Anestesia, UTI e Emergência em Foco - volume 11, nº 02- 2021 •Editorial

Relacionar-se para superar Trabalhei 8 anos em grandes e pequenos Call Centers desenvolvendo diagnósticos operacionais que me levassem ao entendimento das expectativas humanas, a formas de comunicação com o cliente para que as relações fossem justas e adequadas para os dois lados. Na Top.Co, no entanto, me deparei com a realidade de não haver bem a figura calhada de um cliente; há leitores; há pessoas; há parceiros. E as pessoas, mais do que as coisas, é que dão sentido à vida, que nos motivam e nos emocionam. Aqui é como se eu estivesse dentro de uma obra machadiana, em que a ordem cronológica é interrompida e realmente o autor parasse a narrativa e dialogasse com o leitor, indagando sobre suas sensações a respeito do que leu. E num desses diálogos com uma assinante querida, vivi uma situação que, para muitas centrais de atendimento, seria inusitada, impossível, e não haveria um sistema de CRM capaz de ter espaço tecnológico para registrar exatamente a “ocorrência”. Sem falar que a ligação seria bloqueada pelo sistema após três minutos de chamada. Ela estava radiante, mas endividada. Seu gato, adquirido por 6.000 reais de um gatil, foi declarado por ela curado de PIF. Relatou que na primeira semana com ele, logo o internou por 4.000 reais, investiu outros 20.000 em tratamento com antiviral e que, apesar disso e das consultas por 1.700,00 cada, comemorava o sucesso dos procedimentos! Experiência única essa de ler o leitor de volta, coisa que Machado não conseguia, mas nós conseguimos. Há cura para tudo. É só uma questão de tempo. No ano passado, a Pubvet publicou um artigo de Massitel et al. relatando que em 2014 foi declarado por Barros que não havia cura para a PIF, mas que em 2018, Murphy já mudara essa realidade apresentando o sucesso do uso da molécula GS-441524 para aumentar significativamente a sobrevida dos gatos como o da nossa leitora. Nesse momento de resgate, o gato era o maior leitor dessa tutora e ela, a sua. Para você, que é o nosso, deixamos novas reflexões: apenas 36% dos tutores de gatos pesquisados pela FGV levam periodicamente seus gatos ao veterinário, mas a PIF não é facilmente diagnosticada, mesmo com consultas periódicas. É com o foco nessas situações desafiadoras que abrimos este espaço a você: pesquisador, leitor.