Profissão Vet: desafios, carreira e motivação

Nesta data especial que é o mês do Veterinário, perguntamos a alguns profissionais detalhes sobre a trajetória deles

Foto: eileen/iStockphoto

Por: Samia Malas

A decisão de se tornar um médico-veterinário é algo que vem praticamente do berço. Raramente um estudante ou veterinário formado diz que teve a ideia de fazer Medicina Veterinária somente no ano em que prestou o Vestibular, como é comum em outras carreiras. Por isso, e por outros tantos motivos, que essa profissão é tão bonita e nobre, e que tem crescido e ganhado mais respeito da sociedade, mesmo que o caminho do reconhecimento maior da profissão ainda tenha um caminho a percorrer. Neste mês de Setembro, onde comemoramos o Dia do Veterinário no dia 09, aproveitamos este Anuário Med Vet em Foco para perguntar a alguns profissionais sobre a carreira deles e o que os motivou, e ainda motiva, a seguir em frente nessa área. Confira e inspire-se!

Foto: Divulgação/Estela Pazos: 19 anos de profissão

Por que se tornou vet? Por sentir muito amor, afinidade e proximidade com os animais e buscar ser porta-voz de suas queixas para amenizar dor e sofrimento. Desafios da profissão: a falta de tempo é um dos maiores desafios, assim como as grandes cargas horárias de trabalho, nem sempre bem remuneradas. Temos também a falta de preparo na comunicação com os tutores dos animais que podem trazer alguns aborrecimentos.
Como avalia a evolução da profissão: tivemos um grande crescimento nestes 19 anos. Aumentou significativamente a quantidade de cursos de especialização, tivemos melhora nos exames de diagnóstico, temos tutores que buscam mais informações sobre seus animais e, consequentemente, procuram mais cuidados veterinários, inclusive preventivos. Medicamentos e alimentos evoluíram muito, assim como todos os produtos do mercado pet.
O que te faz seguir em frente? Minha maior motivação é fazer o que eu amo: trabalhar com felinos dentro da área integrativa. O contato com gatos me faz bem, saber que posso ajudá-los me faz realmente feliz e não me vejo fazendo outra coisa.
Como se destacar? O profissional precisa sempre estar atualizado, ir a congressos, estudar, ler artigos científicos e conseguir auxiliar o paciente em suas necessidades. O tutor quer ver seu animalzinho melhorando e sentindo confiança no veterinário. Trabalhar em uma área diferenciada também proporciona destaque e gera indicações de colegas e também a indicação entre os tutores de animais.
Estela Pazos é médica-veterinária de Felinos (Autônoma), de São Paulo-SP

Foto: Divulgação/Daniela Formaggio: 24 anos de profissão

Por que se tornou vet? Nunca consegui me ver fazendo algo que não fosse cuidar de animais, desde pequena já resgatava animais de rua, cuidava e encontrava um lar com a ajuda da Associação Protetora de Animais de Piracicaba, cidade onde cresci. Desafios da profissão: lidar com o crescente números de faculdades que estão abrindo, são muitos veterinários no mercado de trabalho a cada ano, muito mais do que em outros países, isso causa uma concorrência muitas vezes não ética por parte dos profissionais da área.
Como avalia a evolução da profissão: nos últimos anos a veterinária evoluiu muito como um todo, desde exames complementares como os exames de laboratório e de imagem até a realização de cirurgias complexas. Quando me formei o ultrassom era um exame muito caro, hoje em dia fazemos de rotina. Tomografia computadorizada e ressonância magnética também são exames realizados com frequência. Hoje temos praticamente todas as especialidades na veterinária, o animal não é mais atendido apenas pelo clinico geral, mas sim encaminhado para especialista, isso faz com que o animal tenha uma qualidade de vida maior e também aumento de expectativa de vida.
Daniela Karine Formaggio é medica-veterinária no Hospital Veterinário Taquaral, em Campinas-SP

Foto: Arquivo Pessoal/Andrigo Barboza de Nardi: 21 anos de carreira

Por que se tornou vet? Sempre sonhei em ser médico-veterinário, desde criança era a profissão que imaginava seguir. Sempre fui muito ligado aos animais. Passava os finais de semana em meios aos animais na chácara dos meus avós maternos na região metropolitana de Curitiba. Isso, sem dúvida, reforçou aminha paixão pela medicina veterinária.
Desafios da profissão: são inúmeros os desafios, no entanto, acredito que um dos principais é o médico-veterinário se manter constantemente atualizado. A ciência tem evoluído de forma muito rápida, com o lançamento de novas tecnologias e produtos. Desta forma, ao mesmo tempo que isso é positivo e alavanca a profissão, proporciona um imenso desafio.
Como avalia a evolução da profissão: observamos um salto fantástico de qualidade no atendimento dos pacientes. Por exemplo, na área em que trabalho, que é a oncologia, o câncer, há 20 anos, era sinônimo de morte ou eutanásia. No entanto, graças a evolução da Medicina Veterinária isso mudou de forma significativa e os pacientes com câncer são muito bem assistidos e apresentam uma boa qualidade de vida, mesmo quando não é possível proporcionar a cura do paciente.
O que te faz seguir em frente? O que mais me motiva a seguir em frente, trabalhando cada dia mais na e pela Medicina Veterinária, é a imensa paixão e carinho que sinto por essa profissão. Sou muito feliz em ser médico-veterinário. Além disso, enxergo a Medicina Veterinária brasileira como uma estrada de muitas oportunidades, vejo uma profissão extremamente promissora e cabe a cada um de nós, buscar essas oportunidades para crescermos profissionalmente e também ajudarmos a impulsionar a profissão.
Como se destacar? O principal diferencial é a dedicação, e isso envolve muito trabalho e estudo. Hoje o profissional mais bem preparado, com uma maior carga de conhecimento e informações, tem mais espaço nesse mercado competitivo. Como disse, trabalhamos em uma profissão extremante promissora aqui no Brasil, no entanto, para conquistar essas oportunidades, isso está atrelado à muito trabalho e estudo.
Andrigo Barboza De Nardi é Professor de Cirurgia e Oncologia do Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária da UNESP, Campus de Jaboticabal.

Foto: Divulgação/Beatriz Mattes: 18 anos de carreira

Por que se tornou vet? Pelo amor que tenho aos animais desde criança.
Desafios da profissão: muita informação falsa nas redes e muita faculdade aberta nos últimos anos sem o mínimo de condições, que acaba formando muitos profissionais despreparados, levando a uma desvalorização da profissão.
Como avalia a evolução da profissão: muito positiva, principalmente em medicamentos específicos para animais, exames diagnósticos cada vez mais eficazes e especialidades médicas, além da medicina veterinária integrativa.
O que te faz seguir em frente? O que me motiva todos os dias é ver que os esforços são recompensados quando recebemos um olhar, uma “lambida”, um afago de gratidão.
Como se destacar? O mais importante é ter ética profissional e sempre se atualizar. Nunca paramos de estudar.
Beatriz Mattes, de São Caetano do Sul-SP, atua com medicina felina e medicina do coletivo na ONG Catland.

Foto: Divulgação/Rita Ericson Fernandes: 29 anos de profissão

Por que se tornou vet? Quando era criança, dizia que me tornaria veterinária para inventar um remédio que impedisse os filhotes de crescer, este era o meu sonho.
Desafios da profissão: São muitos, a começar pelo número de faculdades de veterinária que existem no Brasil e no Rio de Janeiro. Temos mais universidades aqui do que no mundo inteiro, fora os desafios relacionados ao exercício da profissão. Sofremos muito de frustração por aqueles animais que a gente poderia ajudar, mas o responsável não é capaz. Sofremos com o sofrimento dos aninais e das famílias, não temos a valorização devida, ganhamos muito menos do que um médico ou um dentista. Como avalia a evolução da profissão: as grandes mudanças vêm da alteração de papel que os animais tiveram nos últimos anos. Eles viraram membros da família há pouco tempo. Na época das nossas avós eles nem entravam em casa. Desde que me formei a grande modificação que houve foi o surgimento dos veterinários especialistas na veterinária, principalmente nas cidades grandes, o que melhora muito o atendimento. Hoje queremos saber muito de um assunto só, e não ser um profissional generalista.
O que te faz seguir em frente? A paixão pelos animais, a melhora da qualidade de vida deles, me fascina divulgar informações que possam melhorar a convivência e harmonia na família multiespécie.
Como se destacar? O amor, a dedicação e a honestidade naquilo que você faz. O veterinário tem que se cuidar, isso virou um clichê, mas quem cuida precisa ser cuidado. Precisa fazer terapia, ter amigos, hobby. E claro, tentar descobrir aquilo que você mais gosta na profissão, seja uma especialidade, ou clínica geral, além de estagiar, fazer pós-graduação, doutorado, enfim, estudar.
Rita Ericson Fernandes é veterinária clínica e comportamentalista do Rio de Janeiro-RJ

Foto: Arquivo Pessoal/Paola Monte Alegre Américo: 22 anos de carreira

Por que se tornou vet? Sempre amei medicina e animais. A Veterinária foi a união perfeita.
Desafios da profissão: a grande quantidade de faculdades que existem hoje e a queda na qualidade do ensino fazem com que os novos profissionais entrem no mercado defasados tecnicamente, num mundo que hoje está muito mais competitivo do que quando me formei em 2001.
Como avalia a evolução da profissão: um avanço em todos os aspectos, tecnológicos, de diagnósticos, novos tratamentos e também sobre o olhar do tutor sobre seu pet.
O que te faz seguir em frente? Entregar resultados cada vez melhores aos tutores e bem-estar aos pets através do meu trabalho.
Como se destacar? Além do preparo técnico, o preparo na formação de relacionamento. Não é somente fechar diagnóstico e tratar, e sim saber se relacionar com o tutor, entender suas questões, ser resiliente e, principalmente, saber trabalhar em equipe.
Paola Monte Alegre Américo é Sócia-Proprietária do Hospital Veterinário Clinvet 24 Horas, Cirurgiã e Responsável Técnica.