ZOONOSES EM FOCO: ESPECIALISTAS FAZEM ALERTAS SOBRE DOENÇAS E VERMINOSES EM PETS

CONTROLAR AS DOENÇAS ZOONÓTICAS É UM DESAFIO CONSTANTE DOS ÓRGÃOS PÚBLICOS E O MÉDICO-VETERINÁRIO TEM UM PAPEL FUNDAMENTAL NO PROCESSO

Foto: LightFieldStudios/iStock

Por: Samia Malas

Segundo a Organização Mundial da Saúde Animal (OMSA) 75% das doenças infecciosas emergentes humanas têm origem animal. Em todo o mundo existem mais de 200 tipos de zoonoses e mais da metade (60%) são causadas por patógenos conhecidos, como vírus, bactérias, parasitas, protozoários e fungos. As zoonoses correspondem a 75% das doenças emergentes, aquelas que se espalham rapidamente entre a população. Ainda segundo a OMSA, 60% dos patógenos que causam doenças em humanos tiveram origem em animais. 
“Cada doença caracteriza-se por um padrão epidemiológico diferente, que vai depender dos animais vertebrados e invertebrados, fatores ambientais, climáticos e socioeconômicos relacionados com o risco de adoecimento da população. Dessa forma, as distribuições espaciais dessas doenças variam nas regiões do país. Por exemplo, 66% dos 335 casos de febre maculosa registrados no Brasil em 2023 ocorreram na região Sudeste: São Paulo (111), Minas Gerais (66), Espírito Santo (23) e Rio de Janeiro (10), segundo os dados do Ministério da Saúde”, revela o médico-veterinário Francisco Edilson Ferreira de Lima Júnior, integrante da Comissão Nacional de Saúde Única do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV). 
O fato é que cada uma destas doenças exige que o veterinário siga protocolos específicos, já que o controle de zoonoses funciona mediante protocolos e programas de controle instituídos pelo Ministério da Saúde e, dentro do Sistema Único de Saúde (SUS), é absorvido pelo sistema estadual e municipal de saúde. “É difícil estimar a ocorrência das dermatozonoses no Brasil, visto que essas doenças em animais não são agravos de notificação compulsória em todo território nacional. Mesmo nos estados/municípios onde a notificação é obrigatória, infelizmente existe a subnotificação. Destaco a esporotricose e a leishmaniose visceral como dermatozoonoses relevantes no Brasil, pois ocorrem em todas as regiões do país e podem apresentar quadros clínicos graves e até a morte”, alerta Sandro Antônio Pereira, veterinário com PhD e chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em Dermatozoonoses em Animais Domésticos da Fiocruz. Ainda segundo ele, no Brasil, “o desafio de combater estas zoonoses é enorme, pois são doenças mais do que negligenciadas em um país continental, com todos os problemas que conhecemos”.

“É preciso que o veterinário oriente os tutores e os proprietários de animais sobre os perigos dessas doenças, explicando como preveni-las, quais cuidados de higiene adotar e as práticas importantes para proteger tanto os animais quanto as pessoas do risco de infecção” diz Dr. Francisco Edilson Ferreira de Lima Júnior, da Comissão Nacional de Saúde Única do CFMV

 

INFORMAÇÃO E CONSCIENTIZAÇÃO
Um caminho importante para conter o avanço das zoonoses é apostar em uma abordagem de ‘Uma Só Saúde’ (One Health). O conceito faz a interconexão entre a saúde humana, animal e ambiental, propondo uma forma integrada para lidar com os desafios de saúde pública. “O uso da abordagem ‘Uma Só Saúde’ deve ser amplamente estimulado quando se deseja ter êxito nas ações de prevenção e controle dessas zoonoses. Nesse contexto, a notificação compulsória dos casos de leish e esporotricose em todo país teria um papel importante, pois iria fornecer dados sobre a magnitude delas, auxiliando no direcionamento de ações”, opina Sandro. 
É igualmente importante que os veterinários participem dos sistemas de vigilância das zoonoses, notificando autoridades sanitárias sobre casos suspeitos ou confirmados dessas doenças, contribuindo na investigação dos casos e colaborando com a detecção oportuna de surtos, aponta Francisco. “O CFMV atua com inciativas de educação continuada, por meio de cursos, fóruns e seminários sobre zoonoses e saúde pública com os profissionais; campanhas de comunicação que reforçam o papel do médico-veterinário na prevenção e controle de zoonoses e a produção de manuais e guias práticos sobre essas doenças. Ademais, o CFMV tem dialogado com órgãos e entidades da saúde pública, como o Ministério da Saúde e conselhos de profissões da área da saúde, para reforçar a inserção e integração dos médicos-veterinários no âmbito das políticas públicas voltadas para a prevenção e controle dessas enfermidades”, destaca Francisco. 
Dr. Frederico Miranda Pereira, Gerente e Responsável Técnico da Biocon, dá alguns conselhos aos médicos-veterinários: “utilize plataformas de diagnóstico que sejam rápidas e confiáveis e realize testes regulares para monitoramento de possíveis doenças. Siga rigorosamente as Boas Práticas de Laboratório na coleta, armazenamento e execução dos testes, pois a qualidade dos resultados depende de sua correta aplicação. Em casos de doenças com potencial zoonótico, é essencial orientar os tutores sobre os riscos de transmissão e a importância de práticas adequadas de higiene. Além disso, reforce a necessidade de manter a vacinação em dia e o controle regular de parasitas. Esses e outros pontos devem ser discutidos com os tutores para garantir a saúde e o bem-estar de todos.”

“O uso da abordagem ‘Uma Só Saúde’ deve ser amplamente estimulado quando se deseja ter êxito nas ações de prevenção e controle dessas zoonoses” diz Dr. Sandro Antônio Pereira, chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em Dermatozoonoses em Animais Domésticos da Fiocruz

 

DIAGNÓSTICO AINDA É TARDIO
Segundo Francisco, a identificação precoce das zoonoses em animais é essencial. Porém, o diagnóstico das zoonoses ainda é um grande desafio, tanto para o médico de humanos quanto para o veterinário, aponta Camila Eckstein, médica-veterinária, Especialista de Produtos da Linha Veterinária e Responsável Técnica da Bioclin Vet. “Algumas das zoonoses de alta prevalência podem apresentar poucos ou nenhum sinal da infecção por períodos prolongados. Por isso as ferramentas de triagem e testes confirmatórios são essenciais para o diagnóstico, consequentemente, para a tomada de decisões e instituição adequada do tratamento e medidas de controle”, destaca Camila. 
Para Dr. Frederico, o diagnóstico de zoonoses em pets tem avançado com o uso de novas tecnologias e métodos laboratoriais Point-of-Care (POC), que oferecem grande precisão, rapidez e facilidade de execução. “As principais ferramentas disponíveis no mercado incluem testes rápidos imunocromatográficos, que detectam antígenos ou anticorpos de forma prática e eficiente, além de testes moleculares, como o RT-q PCR, que garantem ainda mais sensibilidade e especificidade no diagnóstico dessas doenças”, compartilha Dr. Frederico, que ainda reforça: “o diagnóstico precoce, especialmente em doenças zoonóticas, é essencial para a saúde e o bem-estar dos animais e tem grande importância para a saúde pública. Com os testes POC, os médicos-veterinários conseguem obter resultados em minutos ou horas, possibilitando a detecção e o início do tratamento ainda durante a consulta. Isso é crucial para a prevenção e o controle da transmissão para seres humanos, além de permitir um tratamento mais rápido e eficaz para os animais, melhorando significativamente o prognóstico do paciente.” 
“É importante ressaltar que além das ferramentas sorológicas, que são essenciais para o diagnóstico, o uso de ferramentas quantitativas como a PCR (reação em cadeia pela polimerase) em tempo real permite acompanhar o tratamento pela quantificação do patógeno em amostras biológicas”, alerta Camila. Ainda segundo ela, os veterinários têm apresentado cada vez mais o compromisso com o diagnóstico precoce. “A busca por ferramentas que agilizam o processo, assim como a procura por informações técnicas indicam que o veterinário está se tornando cada vez mais capacitado no diagnóstico ágil e preciso. O diagnóstico precoce é a melhor ferramenta que podemos ter no combate às doenças. Identificar a sua ocorrência é o primeiro passo de uma jornada que pode ser simplificada quando realizada no início da infecção, reduzindo os impactos e a gravidade para o animal e ainda reduzindo o risco de transmissão”, enfatiza Camila.

“Com os testes POC, os médicos- veterinários conseguem obter resultados em minutos ou horas, possibilitando a detecção e o início do tratamento ainda durante a consulta” diz Dr. Frederico Miranda Pereira, Gerente e Responsável Técnico da Biocon

 

ESPOROTRICOSE PREOCUPA VETS
A esporotricose, causada pelo fungo Sporothrix brasiliensis (nova espécie descoberta só em 2007), parasita que infecta os gatos, e vem causando muita preocupação, pois é altamente virulenta. Este patógeno é desafiador, pois forma biofilme e pode ficar latente, sem clínica. Aliás, a esporotricose tem se alastrado pelo Brasil sem nenhuma política de controle epidemiológico. Para se ter uma ideia, entre 2011 e 2021, o número de felinos diagnosticados com a doença subiu 1.342%, ou seja, de 71 para 1.024 casos, de acordo com levantamento feito pelo Laboratório de Zoonoses e Doenças Transmitidas por Vetores (Labzoo), da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) de São Paulo. A doença também tem crescido no estado do Rio de Janeiro, cujos casos notificados em 2019 na capital carioca representam 10% da população felina da cidade. “A esporotricose vem tendo destaque maior nos últimos 10 anos pela expansão geográfica para todas as regiões do Brasil e para alguns países vizinhos, como Argentina, Chile e Paraguai. Cabe ressaltar, que o Brasil possui a maior casuística publicada de esporotricose animal no mundo desde o início de 2000”, acrescenta Sandro. Ainda segundo ele, lamentavelmente, o gato doente é a principal fonte de infecção de Sporothrix brasiliensis para outros animais e para o ser humano (deixando claro que o gato não é um vilão). “Dessa forma, as ações de controle e prevenção devem necessariamente passar pela população felina, o que é uma tarefa muito complexa. É uma doença que acomete, de uma forma geral, populações economicamente desfavorecidas, então, o diagnóstico e tratamento gratuitos, assim como a castração de animais e cremação de carcaças, seriam medidas importantes para a tentativa de controle dessa enfermidade em uma região. Adicionalmente, problemas relacionados à guarda responsável representam um outro desafio no combate dessa micose, sendo importante a implementação de ações de educação em saúde”, lista Sandro. 
Dra. Leila Lopes Bezerra, é CEO e fundadora da BIDiagnostics, startup responsável pelo desenvolvimento de um teste sorológico inovador que não só diagnostica a esporotricose como monitora a cura da infecção (cura micológica) e a resposta ao tratamento. O Sporothrix spp IgG ELISA (RUO) foi validado para o Sporothrix brasiliensis e já está disponível em laboratórios de referência como o TECSA (teste felino) e a rede DASA (teste humano). A BIDiagnostics também está desenvolvendo um Teste Rápido, segundo explica Leila, em conceito de Point of Care (POC), que poderá ser usado como teste de triagem no momento da consulta pelo médico-veterinário, pois permitirá que o profissional realize o diagnóstico em 15 minutos, reduzindo custos, simplificando a logística e diminuindo o tempo de diagnóstico. Ainda segundo Leila, atualmente, o teste padrão-ouro para detectar a doença, o teste micológico, é demorado (de 15 a 30 dias), envolve mais custos para ser realizado e a taxa de falsos negativos é alta uma vez que o animal tenha iniciado um tratamento, pois a droga antifúngica é de livre acesso aos tutores. O novo teste rápido, que deve ser lançado em breve, será feito através de coleta de uma gota de sangue do animal (semelhante ao que é feito em teste para FeLV ou leishmaniose) e será mais uma forte ferramenta para triagem e diagnóstico da doença.
Mesmo a esporotricose tendo tido muita atenção por seu crescimento, Dr. Frederico lembra que a toxoplasmose também é uma doença de grande importância em Saúde Pública e seus hospedeiros definitivos também são os felinos. “O Toxoplasma gondii é um coccídeo intracelular obrigatório, que infecta naturalmente o homem, os animais selvagens e domésticos, e também os pássaros. Possui ampla distribuição geográfica e depende de alguns fatores como clima, condição socioeconômica e cultural. A infecção ocorre pela ingestão de oocistos, taquizoítos, ou bradizoítos, e em algumas espécies, também por transmissão transplacentária e/ou transmamária”, elucida.

“O diagnóstico precoce é a melhor ferramenta que podemos ter no combate às doenças. Identificar a sua ocorrência é o primeiro passo de uma jornada que pode ser simplificada quando realizada no
início da infecção” diz Camila Eckstein, Responsável Técnica da Bioclin Vet

 

NOVIDADES E ATUALIZAÇÕES
No âmbito das zoonoses, Francisco Edilson Ferreira de Lima Júnior, da Comissão Nacional de Saúde Única do CFMV, destaca algumas novidades e atualizações de maior relevância para saúde pública:
Raiva: o país tem se mantido sem o registro de casos de raiva humana transmitida por cães há 9 anos, superando o prazo de 5 anos exigidos pela OMS para declarar uma área livre de raiva humana mediada por cães. O próximo passo é o país, por meio do Ministério da Saúde, elaborar um dossiê para submeter a essa organização e ter esse status de eliminação reconhecido oficialmente.
Sistema de informação: o Sistema de Informação em Saúde Silvestre – SISS-Geo é a plataforma computacional essencial e inerente ao funcionamento do Centro de Informação em Saúde Silvestre – CISS. Trata-se de uma plataforma digital criada a partir dos preceitos da ciência cidadã. O sistema tem sido aprimorado e cada vez mais adaptado nos últimos anos para atender às necessidades da vigilância de zoonoses. Existe a perspectiva de que o uso dessa plataforma seja ampliado para a vigilância de outras zoonoses.
Comitê Interinstitucional de Uma Só Saúde: foi estabelecido pelo Decreto Nº 12.007, de 25 de abril de 2024, do Governo Federal. Esse Comitê tem a finalidade de elaborar e apoiar a implementação do Plano de Ação Nacional de Uma Só Saúde, o qual tem como objetivo traçar diretrizes para a prevenção e o controle de ameaças à saúde, por meio de abordagem integrada e cooperativa que reconheça a conexão entre a saúde humana, a saúde animal, a saúde vegetal e a saúde ambiental.

Também estamos desenvolvendo um Teste Rápido para a esporotricose, em conceito de Point of Care, que poderá ser usado como teste de triagem no momento da consulta pelo médico-veterinário, pois permitirá que o profissional realize o diagnóstico em 15 minutos” diz Dra. Leila Maria Silva Lopes, CEO e fundadora da BIDiagnostics

 

VERMINOSES TAMBÉM MERECEM ATENÇÃO
Giardia spp., Toxocara canis e Toxocara cati, Ancylostoma spp., Dipylidium caninum, Trichuris, Cystoisospora, Taenia spp., Platinossomose (doençada lagartixa dos gatos) e Tritrichomonas foetus (comum em gatis e abrigos de gatos) estão entre os endoparasitas mais comuns nos cães e gatos e possuem caráter zoonótico. “Todos estes parasitas são causadores de doenças consideradas zoonoses, apesar de algumas ocorrerem de forma acidental e serem de ocorrência rara em humanos. Para prevenir o risco de transmissão, o ideal é minimizar a possibilidade de contato dos pets com esses agentes e lavar as mãos após manipular os pets. Nos casos de infecção animal, tratá-lo com o uso de produtos específicos para esse fim conforme o parasita envolvido, além de manejo e cuidados adequados”, aponta o Esp. Ms. Dr. Claudio Nazaretian Rossi, gerente Técnico Nacional da Unidade Pet, Ceva Saúde Animal.

“É fundamental que o veterinário avalie periodicamente o paciente e realize exames […] e métodos complementares para o diagnóstico precoce” diz Claudio Nazaretian Rossi, gerente Técnico Nacional da Unidade Pet, Ceva Saúde Animal

Como é comum o pet estar parasitado por mais de um tipo de parasita, o médico-veterinário Kauê Ribeiro da Silva, Coordenador de Comunicação Técnica da Vetnil reforça a importância de utilizar preferencialmente produtos de amplo espectro para o tratamento. “Mas isso não dispensa avaliação clínica e diagnóstico adequados”, acrescenta Kauê. “De forma geral, o contágio de endoparasitas em cães se dá pela ingestão de ovos dos vermes (água, objetos ou alimentos contaminados), ingestão de hospedeiros intermediários infectados (pulgas), penetração de larvas pela pele e pode ocorrer transmissão via placenta ou leite materno”, explica Kauê. 
“A giardíase é uma doença muito comum em cães e gatos, mas pode acometer praticamente todas as espécies de mamíferos. A contaminação ocorre por meio da ingestão de cistos eliminados por animais infectados, que podem contaminar água, alimentos e fômites e podem sobreviver por longos períodos no ambiente, sendo resistentes à maioria dos desinfetantes. Os trofozoítos afetam o intestino delgado, causando diarreia aguda, crônica, intermitente ou persistente. É comum a ocorrência de pets assintomáticos, pois o surgimento dos sinais clínicos está relacionado com a condição do sistema imunológico e a susceptibilidade individual do pet”, detalha Dr. Frederico. 
A contaminação por endoparasitas é tratada por meio de vermífugos orais e controle ambiental com higiene regular e uso de sanitizantes que matam os vermes. E o único remédio que pode fazer a prevenção é o antipulgas para evitar o Dipylidium. “Em geral, podemos usar vermífugos de amplo espectro. O fembendazol tende a ser mais específico para tratamento de vermes redondos, como Ancylostoma spp. e Toxocara spp., além de ser o fármaco de escolha para tratamento da giardíase. Já o praziquantel e o pirantel tendem a ser mais específicos para tratamento de vermes chatos, como Dipylidium spp.”, explica Kauê. 
Já para combater o Cystoisospora spp deve-se fazer a administração de antibióticos do grupo das sulfonamidas. 
Ana Elisa de Pádua Rosa, Gerente de Trade Marketing Agener União, destaca que, de acordo com pesquisa realizada pela Comac, em 2023,72% dos tutores de cães e 55% dos tutores de gatos afirmam fazer o uso de vermífugos em seus animais, porém em 2019, esses percentuais eram maiores, 83% e 74% respectivamente, indicando a redução dos cuidados com o combate e prevenção das endoparasitoses. “Esse comportamento indica que, mesmo com o estreitamento da relação dos tutores com os seus pets, ainda há a necessidade da conscientização em relação a importância da vermifugação e quais as consequências que podem ser geradas com a negligência de não fazer o uso frequente de antiparasitários. Além disso, a escolha da base correta, de acordo com a necessidade do pet, é um desafio, pois muitas vezes, o tutor não quer investir ou não compreende a importância de um exame coproparasitológico, dificultando ou até impossibilitando um diagnóstico assertivo. Outro obstáculo é assegurar o comprometimento das pessoas em realizar com frequência a vermifugação de acordo com o estilo de vida do seu animal ao longo do ano e a falta de informação sobre como realizar uma limpeza apropriada do ambiente em que os animais vivem e frequentam, assim como equipamentos e utensílios utilizados no dia a dia, já que grande parte das pessoas não fazem adequadamente. Os desinfetantes à base de amônia quaternária são os mais indicados tanto para o uso doméstico quanto em hospitais veterinários, clínicas, pet shops e canis”, destaca. Ainda segundo Ana Elisa, quando se trata das indicações de bases para o controle de parasitoses, podemos dizer que os benzimidazóis, tetraidropirimidinas, lactonas macrocíclicas e pirazinoisoquinolonas são as escolhas mais frequentes entre os veterinários. “Sendo a administração via oral, transdérmica ou injetável, seguras e eficazes tanto no combate quanto na prevenção das mais diversas endoparasitoses que afetam os animais domésticos”, acrescenta. Entre as complicações das endoparasitoses, estão: obstrução intestinal, anemia grave, prostração geral, desidratação severa, má absorção de nutrientes, insuficiência cardíaca, edema pulmonar e óbito.

“É comum o pet estar parasitado por mais de um tipo de parasita. Isso reforça a importância de utilizar preferencialmente produtos de amplo espectro para o tratamento” diz Kauê Ribeiro da Silva, Coordenador de Comunicação Técnica da Vetnil

 

ZOONOSES POR VETORES
Há ainda as zoonoses transmitidas por vetores, como o carrapato, que transmite doenças como a doença de lyme (mais rara), babesiose, erliquiose e a febre maculosa. Aliás, Camila adverte que também entra no processo de informar a população que tais doenças são zoonoses. “A erliquiose, por exemplo, doença de alta frequência nos cães pode se tornar zoonótica na presença do vetor em pessoas imunocrompometidas e por isso o alerta constante é essencial”, enfatiza. 
A pesquisa Radar Vet da Comissão de Animais de Companhia do Sindan (Comac) de 2018, mostrou que as ocorrências mais comuns em cães são as doenças gastrointestinais (43%) e as doenças transmitidas por vetores (carrapatos), como as hemoparasitoses (babesiose e erliquiose) com 34% das ocorrências. Segundo dados do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), entre 2019 e 2023, houve um aumento de cerca de 35% nos casos de erliquiose em cães em território nacional, com prevalência maior em estados do Sudeste e Nordeste. “Erliquiose é uma doença causada por bactérias do gênero Ehrlichia, que parasitam células sanguíneas como leucócitos, eritrócitos, células endoteliais e plaquetas. A transmissão ocorre pela picada do carrapato marrom (Rhipicephalus sanguineus), que se contamina com a bactéria após o repasto sanguíneo em cães com alta parasitemia, o que comumente ocorre na fase aguda da doença. O período de incubação varia entre 8 e 20 dias, e os sinais clínicos observados são variados, incluindo febre, depressão, dispneia, anorexia, linfoadenopatia, anemia, leucopenia, trombocitopenia, hipergamaglobulinemia, petéquias, equimoses, uveíte anterior e opacidade da córnea. Quando o tratamento não resulta na eliminação total do organismo, podem ocorrer recidivas posteriores”, detalha Dr. Frederico. 
A febre maculosa também exige vigilância: de 2007 a 2021, foram notificados 36.497 casos de febre maculosa no Brasil. “Causada por uma bactéria transmitida quando o carrapato infectados e alimenta do sangue de hospedeiros como animais silvestres, domésticos e humanos, a febre maculosa é uma zoonose de grande importância no Brasil”, reforça Dr. Claudio. 
Já a dirofilariose, também chamada de verme do coração, é mais comum em áreas litorâneas no Brasil e pode ser transmitida entre cães e gatos e para o homem por mosquitos como o Aedes aegypti, Culex spp. e Anopheles spp. 
Os gatos, embora sejam mais resistentes, também são hospedeiros intermediários do parasito. Dr. Frederico alerta sobre os perigos da dirofilariose canina, “uma doença potencialmente fatal que tem como agente etiológico o parasita nematoide Dirofilaria immitis encontrado em mais de 30 espécies pelo mundo inteiro, incluindo os humanos”. “Os canídeos são seus hospedeiros definitivos habituais. O parasita é responsável por severas patologias cardiorrespiratórias. Várias espécies de culicídeos podem carregar larvas infectantes e, ao picarem cães para se alimentarem de sangue, transmitem a infecção. Lesões severas podem se desenvolver antes mesmo que os sinais sejam percebidos pelos proprietários dos animais”, descreve. 
Não podemos esquecer das pulgas que podem ser vetores também, de doenças como a bartonelose (transmitida pela picada da pulga infectada). Assim, garantir que o controle de vetores no ambiente do tutor e do pet, mantendo-o livre de ecto parasitos é importante para todos. “É fundamental que o médico-veterinário avalie periodicamente o paciente e, quando houver suspeita de alguma dessas doenças, que realize exames clínico-laboratoriais e métodos complementares para o diagnóstico precoce e eventual tratamento conforme o agente etiológico envolvido”, alerta Dr. Claudio.

“Há a necessidade de conscientização dos tutores em relação ao ciclo biológico dos parasitos, meios de infecção, sinais clínicos, controle e combate às afecções causadas por vermes e protozoários, assim como suas características zoonóticas” diz Ana Elisa de Pádua Rosa, Gerente de Trade Marketing Agener União

 

PREVENÇÃO
Medidas preventivas devem ser estimuladas e preconizadas pelos médicos-veterinários em consultas de rotina. “A vacinação, contra doenças como a raiva em cães e gatos e em alguns animais de produção e medidas de controle parasitário e de proteção contra vetores, como a vermifugação e o uso de repelentes, contribuem para prevenir e controlar a transmissão de algumas zoonoses”, aponta Francisco. 
“O veterinário é de suma importância na promoção da Saúde Única e, nesse sentido, deve recomendar a utilização de métodos preventivos para cães e gatos. Periodicamente, orientar quanto ao manejo e cuidados adequados, além da responsabilidade em diagnosticar e tratar a infecção animal sempre que necessário com princípio(s) ativo(s) específico(s) conforme o(s) patógeno(s) envolvido(s)”, opina Claudio. 
“O médico-veterinário, como consultor, tem o papel crucial na educação e informação da população sobre quais são os riscos e consequências de não realizar o manejo correto, prevenção e cuidados com saúde de seus animais de estimação e dos ambientes onde eles vivem”, finaliza Ana Elisa.