problemas para a saúde dos pets se forem fornecidos de maneira inadequada”, alerta Vivian Pedrinelli, médica-veterinária, sócia-fundadora da NutricareVet e da Sociedade Brasileira de Nutrição e Nutrologia de Cães e Gatos (SBNutri-Pet), de São Paulo.

NECESSIDADES INDIVIDUAIS

Na maioria dos casos, uma alimentação adequada é suficiente para suprir as necessidades do animal e evitar deficiências de nutrientes importantes, como vitaminas e minerais. Porém, existem situações em que a suplementação se faz necessária, seja em casos de doença ou em animais saudáveis – quando é identificada uma potencial deficiência ou uma vantagem em fornecer algum nutriente além do que a dieta provê. A suplementação pode garantir, por exemplo, uma melhora no sistema imune, no sistema digestivo e até no pelo, além de uma maior disposição e vitalidade ao pet. Quando indicada corretamente, a suplementação beneficia a condição do animal como um todo.
Outro fator importante a se considerar é que cada suplemento deve ser utilizado por um certo período. Embora varie conforme a situação do animal, muitas vezes o uso é por tempo determinado. “O ômega 3, por exemplo, pode ser utilizado no longo prazo. Já outros suplementos devem ser feitos no curto prazo e acompanhados por meio de exames laboratoriais, como no caso da suplementação de vitamina D”, pontua Vivian. Também chamado de ácido alfalinolênico, ele pode ser recomendado pelo veterinário em diversas situações, como doença renal crônica, doença inflamatória intestinal, cardiopatias e alergias em cães e gatos. Já se o objetivo for melhorar a qualidade do sono do paciente – seja ele canino ou felino -, o médico-veterinário pode prescrever triptofano, que além do sono, regula também o apetite, favorecendo a saúde do sistema digestivo.
As vitaminas do complexo B também são opções para a melhorado apetite e, de quebra, estimulam o crescimento e o desenvolvimento dos sistemas nervoso e imunológico do animal e ajudam na prevenção da anemia por atuarem na diferenciação celular. E, falando especificamente da vitamina B12, quando é identificado um déficit desse nutriente, a suplementação é prescrita para evitar certas doenças intestinais inflamatórias. “Já a vitamina C favorece a saúde do trato urinário e dos rins e, junto com outras vitaminas, como a E, e minerais como o selênio, pode retardar o avanço da artrite”, informa Wynne Vieira Faria, médica-veterinária da Rede de Serviços Veterinários Vet Popular. Ela ainda destaca ainda o fato de que, como antioxidante, a vitamina C retarda a degeneração das cartilagens.
Entre os nutrientes que podem ser prescritos pelos profissionais de saúde, estão também os prebióticos e probióticos, que são utilizados como fontes de energia e causam alterações benéficas na microbiota intestinal e em sua atividade metabólica. Os betaglucanos podem ser receitados em casos de doenças inflamatórias e de baixa imunidade, enquanto a metionina auxilia na síntese de proteínas e anticorpos. Já o ácido fólico tem nos pets funções semelhantes às que desempenha no organismo humano, especialmente nas gestantes e lactantes: é uma vitamina essencial para a multiplicação das células de todos os tecidos, ajuda a diminuir o risco de lesões no tubo neural dos fetos em formação, colabora no processo de formação da placenta e previne doenças. E o ácido fólico também é utilizado em filhotes de cães e gatos para auxiliar no seu desenvolvimento, segundo Wynne.

PERIGOS DA AUTOMEDICAÇÃO

Quando a suplementação é ministrada por conta própria, de acordo com o que o tutor acredita ser o melhor para o pet, pode haver consequências problemáticas para a saúde dos peludos, pois algumas substâncias não devem ser utilizadas em animais ou são específicas para cada espécie. “Automedicar um animal sem conhecimento pode levar a um quadro de intoxicação, à piora da saúde do pet e até mesmo a óbito”, reforça Wynne. No caso dos filhotes, por exemplo, se eles consomem alimentos completos e de boa qualidade, não necessitam de suplementação de cálcio. “O excesso desse nutriente durante a fase de crescimento pode causar alterações articulares que, muitas vezes, não são possíveis de tratar e levam a sequelas que podem permanecer pelo resto da vida do animal”, afirma Vivian.
Até mesmo as vitaminas, que podem parecer inofensivas, quando fornecidas em excesso, desencadeiam quadros de intoxicação, como acontece, por exemplo, com a vitamina A e a vitamina D. Sem contar que a hipervitaminose também pode provocar reações alérgicas, náuseas e vômitos. Por isso, mesmo que não sejam consideradas medicamentos, elas devem ser ministradas com cautela e sempre com o acompanhamento de um médico-veterinário, que fará a devida avaliação clínica e, se houver necessidade, pedirá exames complementares. “A suplementação de vitamina D, por exemplo, deve ser feita com muito cuidado. Assim como está acontecendo em humanos, tem aumentado a frequência de animais intoxicados por excesso desse nutriente devido à suplementação inadequada. Apesar de ser uma vitamina ‘da moda’, ela não deve ser indicada sem o acompanhamento de um médico-veterinário, uma vez que, quando ocorre um acúmulo no organismo, existe risco de formação de alterações ósseas e de calcificação de órgãos”, alerta a sócia-fundadora da NutricareVet.

Agradecemos a colaboração de  Vivian Pedrinelli Médica-veterinária formada pela FMVZ-USP. Possui residência em Nutrição e Nutrição Clínica de Cães e Gatos pela Unesp/Jaboticabal e mestrado com foco em nutrição de cães e gatos pela FMVZ/USP. Atualmente, cursa doutorado na mesma instituição, participa do Centro de Pesquisa em Nutrologia de Cães e Gatos (CEPEN Pet) e do Serviço de Nutrologia de Cães e Gatos do Hospital Veterinário da FMVZ/USP. É sócia-fundadora da NutricareVet e da Sociedade Brasileira de Nutrição e Nutrologia de Cães e Gatos (SBNutriPet) e Wynne Vieira Faria Médica-veterinária da Rede de Serviços Veterinários Vet Popular.


 

Por Samia Malas e Lila de Oliveira